03 Outubro 2012
O presidente venezuelano Hugo Chávez pretende "contribuir para a preservação da vida no planeta e para o resgate da espécie humana". No domingo, 7 de outubro, ele enfrentará nas urnas Henrique Capriles Radonski, o candidato da oposição. Este zomba do programa ambiental do chefe do Estado: "O presidente quer salvar o planeta, mas eu proponho melhorar a vida de meus compatriotas", ele repete inúmeras vezes.
A reportagem é de Marie Delcas, publicada no Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 02-10-2012.
O programa do presidente promete "construir e desenvolver um novo modelo produtivo eco-socialista, baseado em uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza, que garanta o uso racional, ótimo e sustentável dos recursos naturais". O objetivo é ambicioso, para um país petroleiro. Segundo certas estimativas, a Venezuela seria detentora das maiores reservas mundiais de petróleo. Em matéria de reservas de gás, ela chega em oitavo lugar.
"Hugo Chávez fundamentou sua política anti-neoliberal e social na distribuição dos recursos obtidos com o petróleo", lembra Maria Pilar Garcia-Guadilla, professora de ecologia política na Universidade Simon Bolívar. "Nenhum dos dois candidatos questiona o modelo de desenvolvimento baseado na extração dos hidrocarbonetos e na distribuição da receita petroleira. A diferença entre eles está na forma da gestão dessa receita".
Diminuição da biodiversidade
A indústria petroleira é poluente. Os carros também. Nesse país, onde o litro de gasolina custa dois centavos de euro (R$ 0,05), a economia de energia não é prioridade. Segundo a Câmara venezuelana de fabricantes de produtos automotivos, o país possui 4 milhões de veículos (65% dos quais são de marca americana). Quase 40% dos veículos em atividade têm menos de cinco anos.
Segundo o Centro de análises de informação sobre o dióxido de carbono, a Venezuela emite anualmente 170 milhões de toneladas métricas de CO2, ou seja, nem 0,56% do total mundial. Mas essas emissões representam, de qualquer forma, 6 toneladas por habitante, ou seja, mais que a média chinesa (5,3 toneladas). O setor energético é responsável por 95% do total das emissões, sendo metade para a indústria petroleira e as usinas termoelétricas.
Metade do país é coberto por florestas, o que permite absorver uma grande quantidade de CO2. Mas no ranking mundial do desmatamento, o país chega em décimo lugar, com um índice anual de 0,6%.
Um estudo conduzido pela rede ARA, que reúne cerca de vinte organizações ambientalistas, faz um balanço alarmante da situação ambiental: diminuição da biodiversidade, aumento da poluição por mercúrio devido à expansão da extração de minérios, má gestão do lixo doméstico e industrial, deterioração das zonas protegidas... a lista dos problemas é extensa.
A aprovação de uma lei penal em maio para punir os crimes contra o meio ambiente parece amplamente insuficiente. "Para além do discurso político, a velha dicotomia entre desenvolvimento e meio ambiente se mantém", observa o estudo.
A Constituição de 1999, votada pouco após Chávez assumir o poder, havia suscitado muitas esperanças. "Ela faz do meio ambiente um direito fundamental e dá um instrumento jurídico de peso às comunidades indígenas, aos ambientalistas e aos defensores dos direitos humanos. Mas nem a imprensa de oposição, adepta das teorias do neoliberalismo, nem a imprensa oficial divulgam essas lutas. Diferentemente do Equador e da Bolívia, o meio ambiente não é debatido na Venezuela", ressalta Maria Pilar Garcia-Guadilla.
Assim como nos países vizinhos, a expansão do setor minerador e de "megaprojetos" energéticos ou rodoviários tem causado conflitos com as populações locais, muitas vezes indígenas. "A integração latino-americana enaltecida por Chávez depende em grande parte desses megaprojetos, vistos como a condição do desenvolvimento regional e da independência em relação aos Estados Unidos", diz Garcia-Guadilla.
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Meio ambiente é uma preocupação pouco presente entre os venezuelanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU