Por: André | 05 Setembro 2012
Em entrevista ao Corriere della Sera de 4 de setembro, o Pe. Adolfo Nicolás, Prepósito Geral dos Jesuítas, fala da espiritualidade de seu companheiro jesuíta, o cardeal Martini.
A reportagem é de Frédéric Mounier e está publicada no jornal francês La Croix, 04-09-2012. A tradução é do Cepat.
“Eu sempre me senti muito próximo da maneira de pensar do cardeal Martini porque eu penso que ela corresponde perfeitamente à missão inaciana”. Em poucas palavras, o assim chamado “papa negro”, de 76 anos, responsável pelos 18.500 jesuítas presentes em 112 países, afirma sua proximidade espiritual com o ex-arcebispo de Milão.
“A liberdade inaciana não é uma contestação”
Para o Pe. Nicolás, que raramente dá entrevistas, “Santo Inácio era um homem livre. E até nisso Carlo Maria Martini foi um de seus filhos”. Em que sentido? “A liberdade, que vem quando se alguém se coloca à escuta do Espírito, é um princípio central da espiritualidade inaciana.” E prossegue: “Encontrar Deus em todas as coisas: quando chegamos a esta liberdade, a visão de mundo é totalmente diferente. Se o cardeal Martini tinha esta aproximação positiva da realidade, é porque ele cultivava esse olhar: ele encontrou Deus em todas as coisas, em todas as pessoas. Isso explica seu grande respeito pelos crentes, assim como pelos não crentes, independente de suas origens”.
Às vésperas do Sínodo para a Nova Evangelização, o Pe. Nicolás “espera que nesta ocasião possamos ser tocados por este princípio: cada um carrega uma centelha de Deus que nos faz encontrar”.
Àqueles que definiram o cardeal Martini como um contestador, o sucessor de Santo Inácio responde: “A liberdade inaciana não é uma contestação; ela é um aprofundamento da fé”. Recordando que “no tempo de Santo Inácio a Igreja era bem pior!”, o Pe. Nicolás explica: “Inácio soube alcançar a profundidade na busca humana de Deus, da verdade, de tudo o que tem sentido. E é esta profundidade que dá liberdade, que faz falar com uma tal liberdade sobre muitas coisas que os outros se sentem obrigados a encarar”.
“Nós fomos tímidos na busca de Deus”
Falando sobre o papel de um guia espiritual, o Pe. Nicolás recorda: “Não é o guia que decide! Eu espero que a nova evangelização comece com esta busca de Deus através das pessoas, antes de dizer o que eu quero, ou melhor, o que eu penso que Deus deve fazer”.
Debruçando-se sobre sua experiência de 48 anos na Ásia, o Pe. Nicolás reconhece: “Eu penso que, talvez, nós, os missionários, tenhamos sido fracos”. E se explica: “Nós fomos tímidos na busca de Deus, e sua obra, nas outras culturas e nas outras pessoas. Trazer esta riqueza de Deus à Igreja universal é sempre um desafio. Bem antes da chegada dos missionários, Deus trabalhava entre os crentes de outros tempos, e entre os não crentes”. E se pergunta: “Existe em todas as culturas uma profundidade que hoje corremos o risco de perder porque nós buscamos uma resposta para o que está acontecendo na Europa. Mas nós não vamos encontrá-la; vamos encontrar algo de diferente, porque Deus é um Deus que surpreende, não é pré-definido, que não faz as coisas como nós pensamos que devem ser”. E conclui: “Eu creio que o cardeal Martini tinha essa abertura para a surpresa”.
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“O cardeal Martini tinha uma abertura ao Deus que surpreende”, diz Adolfo Nicolás - Instituto Humanitas Unisinos - IHU