01 Setembro 2012
O anúncio do falecimento foi dado pelo cardeal Scola. O neurologista Gianni Pezzoli estava tratando o arcebispo emérito de Milão há anos: "Ele permaneceu lúcido até as últimas horas". O funeral será na Catedral de Milão na próxima segunda-feira.
A reportagem é do sítio do jornal La Repubblica, 31-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Carlo Maria Martini morreu no Aloisianum, o instituto filosófico dos jesuítas em Gallarate, na Itália, que havia se tornado a casa do arcebispo emérito de Milão desde 2008, quando ele voltou da Terra Santa para tratar o Parkinson.
O cardeal, nascido em Turim em 1927 e que justamente neste ano havia festejado os 60 anos de sacerdócio, nunca escondeu os tormentos da doença que o atingira assim como com João Paulo II, mas sempre a enfrentou com coragem até o fim. Uma coragem, um "ânimo sereno" e um "confiante abandono à vontade do Senhor" reconhecidos pelo Papa Bento XVI na mensagem de condolências dirigida ao arcebispo de Milão, Angelo Scola, aos familiares e a toda a diocese pela perda de um homem ou, melhor, de "um querido irmão que serviu generosamente ao Evangelho e à Igreja".
O último adeus na Catedral
Milão dará o último adeus ao cardeal no velório que será realizado no sábado, a partir das 12h, na catedral, onde o féretro será recebido por todos os bispos da Lombardia, enquanto o funeral será concelebrada pelo arcebispo Scola na catedral na segunda-feira à tarde: também estará presente o primeiro-ministro italiano Mario Monti.
Ainda na segunda-feira, a prefeitura de Milão decidiu proclamar um dia de luto na cidade e convidou os milaneses a observar um minuto de silêncio às 16h, quando iniciará a função. "Carlo Maria Martini – explicou o prefeito Giuliano Pisapia – iluminou o caminho de toda a cidade, não só de uma parte. Por isso, ainda mais hoje, Milão chora pelo 'seu' arcebispo".
No sábado, em sinal de luto, as visitas à catedral e aos terraços estarão suspensos. Às 8h30, será celebrada na catedral uma missa de sufrágio aberta a todos os fiéis. Às 9h, a catedral será fechada para reabrir às 12h, com a chegada dos restos mortais.
O velório estará aberto também à noite. O corpo irá chegar à catedral atravessando a praça e, depois de uma breve pausa na praça, será deposto na nave central da catedral, diante do altar maior. Para os fiéis será possível prestar uma última homenagem ao corpo a partir das 12h de sábado e durante toda a tarde e noite, e no domingo e segunda-feira até às 11h30.
A catedral permanecerá aberta para a ocasião também na noite de sábado, em uma vigília de orações e cantos prolongada e conduzida. Durante as missas de sábado às 17h; domingo às 7h, 8h, 9h30, 11h, 12h30, 17h30 e durante as vésperas das 16h e o terço das 17h, será possível entrar na catedral apenas para a celebração.
Irmã ao lado
Na quinta-feira, as condições de Martini se agravaram de tal forma que o cardeal Scola havia convidado todos os fiéis a rezar por ele. Ao lado da cama de Martini haviam chegado a sua irmã Maris; os sobrinhos Giulia e Giovanni; padre Pietro Colzani; o superior do Aloisianum, Cesare Bosatra; o arcebispo de Camerino, Francesco Giovanni Brugnaro. Após uma última crise, que começou em meados de agosto, o cardeal Martini não conseguia mais engolir alimentos sólidos ou líquidos. Mas permaneceu lúcido até o fim e recusou qualquer forma de obstinação terapêutica", explicara, poucas horas antes da morte, o neurologista Gianni Pezzoli, que há anos havia tratado o arcebispo emérito de Milão.
O cardeal, que havia sido arcebispo de Milão de 1979 a 2002, há anos sofria de Parkinson, uma doença que o havia obrigado a reduzir cada vez mais as suas aparições públicas.
"O cardeal Martini sempre declarou a sua doença", lembra Pezzoli, responsável do Centro para a Doença de Parkinson e os Distúrbios do Movimento dos Institutos Clínicos de Aperfeiçoamento (ICP) de Milão. O neurologista, cofundador e presidente da Associação Italiana dos Parkinsoniani (AIP), acompanhou o arcebispo emérito "nos últimos dez anos" e o viu "também esta manhã".
Em 2002, o cardeal Martini havia optado por viver em Jerusalém e voltou para a Itália em 2008, "por complicações não necessariamente relacionadas à sua patologia. Deve ser considerada também a idade cronológica", indica Pezzoli. "Até o seu retorno à Itália, as suas condições permaneceram discretas, mas o cardeal tentou viver uma vida normal até o fim, praticamente até a última crise".
"O cardeal não era mais capaz de engolir nada – continua o neurologista – e foi submetido a terapia parenteral hidratante. Mas não quis nenhum outro auxílio: nem a sonda gástrica, o tubo de alimentação artificial que é inserido no abdômen, nem a sonda nasogástrica. Ele permaneceu lúcido até as últimas horas e recusou tudo o que considerava como obstinação terapêutica".
A casa de Gallarate
A estrutura que hospedou o cardeal Martini nos últimos anos de vida é o Aloisianum, um importante instituto de estudos filosóficos gerido pelos jesuítas, em que o sacerdote havia estudado no passado. O último piso do complexo está equipado para hospedar jesuítas idosos ou com necessidade de cuidados. O nome da estrutura deriva de Aloisius (Luís, em latim) e é dedicada a São Luís Gonzaga.
O instituto nasceu em 1839 para hospedar um seminário para aspirantes jesuítas, graças a uma generosa doação da condessa Rosa Piantanida Bassetti Ottolini. Ele se localiza na periferia de Gallarate, no distrito de Ronchi, antigamente de propriedade dos Bassetti. O núcleo central do Aloisianum é constituído pelo complexo universitário, com cedros do Líbano à frente e a biblioteca, a sala de conferências e o refeitório ao lado. A oeste do complexo, há uma horta e um pomar. Uma fazenda está ligada ao complexo e serve toda a região com produtos hortifrutigranjeiros.
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Morreu Martini, o bispo do diálogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU