28 Agosto 2012
Enquanto os estudantes chilenos retomam sua mobilização pela gratuidade do ensino, a coalizão de centro-esquerda, que garantiu a transição democrática no Chile e governou durante vinte anos, vem encontrando dificuldades para se recuperar de sua derrota na eleição presidencial de 2010. Apesar dos sinais de que o governo do presidente Sebastián Piñera (direita) vem perdendo fôlego, reprovado pela maioria de chilenos, a oposição se apresentará dividida nas eleições municipais de 28 de outubro.
A reportagem é de Paulo A. Paranagua, jornalista, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 25-08-2012.
Essa votação será a primeira desde a instituição da inscrição automática nas listas eleitorais e do voto facultativo. Antes, o voto obrigatório afastava os jovens das listas e da vida política. Mas a irrupção do movimento estudantil é a principal novidade dos últimos anos. Como votarão os 4,5 milhões de chilenos que não constavam antes nas listas? A radicalização dos estudantes de colégios e universidades se refletirá nas urnas? Será que ela mudará a configuração das coisas ou as relações de força?
A eleição de outubro envolve 345 prefeituras e 2.130 vagas no conselho municipal. A Concertação Democrática, coalizão de centro-esquerda, apresenta candidatos únicos para o posto de prefeito de 336 municipalidades. Mas a coalizão se dividiu na corrida pelos conselhos municipais.
De um lado, o Partido Socialista (PS) e a Democracia-Cristã (PDC, centro), que mantêm o rótulo Concertação Democrática. Do outro, o Partido pela Democracia (PPD, esquerda) e o Partido Radical Socialdemocrata (PRSD), apoiados pelo Partido Comunista.
Já a direita apresenta candidaturas únicas da aliança entre a Renovação Nacional (RN) e a União Democrata Independente (UDI), os partidos no poder.
A divisão da centro-esquerda é um mau presságio, uma vez que ela lembra um desagradável precedente. Em 2008, a unidade já havia se rompido pelos pequenos cálculos municipais. A Concertação Democrática (PS, PDC) foi desafiada pela Concertação Progressista (PPD, PRSD). Longe de evitar o desgaste do governo, esse eleitoralismo de pouca visão precedeu a derrota nas presidenciais de 2010.
Todo mundo em Santiago do Chile já está pensando na eleição presidencial de 2013. Boa parte da esquerda pretende voltar ao poder com a ex-presidente Michelle Bachelet. Segundo uma pesquisa divulgada na última quarta-feira (22), ela teria 46% das intenções de voto, sem rival na centro-esquerda e 32 pontos à frente do ministro Laurence Golborne, melhor candidato da direita.
A volta de Bachelet ao cenário chileno – atualmente ela comanda a ONU Mulheres – evitaria o questionamento do projeto da centro-esquerda, que não contava com a crise da educação nem com a contestação do modelo energético.
A aposta de “MEO”
A eleição municipal é fundamental para o jovem socialista dissidente Marco Enríquez-Ominami (o “MEO”), cuja candidatura à presidência havia conquistado 20% dos votos no primeiro turno da votação, em dezembro de 2009, para surpresa geral.
Conseguirá ele transformar esse avanço em uma presença duradoura? O Partido Progressista (PRO) de “MEO” apresenta mais de 100 candidatos ao posto de prefeito e mil candidaturas aos conselhos municipais de 206 comunas. O PRO se aliou ao Partido Ecologista Verde, aos socialistas “allendistas” (em referência ao ex-presidente Salvador Allende, derrubado pelo exército em 1973) e aos índios Mapuche do movimento Wallmapuwen. Esse novo partido tenta reunir representantes das mobilizações contra as barragens na Patagônia e os Mapuche, que contestaram, cada um de seu lado, a política do governo Piñera.
Pela primeira vez no Chile, homens e mulheres depositarão suas cédulas nas mesmas urnas, em vez de fazer fila separadamente. A modernidade na América Latina muitas vezes é marcada por arcaísmos.
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Esquerda chilena aposta em volta da ex-presidente Michelle Bachelet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU