27 Agosto 2012
"Se, em janeiro de 2011, eu escrevesse uma coluna prevendo que a presidente Dilma Rousseff e seu ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, iriam fazer uma parceria altamente benéfica ao País com uma multinacional norte-americana, detentora de avançada tecnologia de mobilidade, eu seria chamado de louco, até pelos esquerdistas mais flexíveis", escreve Ethevaldo Siqueira, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 26-08-2012.
Eis a continuação do artigo.
E não digo isso hoje com nenhuma ironia. Essa parceria está sendo formalizada entre o Brasil e a Qualcomm, exatamente a corporação de alta tecnologia baseada em San Diego que está entre as mais avançadas em computação móvel no mundo.
O Brasil está iniciando um projeto que visa à universalização da internet de banda larga e ao desenvolvimento tecnológico da indústria brasileira. Com a mesma independência com que temos criticado a política de comunicações do País nos últimos anos, não temos agora nenhum constrangimento em aplaudir a parceria anunciada.
Tomara que tudo se realize exatamente como anunciou o ministro das Comunicações, em sua palestra no evento internacional Innovation Qualcomm, realizado em São Paulo, na semana passada. Os cínicos diriam: melhor do que isso só se for verdade. Os ingleses, com seu senso de humor, talvez usassem outra frase bem-humorada: it is too good to be true.
Caminho certo
Em minha opinião, Dilma Rousseff e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, estão no caminho certo. É claro que a banda larga móvel já despertava grande interesse da presidente da República e do ministro das Comunicações. O que surpreende positivamente agora é caminho delineado por Paulo Bernardo e aprovado por Dilma, após o encontro com a equipe da Qualcomm, liderada por seu presidente mundial, Paul Jacobs, realizado na semana passada em Brasília.
Segundo o próprio ministro, a audiência, prevista inicialmente para 30 minutos, durou uma hora e meia. A presidente fez muitas perguntas a Jacobs, para saber dos últimos avanços da banda larga móvel, em especial os proporcionados pela quarta geração do celular (4G). Dilma chegou até a sugerir a visita de uma comitiva de empresários da indústria brasileira e do ministro aos laboratórios da Qualcomm, em San Diego, para conhecer de perto os avanços tecnológicos ligados à computação móvel e, em especial, ao desenvolvimento da 4G.
Segundo Paulo Bernardo, a presidente quer acelerar o processo de atualização tecnológica nessa área e está consciente da necessidade de remover as pesadas barreiras fiscais que oneram produtos e serviços de telecomunicações e de internet no Brasil. Além disso, Dilma Rousseff tem interesse em que o desenvolvimento industrial e os avanços tecnológicos brasileiros sejam concretizados, até se possível com atalhos que reduzam o tempo de maturação e evitem que o Brasil tenha de refazer o mesmo longo caminho trilhado por outros países.
Vantagens
Na verdade, o Brasil só pode ganhar com uma parceria como a anunciada e que está em fase de conclusão com a Qualcomm - bem como com outras alianças futuras com empresas de alta tecnologia dispostas a investir em pesquisa, em transferir tecnologia e implantar sistemas avançados no País. O objetivo central dessa cooperação visa à universalização da internet de banda larga, com a maior participação possível de tecnologia absorvida ou desenvolvida no Brasil.
O ministro relembrou que a expansão da rede de telefonia móvel em 2011 foi superior a 40 milhões de celulares, ou a média de 3,3 milhões de novos aparelhos por mês, e que a banda larga móvel teve uma expansão de 100%. "Achamos, no entanto, que ainda há certo atraso tecnológico no País nessa área."
Para Paulo Bernardo, a nova parceria é muito positiva para o Brasil, em especial porque a Qualcomm é uma das empresas mais avançadas na produção de chipsets e tecnologias de mobilidade do mundo e também porque, com essa parceria, quatro grupos industriais brasileiros serão inicialmente beneficiados.
Paul Jacobs anunciou que a empresa vai desenvolver chips que funcionem em todas as faixas de 4G que o Brasil planeja adotar na quarta geração do celular, entre as quais as faixas leiloadas este ano, de 2,5 gigahertz (GHz) e de 450 megahertz (MHz), bem como a de 700 MHz, a ser oferecida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no ano que vem. O propósito da Qualcomm é garantir escala mundial para os equipamentos produzidos aqui.
Em abril, a empresa já havia assinado memorando de entendimento com o governo brasileiro para instalar um centro de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, que, segundo Jacobs, começará a operar no próximo ano, com cerca de 100 pessoas. A primeira empresa a participar dessa parceria com o centro é a CCE.
Rumo à 4G
A palestra de Paul Jacobs mostrou as grandes tendências da comunicação e da computação móvel nos próximos anos. Entre os avanços já conquistados está a multiplicação por mil da capacidade das células atuais da terceira geração (3G), com a tecnologia de cancelamento de interferência da utilização das frequências dentro dos limites da mesma estação radiobase.
Para a Qualcomm, com a 4G, o futuro próximo será marcado por uma explosão do uso da nuvem, da predominância dos aplicativos e da comunicação de dados sobre todos os serviços atuais da 3G.
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