15 Agosto 2012
As investigações continuam. E não são apenas os jornalistas fantasiosos demais que dizem que, no Vaticano, há ciúmes, inveja e lutas internas.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 14-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que é certo é que o ajudante de quarto Paolo Gabriele foi e até hoje é o único imputado pelo furto dos documentos confidenciais provenientes da secretaria pessoal do papa e divulgados no início do ano antes pelo programa Gli Intoccabili, no canal La7, e depois pelo jornal Il Fatto Quotidiano e, por fim, pelo livro Sua Santità. Le carte segrete di Benedetto XVI, escrito por Gianluigi Nuzzi.
Mas o que foi encerrado nessa segunda-feira, 13, com a sentença de envio a julgamento do mordomo papal e de um especialista em informática da Secretaria de Estado (acusado apenas de favorecimento e não considerado como "cúmplice" de Gabriele) é apenas o primeiro capítulo desse intrincado episódio.
A magistratura vaticana mantém abertas, com relação ao ajudante de quarto e a outros possíveis cúmplices, hipóteses de crime mais graves, de delitos contra os poderes do Estado ao vilipêndio das instituições do Estado. Não se descarta, portanto, que, depois das férias de verão europeias, surjam novas responsabilidades.
O input de Bento XVI foi o de prosseguir com a máxima transparência. Na acusação e na sentença de envio a julgamento, os nomes das pessoas ouvidas, embora envolvidas de várias formas, foram criptografados com siglas. Isso significa que, contra elas, não foram movidas acusações específicas nem foram encontradas repercussões até o momento, como aconteceu, ao invés, com o técnico de informática Claudio Sciarpelletti, empregado leigo que desempenhou um papel marginal no caso.
Nestas horas, muitos estão se perguntando quem são "W." e "X.", duas pessoas citadas na sentença, que enviaram cartas a Gabriele através de Sciarpelletti. Também há interrogações sobre a identidade do atual diretor espiritual de Gabriele, que recebeu cópias dos documentos confidenciais e aconselhou o mordomo a não admitir as suas responsabilidades, senão apenas diante do papa.
Nenhuma das siglas criptografadas, contudo, parecia ocultar os nomes do ex-secretário de Ratzinger, o bispo Josef Clemens, do cardeal Paolo Sardi e da professora Ingrid Stampa, citados nas últimas semanas pelo jornal Die Welt como hipotéticos mandantes. E não se pode deduzir nada a propósito de possíveis inspiradores ou mandantes morais.
Nos dois documentos publicados nessa segunda-feira, parece reduzido ao essencial o espaço reservado às motivações, às razões que levaram Paolo Gabriele a entregar as cartas a Nuzzi para provocar um "choque midiático". O ajudante de quarto, que mantinha muitas relações do outro lado do Tibre e a quem se dirigiam muitas pessoas com a esperança de reservadamente fazer chegar indicações in alto loco, disse considerar que o papa não estava bem informado sobre o que acontecia no Vaticano: chama a atenção, relendo o livro Sua Santità, o fato de que muitos dos documentos estão ligados a questões financeiras.
É provável que, durante os longos interrogatórios e os testemunhos de outras pessoas ouvidas, tenha-se dito algo a mais sobre as razões que o levaram a fazer o que fez, surpreendendo muito aqueles que o conheciam e o estimavam, como comprovam diversas passagens da sentença e o próprio testemunho do secretário do papa, Georg Gänswein.
As investigações continuam, portanto, para dissipar qualquer dúvida possível, mas poderíamos ter que nos resignar a reconhecer que o "Vatileaks" iniciou e irá terminar com Gabriele. Algo muito diferente de eventuais responsabilidades diretas e examinadas é o ambiente em que o episódio pode ter amadurecido: sobre isso, mais do que a investigação judicial, poderia ser reveladora a investigação da comissão cardinalícia.
Que do outro lado do Tibre haja ciúmes e se verifiquem tensões e algumas lutas internas certamente não é uma invenção dos jornalistas à la Dan Brown.
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''O Vatileaks não foi uma invenção à la Dan Brown'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU