25 Julho 2012
"Ninguém se diverte fazendo experiências com animais. E se alguém tem alternativas válidas, que se apresente. Certamente, não podemos administrar medicamentos aos seres humanos sem testes preliminares". Silvio Garattini, diretor do Instituto de Pesquisas Farmacológicas Mario Negri, escolhe o caminho da provocação e compara o uso das cobaias às democracia: "Pode ser um sistema cheio de defeitos, mas infelizmente não temos outro melhor".
A reportagem é de Elena Dusi, publicada no jornal La Repubblica, 24-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
São sugeridos métodos alternativos como a simulação em computador ou a experimentação dos medicamentos com células in vitro.
O computador elabora apenas os dados que inserimos nele. Mas, se estamos lidando com um medicamento novo, devemos descobrir seus eventuais efeitos inesperados. O uso de células in vitro ocorre nas primeiras fases dos testes dos medicamentos e seguramente é um método válido. Mas, infelizmente, depois, ação da nova molécula também deve ser observada dentro de um organismo vivo. A proveta, sozinha, nos dá informações muito distantes da realidade. Seria muito arriscado tomar um novo medicamento, observar os seus efeitos apenas sobre uma cultura celular e depois administrá-lo diretamente no ser humano. É isso que queremos?
Quais são as terapias que não teríamos hoje sem as cobaias?
Todos os medicamentos passaram por uma fase de testes em animais antes de serem aprovados para o ser humano. Se quisermos citar alguns exemplos, os medicamentos contra o HIV não existiriam sem os estudos com macacos, nem teríamos comprimidos para diminuir o colesterol sem os coelhos.
Os pesquisadores são acusados de desenvolver algumas práticas sem anestesia.
Não fazemos isso e não teríamos razão para fazê-lo. A experimentação com animais serve para preparar tratamentos para usar no ser humano. Os resultados devem ser o máximo possível sobreponíveis entre as duas espécies. A dor não só é inaceitável do ponto de vista ético, mas também tem o efeito de invalidar o teste. Um animal que sofre não nos permite avaliar se o tratamento que estamos testando pode ser um dia válido para o ser humano.
Que atenção deve ser tomada para limitar o sofrimento das cobaias?
O uso dos animais em laboratório é submetido a regras rígidas. Antes de iniciar uma experimentação, os pesquisadores devem entrar em contato com o comitê de ética do seu instituto, descrever em detalhes o projeto e esperar o parecer positivo. O mesmo procedimento deve ser repetido junto ao Ministério da Saúde. Nos laboratórios de animais, sempre deve ser estar presente um veterinário para controlar as condições de vida dos animais. Esses profissionais estão reunidos na Sociedade Italiana de Veterinários de Animais de Laboratório, que se ocupa de seguir as normas e elaborar as melhores práticas.
Apesar disso, não se pode negar que os animais sofrem.
Ninguém nega nem minimiza o porte desse sofrimento. Mas, para limitá-lo, tomamos todas as medidas disponíveis: anestesia para as intervenções cirúrgicas e medicação contra a dor. Para estudar o estado de uma doença, usamos sobre os sistemas os mesmos sistemas de imagem dos seres humanos: tomografia axial computadorizada e ressonâncias magnéticas adaptadas ao porte dos animais.
Usar cães, gatos ou macacos não cria desconforto para os próprios pesquisadores?
Noventa por cento das pesquisas na Itália, na realidade, utiliza camundongos e ratos. Os outros animais são muito raros entre nós. Mas também devemos agradecer a todos se muitas substâncias químicas nocivas foram bloqueadas antes de serem usadas nos seres humanos.
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A alternativa possível ao sofrimento animal? ''Renunciar a muitos medicamentos'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU