24 Julho 2012
James Lovelock está doando seu arquivo, equipamento e invenções – incluindo o detector de captura de elétrons que criou nos anos 60 e que o ajudou a registrar o nível de CFCs na atmosfera, coisa que mais tarde levou à descoberta do buraco na camada de ozônio – ao Museu de Ciência, a tempo de uma exibição em 2013 mostrando as condições de cientistas ao longo da história. Ele desmontou seu laboratório particular 10 anos atrás.
A reportagem é do jornal Zero Hora, 23-07-2012.
– Eu me tornei um pensador. Há muito mais a fazer. Para mim, a aposentadoria significa a morte.
A mudança, afirma, foi forçada. Três anos antes, recebeu uma conta de calefação durante o inverno no total de 6 mil libras. Sua idade faz com que ele aumente o aquecedor a toda potência em sua modesta residência e, com a deficiência do filho Tom, morando na casa ao lado, suas despesas com combustíveis bateram no teto. Úmidos invernos nos limites de Dartmoor estavam virando um fardo, então mais recentemente ele passou uma temporada em St. Louis, a terra natal de sua mulher.
A experiência alterou sua atitude a respeito da política e economia de energia. Tendo irritado muitos ambientalistas – para quem é uma espécie de guru – com seu antigo apoio da energia nuclear e seu ódio pelo poder eólico, ele agora se posiciona a favor da técnica controversa de se extrair gás natural do solo. Argumenta que, embora não seja perfeito, o processo produz menos CO2 do que a queima de carvão.
Lovelock diz que a consequência política do desastre de Fukushima, no Japão, significa que as chances de um ressurgimento da energia nuclear foram reduzidas.
– É bastante óbvio nos EUA que o gás natural precisa de quase nada para funcionar.
E prossegue:
– Nós nos atiramos nas energias renováveis sem pensar. As perspectivas são bem desagradáveis e ineficazes. O gás nos dá um tempo extra, e nós podemos aprender a nos adaptar.
A reação alemã a Fukushima, de desligar todas as plantas de energia nuclear até 2022, enraivece particularmente Lovelock:
– Eles (alemães) têm essa falha fatal de sempre ter uma queda por ideologias. Parece-me que as ideias verdes que eles escolheram agora podem ser tão prejudiciais quanto qualquer outra coisa.
Aninhado na poltrona, Lovelock limpa um farelo de biscoito dos lábios e põe sua xícara de chá na mesa:
– Não estou nem muito à esquerda nem muito à direita, mas detesto os democratas liberais.
Lovelock não perde a chance de criticar o movimento verde que por muito tempo rezou por sua cartilha. Segundo ele, se há uma causa de qualquer tipo, uma religião vai se formar ao redor.
– Acontece que a religião verde está agora tomando o lugar da religião cristã. Os verdes usam a culpa. Não dá para converter as pessoas dizendo que elas são culpadas por colocar CO2 no ar.
Ele demonstra igual desdém por aqueles que não aceitam a ciência da alteração climática.
– Eles têm uma religião só deles. Acreditam que o mundo estava certo antes dessas malditas pessoas (os verdes) chegarem e querem voltar para onde estavam 20 anos atrás. Isso é uma idiotice.
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Lovelock. Conceitos de energia irritam ambientalistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU