Vaticano barra menção a controle de natalidade

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21 Junho 2012

Há pelo menos 222 milhões de mulheres no mundo - um grupo maior que a população brasileira - que gostariam de usar anticoncepcionais mas não tem acesso a métodos contraceptivos modernos; muitas delas condenadas a ter filhos indesejados que aumentarão o contingente de pessoas em extrema pobreza hoje equivalente a um em cada sete habitantes do planeta. Dados como esse sustentaram uma disputa exótica na Rio+20, em que participou o Vaticano e saiu derrotado o Brasil.

A reportagem é Sergio Leo e publicada pelo jornal Valor, 21-06-2012.

Os dados mais recentes, como esse acima, sobre o crescimento populacional e situação mundial da chamada "saúde sexual e reprodutiva" serão divulgados hoje no Riocentro pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para mostrar como ações de educação sexual e acesso a anticoncepcionais e preservativos devem estar no meio do debate sobre "desenvolvimento sustentável". Aliados a países com forte influência da Igreja, como Costa Rica e Nicarágua, os representantes do Vaticano conseguiram tirar do documento final da Rio+20 qualquer referência a "saúde reprodutiva".

"É preciso olhar a dinâmica populacional e ver se é sustentável ou insustentável, o que tem a ver com a capacidade das mulheres, especialmente as jovens, de cuidar da própria vida", argumentou o diretor do UNFPA, Babatunde Ojotimehin, em entrevista ao Valor. Em países latinos como os do Mercosul e da Comunidade Andina, um dos problemas mais graves é a gravidez indesejada de menores de idade, que afeta a disponibilidade e qualidade da força de trabalho e do contingente de pessoas com nível adequado de educação escolar.

Ojotimehin defende que os governos facilitem o acesso dos jovens a métodos anticoncepcionais e de proteção contra doenças sexualmente transmissíveis, um tabu para a Igreja. Segundo a UNFPA, a população mundial pode chegar a 9 bilhões em 2015 e ultrapassar 10 bilhões até o fim do século ou superar os 10 bilhões já em meados do século e bater acima de 16 bilhões até 2099, dependendo de como o mundo lidar com o crescimento populacional. A diferença entre as estimativas é de apenas uma criança a mais para cada duas mulheres em idade reprodutiva.

Ao comentar a derrota dos que queriam ver uma menção à "saúde sexual e reprodutiva" na Rio+20, o diretor da UNFPA prefere notar que, no documento final da conferência, os chefes de Estado endossarão o parágrafo em que os governos se comprometem a cumprir a chamada "Agenda do Cairo", documento firmado em 1994 em que os governos se comprometeram, entre outras coisas, dar mais poder às mulheres para planejar número de filhos e tratar da saúde sexual e reprodutiva das adolescentes para reduzir a gravidez indesejada.

Os especialistas como Ojotimehin rejeitam o termo desgastado de "controle populacional" e preferem falar em "saúde sexual e reprodutiva" para enfatizar o caráter autônomo e voluntário da ação das mulheres em relação à própria maternidade.

Já a Igreja teme que se abra um caminho à legalização do aborto nos países, e, por isso, seus representantes atuaram intensamente na Rio+20, até obrigar o governo a usar linguagem cifrada para tratar do assunto.