21 Junho 2012
Uma reunião deve colocar frente a frente o padre de Bom Princípio, no Vale do Caí, Rio Grande do Sul, Pedro José Ritter, e a família de Cássio Maldaner, 13 anos. Definido pelo bispo de Montenegro, Dom Paulo de Conto, o encontro, nos próximos dias, pode servir para reduzir a polêmica criada depois que o pároco retirou o adolescente autista da fila da primeira comunhão, na missa do domingo passado.
A reportagem é de Álisson Coelho e publicada pelo jornal Zero Hora, 21-06-2012.
A repercussão do caso surpreendeu a Igreja. A partir das redes sociais, moradores da cidade chamaram atenção para o que classificaram como discriminação do pároco da Igreja Nossa Senhora da Purificação. Ontem, o padre reiterou que houve apenas um adiamento da eucaristia de Cássio. O adolescente deve reiniciar a catequese.
Para o bispo, pode ter acontecido uma falha no processo que, agora, deve ter o acompanhamento da Igreja – afirma Dom Paulo de Conto.
– A primeira comunhão dele é uma coisa que vai ser conversada e remarcada, ainda sem prazo – afirma.
Diretor da Apae de Feliz, frequentada por Cássio, Moisés Schmitz descreve o adolescente como “um menino tranquilo, sorridente e que interage bem com os colegas”.
– Ele entende o que se fala, tem boa percepção do que acontece. Deve notar a tristeza dos pais e perceber o abatimento deles – afirma Schmitz.
A tentativa de ensinar o significado dos ritos católicos não passou pela Apae. O diretor acredita que Cássio basicamente entende o que é explicado pela mãe, mas provavelmente não tem uma compreensão mais profunda.
Psicóloga e professora da Universidade Feevale, Anna Beatriz Guerra Mello defende que a família deve receber orientação, especialmente a mãe de Cássio, a dona de casa Maria Silvani Maldaner, 41 anos. Segundo ela, a relação entre a mãe e o filho autista tende a ser mais intensa, como se a criança fosse um prolongamento da mãe.
– É preciso que se faça uma mediação com a mãe. Quando ela diz que treinou o filho para aquele momento, ela inconscientemente nega um lugar de sujeito a ele – diz.
Especialista diz que ritual é de difícil compreensão
Especialista em autismo, o psicanalista Alfredo Jerusalinsky explica que há grandes diferenças entre os autistas. Mesmo assim, a compreensão da lógica simbólica, que inclui os ritos religiosos, é, em geral, bastante difícil:
– O que está em discussão é saber até que ponto os pais têm o direito de incluir o menino em um sistema no qual ele não compreende. O significado de atos religiosos normalmente é distante para os autistas.
Para ele, é difícil negar aos pais o desejo de incluir o filho em suas crenças. Muito mais do que uma questão médica, é preciso que a Igreja avalie o simbolismo que a participação de Cássio na primeira comunhão teria.
– É preciso pensar em como fica a família, que passa a vida tentando incluir o filho no seu modelo – afirma.
Presidente da regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o bispo Dom Zeno Hastenteufel diz que a orientação em casos como o de Cássio é a de avaliar o grau de entendimento da criança.
No caso de não haver compreensão do significado da eucaristia, dom Zeno explica que a criança é dispensada pela Igreja.
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Catequese de adolescente autista deve ser reiniciada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU