Mudar padrão de consumo é desafio

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

18 Junho 2012

A transição para uma economia sustentável esbarra em um ponto crítico: o fato de que o consumo, nos padrões atuais, continua a ser o motor de muitas economias, inclusive a do Brasil. Nos debates da Rio+20, esse é um tema crucial, que tem apoio de muitos países e blocos, como a União Europeia e os africanos, mas também enfrenta resistências de peso, como dos EUA. Há quem entenda que a posição americana tem cunho ideológico, segundo o qual há áreas em não é papel do Estado interferir.

A reportagem é de Francisco Góes e Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 18-06-2012.

O pano de fundo dessa discussão na Rio+20 é a inclusão, no documento-base da conferência, de compromissos para a futura implementação de um programa-marco de dez anos sobre padrões de consumo e de produção sustentáveis. A versão do texto negociado que está circulando indica que o cumprimento desse programa pelos países deve ter caráter voluntário e não obrigatório.

A iniciativa visa dar meios de capacitação e apoio a comunidades em níveis locais e regionais. "É possível ter uma moldura global sobre o assunto. Mas isso está sendo negociado", diz Charles Arden-Clarke, do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma).

Ele diz que a União Europeia (UE) tem um programa chamado "Switch Asia", de € 150 milhões, que vem ajudando 18 países asiáticos a mudar para padrões sustentáveis de produção e de consumo. Clarke lembra que o Brasil também tem uma estratégia nacional para produção e consumo sustentáveis. O caminho nessa direção pode ser mais demorado a partir de escolhas do governo, como a recente decisão de tentar estimular a economia reduzindo o IPI dos carros. "Isso não vai ajudar", disse

Uma pergunta nesse debate é como fazer para continuar a crescer a partir de um consumo menos focado em bens e mais em serviços. Esse movimento requer não só políticas governamentais, mas um trabalho de longo prazo de educação e de mudança de hábitos de consumo. "Isso pode levar a que uma pessoa opte por aproveitar a praia ao invés de usar um jet ski."

Ao incluir o tema na declaração da Rio+20, abre-se um caminho para continuar trabalhando. Esse processo exigirá produzir conhecimento científico que permita criar políticas ligadas a consumo sustentável. "É o início de um processo que, depois, terá que ser [mais bem] definido", diz Luis Flores, responsável de políticas e campanhas do escritório regional da ONG Consumers International, que reúne entidades de consumidores.

Flores entende que a Rio+20 discute a produção e o consumo com foco no impacto sobre o ambiente. A ideia é que, ao mudar padrões de consumo e produção, seja possível produzir bens de modo mais eficiente, com menos custos e maior rentabilidade para as empresas, poluindo menos e reduzindo o impacto ambiental.

"Queremos reforçar o vínculo do consumo sustentável, além do ambiente, em temas como saúde pública e crise financeira", diz Flores. Um exemplo está no efeito que o consumo excessivo de açúcar e de sal tem sobre a saúde humana e, por consequência, sobre os orçamentos públicos dos governos.

Essa mudança requer investimento, tecnologia e politicas que contemplem vários tipos de incentivos. "Consumo e produção são o centro do desenvolvimento sustentável", diz Arden-Clarke. "Não teremos desenvolvimento sustentável a menos que a gente mude para um novo padrão."

O economista Jeffrey Sachs, da Universidade de Columbia, de Nova York, chama a atenção para a urgência do assunto. "Se apenas expandirmos a economia fazendo o mesmo tipo de coisa, vamos ultrapassar limiares cruciais, criando um grande problema para a biodiversidade e para a humanidade."