29 Mai 2012
Dois homens atearam fogo a seus corpos domingo em Lhasa, nas primeiras imolações a ocorrerem na capital do Tibete desde que casos do tipo passaram a ser registrados, em março de 2011. Segundo a agência oficial de notícias Xinhua, um deles morreu e o outro está hospitalizado.
A reportagem é de Cláudia Trevisan e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 29-05-2012.
Nos últimos 14 meses, 36 tibetanos atearam fogo a seus corpos para protestar contra a política chinesa para a região e pedir a volta do dalai-lama ao país - pelo menos 25 deles morreram vítimas das queimaduras. Até domingo, quase todos os casos haviam sido registrados em áreas tibetanas da província central de Sichuan, que faz fronteira com o Tibete.
"Lhasa está em ebulição", escreveu em seu twitter Robert Barnett, especialista em Tibete da Universidade Columbia, de Nova York. A província vive sob estrita vigilância desde março de 2008, quando jovens tibetanos atacaram chineses da etnia han na capital, nos mais violentos conflitos étnicos da região em décadas.
Segundo a Radio Free Asia, Lhasa foi ocupada por policiais e forças paramilitares depois das imolações e a situação no local era "muito tensa". O governo chinês responsabiliza o dalai-lama e tibetanos no exílio pelos casos de pessoas que atearam fogo aos corpos nos últimos 14 meses.
"Eles são uma continuação de imolações em outras áreas tibetanas e esses atos têm por objetivo separar o Tibete da China", afirmou um dos líderes do Partido Comunista na região, Hao Peng, segundo a agência de notícias Xinhua.
As autoridades de Pequim qualificam o dalai-lama de separatista. Líder espiritual dos tibetanos, ele deixou a região em 1959, após um fracassado levante contra o domínio chinês na região e vive exilado na Índia. O dalai-lama nega as acusações e afirma que busca maior grau de autonomia para os tibetanos e o grupo é vítima de um "genocídio cultural" por parte dos chineses.
As imolações de domingo ocorreram no coração da parte tibetana de Lhasa, diante do templo Jokhang. Várias pessoas estavam no local para participar das celebrações chamadas de Saga Dawa, que para os tibetanos marcam o nascimento, a iluminação e a morte de Buda.
O tibetano que morreu no domingo foi identificado como Dorjee Tseten, de 19 anos, do Condado de Xiahe, na Província de Gansu, onde está o mosteiro Bhora. Em março, cerca de cem monges que vivem no local realizaram manifestação com bandeiras tibetanas e fotos do dalai-lama. A outra pessoa que ateou fogo ao corpo foi identificada apenas como Dargye. Ele é de Sichuan, o epicentro dos casos de imolações registrados desde março de 2011.
A maior parte das vítimas é formada por jovens monges, que abraçaram a tática como uma nova arma de protesto contra a presença da China na região. A intensificação da vigilância após os choques de 2008 reforçou os sentimentos de opressão entre os tibetanos, que se consideram vítimas de uma política de assimilação pelo chineses han, a etnia que representa 92% da população do país.
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Dupla de tibetanos se imola em Lhasa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU