Por: André | 19 Abril 2012
Ali os católicos aumentam numericamente a um ritmo assombroso, cada ano com muitos milhares de novos batizados adultos.
A reportagem é de Sandro Magister e está publicada no sítio italiano Chiesa, 18-04-2012. A tradução é do Cepat.
Os sete anos de pontificado de Bento XVI, completados hoje [19 de abril], estão associados, segundo a opinião habitual, a um declínio generalizado da Igreja.
Mas esta opinião se alimenta de um olhar sobre o cristianismo limitado ao velho continente, isto é, a uma Europa que, com efeito, sofre os golpes de uma crescente secularização.
De fato, basta elevar a vista que a realidade aparece diferente. No último século, a Igreja católica viveu a mais extraordinária fase de expansão missionária de sua história.
No começo do século XX, na África Subsaariana os católicos eram menos de dois milhões de fiéis. Cem anos depois eram 130 milhões.
Também em escala mundial o século XX foi para a Igreja um século de explosão numérica. De 266 milhões do século XIX, os católicos chegaram cem anos depois a ser 1,1 bilhão de fiéis. Multiplicaram-se por quatro, mais que o aumento paralelo da população mundial.
É uma expansão que não dá nenhum sinal de cansaço e que começou, no século XIX, precisamente quando na Europa a Igreja católica sofria ataques de uma cultura e de poderes fortemente hostis ao cristianismo.
Hoje, o quadro é análogo. Para a Igreja católica na Europa são anos magros, mas em outras regiões do mundo acontece o contrário.
A Coreia do Sul, por exemplo, é um país em que o catolicismo cresce a um ritmo assombroso, e precisamente entre os estratos mais ativos e “modernos” da população.
A reportagem que segue abaixo – publicada na Páscoa no Avvenire, o jornal da Conferência Episcopal da Itália – tem por autor um dos maiores especialistas das missões católicas do mundo. Ele mesmo missionário, o padre Piero Gheddo é hoje diretor, em Roma, do Escritório Histórico do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras.
É autor de numerosos livros e colaborou na redação da Encíclica Redemptoris Missio, de 1990, escrita por João Paulo II.
Seul, uma Páscoa sem precedentes, por Piero Gheddo
Talvez não haja outro país no mundo que no último meio século tenha registrado um crescimento sustentado como o da Coreia do Sul, também nas conversões para Cristo.
De 1960 até 2010, os habitantes passaram de 23 milhões para 48 milhões; o ingresso per capita, de 1.300 para 19.500 dólares; os cristãos, de 2% para 30%, dos quais quase 10-11% (cinco milhões e meio), são católicos; os sacerdotes coreanos eram 250, hoje são 5.000.
Estive pela primeira vez na Coreia do Sul em 1986 com o padre Pino Cazzaniga, missionário do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras no Japão, que fala o idioma coreano. Já era então uma Igreja com muitas conversões, e ainda hoje é assim.
Cada paróquia tem anualmente entre 200 a 400 batizados de convertidos do budismo. Convertem-se, sobretudo, os habitantes das cidades. Cada ano há 130-150 novos sacerdotes, um para cada 1.100 batizados. Em 2008, os católicos ultrapassaram os 10% de sulcoreanos e aumentam em cerca de 3% cada ano. Em 2009, o número dos batizados subiu para 157.000 e foram ordenados 149 sacerdotes, 21 a mais que em 2008. Mais de dois terços dos sacerdotes têm menos de 40 anos. “Nos últimos 10 anos a Igreja católica na Coreia passou de três milhões para cinco milhões de fiéis; em Seul somos 14%”, disse em uma entrevista o cardeal Nicholas Cheong Jin-suk, arcebispo de Seul.
A Igreja católica na Coreia do Sul é a que mais cresce na Ásia. Na Coreia há plena liberdade religiosa, e o secretário da Conferência Episcopal da Coreia, dom Simon E. Chen, me dizia que os coreanos manifestam uma forte propensão ao cristianismo, porque introduz a ideia de igualdade de todos os seres humanos criados pelo único Deus. Além disso, tanto católicos como protestantes participaram do movimento popular contra a ditadura militar, entre 1961 e 1987, ao passo que o confucionismo e o budismo promoviam a obediência à autoridade constituída. Mais ainda, o cristianismo é a religião de um Deus pessoa feito homem para nos salvar, ao passo que o chamanismo, o budismo e o confucionismo não são nem sequer religiões, mas sistemas de sabedoria humana e de vida. Por último, depois da guerra da Coreia entre o norte e o sul (1950-1953), graças à ajuda norte-americana, a Coreia do Sul conheceu um rapidíssimo desenvolvimento econômico, social e civil, convertendo-se totalmente em um país evoluído e também rico, no qual as antigas religiões não conseguem dar respostas aos problemas da vida moderna.
Característica da Igreja coreana é a ótima colaboração dos leigos na evangelização. A Igreja nasceu na Coreia a partir de alguns filósofos e diplomatas coreanos emigrados que se haviam convertido ao cristianismo em Pequim, e depois, ao retornar à pátria, propagaram a fé e se batizaram. De 1779 até 1836, quando chegaram os primeiros missionários franceses, os cristãos se multiplicaram, depois vieram as perseguições, mas permaneceu em pé o costume de colaborar com a Igreja. Atualmente, na Coreia, quem se converte sabe que deve comprometer-se com um dos grupos, associações ou movimentos paroquiais. Não é admitido o católico “passivo”. Em Seul, onde há mais de 200 paróquias, estive na paróquia dos salesianos de Kuro 3-Dong, em um ambiente de operários da periferia. Já em 1986, os católicos eram 9.537 sobre quase 150.000 habitantes, e os batismos de adultos convertidos eram quase 600 ao ano.
O pároco, o padre Paul Kim Bo Rok, me disse: “Na paróquia somos dois sacerdotes e quatro freiras, mas o verdadeiro trabalho missionário e de ensino religioso é feito pelos leigos, tanto nos oito cursos de catequese, em diferentes horas e para diferentes pessoas, como nos movimentos eclesiais muito ativos, especialmente a Legião de Maria. Cada ano celebramos na paróquia dois ou três ritos de batizados coletivos de adultos: cada vez os batizados são 200, 300 ou mais, depois de quase um ano de catecumenato. É pouco, mas não podemos conceder mais tempo à causa dos numerosos pedidos de ensino religioso. A formação profunda da fé se dá depois do batismo e é levada a cabo pelos movimentos eclesiais. Abraçar o cristianismo significa entrar em um grupo que te compromete a fundo, te dá normas de comportamento e de compromisso, te faz pagar as cotas de participação e te dá as orações para rezar todos os dias. Quando se entra na Igreja se aceita tudo isso. Este é o espírito coreano: ou aceitas e te comprometes ou não aceitas e vais embora”.
Segue dizendo o padre Paul: “Na Coreia a religião é algo sério e comprometido. É verdade que existe o perigo do formalismo, mas é toda a cultura do povo que se configura deste modo. Na realidade, o cristianismo é a força principal que influi na consciência pessoal, na liberdade da pessoa. Agora estão se apresentando os perigos opostos ao formalismo: o secularismo e o materialismo prático que afastam do espírito religioso. A Coreia do Sul conhece um prodigioso desenvolvimento econômico, desapareceu nela a pobreza de há 30 anos: hoje, existe para nós a passagem para a abundância e também da riqueza. Diante disso devemos reagir com uma formação cristã mais profunda e pessoal. Somos superados pela leva de conversões, por isso pedimos ao mundo cristão ao menos a ajuda da oração”.
Os batizados são administrados geralmente na Páscoa, Pentecostes e Natal. Na paróquia de Bang Rim Dong, em Kwangiù, na Páscoa de 1986 participei da Missa e do batizado de 114 adultos e seus filhos. Foi uma festa popular, com uma longa procissão de homens e mulheres, meninos e meninas vestidos de branco para receber o batismo. Houve cantos, músicas e muita alegria. Na Igreja católica coreana está em pleno desenvolvimento o programa “Evangelização 20-20”, isto é, o esforço de converter 20% dos sulcoreanos até 2020. Talvez não cheguemos a esse número, mas só o lançamento deste programa em 2008 já demonstra a fé entusiasta dos leigos batizados, porque os protagonistas são eles e todos sabem disso.
Na Páscoa deste ano, em 8 de abril, na Coreia e no mundo das missões, outras dezenas de milhares de catecúmenos ingressaram na Igreja. Não se deve ser pessimista em relação ao futuro do cristianismo e da Igreja católica. Nós, do velho continente, atravessamos um período de crise da nossa fé, mas nas jovens Igrejas a ação do Espírito Santo nos dá uma injeção de esperança e de alegria pascal.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Coreia do Sul, o tigre asiático da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU