28 Março 2012
Para aqueles que buscam uma introdução à filosofia mundial, o livro The quest for God and the good: World philosophy as a living experience, de Diana Lobel, é uma excelente opção. A estrutura o livro se dá em torno das visões bíblicas de Deus e da filosofia grega clássica.
A análise é de Tracy Sayuki Tiemeier, professor assistente de estudos teológicos da Loyola Marymount University, de Los Angeles. O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 21-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Nós não costumamos pensar em que medida as estruturas filosóficas guiam as nossas buscas religiosas e as nossas vidas cotidianas religiosas. Quem ou o que é Deus? Como Deus e o mundo estão relacionados? Qual é o bem? Como a nossa concepção humana do bem está relacionado com o Bem último? A felicidade, a bondade e a religiosidade coincidem? Qual é a relação entre a vida ativa (em busca do bem) e a vida contemplativa (refletir sobre Deus)?
Um novo livro sobre filosofia mundial de Diana Lobel, professora-associada de religião da Universidade de Boston, oferece uma introdução admirável a essas questões. Mais do que uma pesquisa, o livro de Lobel nos convida a repensar o nosso modo de vida em relação às "grandes" questões sobre Deus, o bem e uma vida com sentido. Em vez de estimular uma visão de Deus e do bem, o livro ressalta o valor de várias abordagens à busca das coisas últimas e incentiva a transformação que se vivencia na própria busca.
Lobel afirma que os "argumentos filosóficos são em essência exercícios espirituais cujo objetivo é transformar o eu". Assim, Lobel vê a busca de Deus e do bem como intrinsecamente valiosa como modo de vida, um modo de ser que nos orienta no mundo e nos forma como pessoas. Longe dos estereótipos populares da filosofia como esotérica e não prática, a filosofia é fundamentalmente prática e essencial para a boa vida. Mesmo que não possamos articular totalmente Deus e o bem, é a própria pesquisa que fundamenta uma vida com sentido. Como alguém que encontra perguntas desafiadoras, muitas vezes mais poderosamente transformadoras do que as próprias respostas, eu só poderia concordar.
Lobel estrutura o livro em torno das visões bíblicas de Deus e da filosofia grega clássica. Ela começa com os relatos da criação do Gênesis, explorando como as apresentações bíblicas de Deus, do mundo e da bondade estão inter-relacionadas. Ela desafia as suposições populares sobre os relatos da criação do Gênesis e fornece aos leitores um bom ponto de partida para pensar comparativamente sobre Deus e o bem.
A partir daí, Lobel conecta divergências no pensamento de Platão e Aristóteles com tendências divergentes em outras filosofias mundiais. Dessa forma, ela fornece um quadro geral que é particularmente útil para os leitores ocidentais, pelo menos nominalmente familiarizados com perspectivas bíblicas e a filosofia grega.
Ao longo do livro, Lobel destaca as semelhanças e as diferenças entre os pensadores e as ideias que ela leva em consideração. Ela fornece exemplos modernos das teorias que ela discute e situa alguns dos filósofos mais influentes de hoje em suas grandes tradições intelectuais. Em geral, Lobel apresenta admiravelmente várias abordagens de Deus e do bem, e introduz um impressionante conjunto de figuras importantes, sem fazer com que o leitor se perca em minúcias.
Fiquei decepcionada que não havia mais considerações sobre a filosofia cristã. Embora ela traga pontos de vista bíblicos e o pensamento de Agostinho, Lobel não gasta muito tempo – se é que gasta – com a filosofia cristã clássica ou seus muitos desdobramentos contemporâneos. Dadas as grandes sínteses teológicas e filosóficas de pensadores cristãos como Tomás de Aquino (pensadores que reuniram o pensamento grego, judeu e muçulmano em suas próprias investigações filosóficas), eu queria muito que a filosofia cristã fosse mais proeminente no livro.
Eu também apreciaria um pouco mais de uniformidade nos capítulos. As filosofias orientais são apresentadas em capítulos densos (um capítulo para a filosofia chinesa, indiana e budista, respectivamente), enquanto as filosofias ocidentais recebem mais individualidade e espaço. Por exemplo, as nuances e ambiguidades do pensamento de Platão são (habilmente) explicadas em um capítulo inteiro. E o filósofo judeu Maimônides é destacado em nada menos do que três capítulos (em que cada capítulo lança uma luz adicional sobre as muitas facetas do seu pensamento).
Dito isso, fiquei impressionada com a habilidade de Lobel em apresentar as abordagens orientais claramente, ao mesmo tempo em que dá ao leitor uma noção da diversidade dentro dessas tradições filosóficas orientais.
Para aqueles que buscam uma introdução à filosofia mundial, essa é uma excelente opção. O site do livro inclui leituras complementares e perguntas de estudo para cada um dos capítulos. Esse guia online é um excelente recurso para professores, estudantes, grupos de leitura e leitores motivados. Lobel deve ser agradecida por nos fornecer um livro maravilhoso que instrui e inspira as nossas próprias jornadas filosóficas e espirituais.
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Diversas visões de Deus e do bem a partir da filosofia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU