11 Janeiro 2012
O Muro erguido ao longo dos Territórios da Cisjordânia, para tornar mais seguro o Estado judeu, aquela barreira de cimento que divide definitivamente o destino de israelenses e palestinos, em breve também irá cortar em dois o mosteiro dos salesianos de Cremisan. Pondo, assim, "arame farpado" até mesmo entre a comunidade feminina e a masculina desses religiosos que, há mais de 50 anos, vivem na colina de Walaja, na metade do caminho entre Belém e Jerusalém.
A reportagem é de Alberto Mattone, publicada no jornal La Repubblica, 09-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa é uma história de freiras contra padres, o fruto venenoso de uma terra sem paz. As primeiras preferem permanecer na jurisdição territorial da ANP [Autoridade Nacional Palestina]. Os segundos – esta é a acusação das "coirmãs" – passariam de bom para a do Estado judeu, assim como estabelece o projeto do Ministério da Defesa, que quer englobar o convento sob o seu próprio poder.
Para as religiosas das Filhas de Santa Maria Auxiliadora, o Muro é uma desgraça que despedaçaria o vínculo com os palestinos. Desde quando estão em Walaja, a partir de 1960, organizam, sem fazer distinção de filiação religiosa, creches, institutos profissionais, acampamentos de verão para 400 crianças pobres dos vilarejos.
Se o Cremisan, que cai justamente na "fronteira" entre os Territórios e a colônia judaica de Har Gilo, tivesse que acabar na jurisdição israelense, seria muito difícil para as crianças ir à aula. "Há apenas uma estrada que leva aos nossos edifícios", diz a Ir. Adriana, a madre superiora, em Haaretz. "E, para chegar até nós, os pequenos deveriam passar, todos os dias, por um posto de controle de Tsahal. Os pais não aceitariam essa situação".
No mesmo grande terreno, mas em um complexo diferente, encontra-se a área administrada pelos salesianos. Eles também têm uma escola profissional para jovens árabes e um seminário católico. Para viver, produzem óleo e 700 mil litros de vinho de alta qualidade, que vendem principalmente para os israelenses.
Esta é a questão: por esse motivo – é a acusação das freiras –, os padres não objetaram contra o Muro. "Os palestinos, em sua maior parte muçulmanos, não bebem bebidas alcoólicas. A nova situação – explica a Ir. Adriana – facilitaria o projeto dos sacerdotes de aumentar os clientes em Jerusalém e em Tel Aviv".
Enfim, nasceu uma tempestade no "quintal", uma disputa entre os próprios seguidores de Dom Bosco e, além disso, no coração da Terra Santa. Os salesianos respondem às acusações das salesianas. E negam que querem consentir com o projeto: "Nós nunca pedimos para passar para Israel", replica o Pe. Maurizio Spreafico, provincial da ordem. "A comunidade de Cremisan – acrescenta – é vítima de uma escolha imposta pelo Estado judeu. Não temos nenhuma responsabilidade com relação ao Muro e ao seu traçado: trata-se de decisões de caráter político-militar".
Palavras, estas, que não convencem a Ir. Adriana. "Nós e eles – reafirma a madre superiora – temos ideias diferentes sobre o Muro". O que confirma isso, sugere ela, é o silêncio "público" dos salesianos, enquanto as irmãs pediram ajuda ao Patriarcado Latino para a sua batalha contra a barreira.
A mobilização fez barulho, e o Estado judeu acaba de propor uma mediação: as salesianas permaneceriam sob jurisdição palestina, os padres acabariam sob a asa israelense, separando definitivamente as duas comunidades. Os padres não se opuseram. As coirmãs, no entanto, disseram "não". "O Muro de oito metros – objetam – faria com que o convento se tornasse uma prisão, e nós seríamos cortadas fora do resto da nossa terra". Enquanto isso, preparar um recurso ao tribunal de Tel Aviv.
O tempo, contudo, vai ficando curto: durante as festas de Natal, chegaram os soldados israelenses para desenhar o traçado da barreira. "Teremos que derrubar aqueles dois prédios", apontaram com o dedo, dirigindo-se à Ir. Adriana: os laboratórios. E algumas das salas de aula das crianças palestinas.
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O muro que divide monges e freiras salesianos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU