Por: Cesar Sanson | 27 Outubro 2013
Eleição deste domingo é mais do que uma disputa pelo Parlamento: ela define quem larga na frente na corrida à presidência. Pesquisas indicam um páreo duro para a aliança em torno de Kirchner.
A reportagem é a da agência de notícias Deustche Welle, 25-10-2003.
O argentino Gastón Peña já sabe em quem vai votar no próximo domingo (27/10). Ele apoia a coalizão governista Frente para la Victoria, já que, sem ela, não teria emprego. A empresa têxtil em que trabalha entrou em falência há alguns anos, mas, com a ajuda do governo, Gastón e seus colegas adquiriram o controle da fábrica, que continuou a funcionar como cooperativa.
Isso ocorreu durante a presidência do antecessor de Cristina Fernández de Kirchner, seu falecido marido, Néstor Kirchner. Desde então, Gastón tem bem claro qual partido ele apoia. "Voto nela porque ela se preocupa com a justiça social e nos devolveu a dignidade. E também por sua política para o mercado de trabalho", explica.
Ausência de um nome forte
Pôsteres com a imagem da presidente estão espalhados por toda a fábrica. Cristina não concorre a nada, pois as eleições são para o Parlamento, mas ela é o rosto da política mencionada por Gastón. E ninguém sabe mobilizar as massas tão bem quanto Kirchner. Nenhum outro político do lado governista tem o carisma e o talento dela para performances públicas.
Para o partido, foi doloroso o afastamento da presidente no auge da campanha. Kirchner teve que se afastar do cargo a duas semanas da eleição para submeter-se a uma cirurgia inesperada, consequência de ferimentos sofridos num acidente.
Isso tornou ainda mais complicada a tarefa do pouco conhecido Martín Insaurralde, o principal candidato dos governistas na Província de Buenos Aires. Ele tem a missão de vencer a eleição na sua província e, em 2015, herdar a presidência da República.
Mas as pesquisas eleitorais dizem que a vitória de Insaurralde não está garantida. "O que as pessoas querem é um modelo econômico e social mais justo do que o atual, sem o excessivo intervencionismo do Estado", explica o analista político Carlos Fara. "Além disso, querem uma política econômica que valorize a produtividade e a renda."
O "modelo", como os kirchneristas chamam sua política de um Estado forte e protecionismo feroz, deixou de ser atraente para muitos argentinos. O fardo econômico recaiu sobre a classe média, sem que houvesse melhoras na situação dos mais pobres.
Em particular, o que preocupa a população é a inflação, que segundo dados do governo, estaria em 10% ao ano. Entretanto, especialistas estimam que o índice real deve estar entre 20% e 30%.
Muitos argentinos acusam Kirchner de seguir um estilo de governo cada vez mais autoritário. Uma das críticas se volta contra a reforma do judiciário. Na opinião de muitos, ela permitiria à presidente nomear juízes favoráveis a suas políticas. Além disso, não arrefecem os boatos de contas bancárias no exterior e enriquecimento ilícito dos Kirchner.
Os argentinos já deram provas de seu descontentamento nas eleições primárias de agosto, quando a Frente para la Victoria obteve cerca de 26%. Foi o melhor resultado entre todos os concorrentes, mas dois anos antes, Kirchner havia conseguido se eleger com 54% dos votos.
Apesar dos protestos nos país terem diminuído de intensidade, a indignação persiste entre a população. Fara vê uma "cultura da fadiga" entre a classe média, ou seja, as pessoas estão cada vez menos motivadas para lutar por mudanças ou protestar contra as injustiças.
Um dissidente na oposição
Quem aposta nesse descontentamento é o principal candidato da oposição, Sergio Massa, que já foi chefe de gabinete da presidente. Hoje ele é o bem-sucedido prefeito da pequena cidade de Tigre, a noroeste de Buenos Aires. Há um ano, Massa fundou um novo partido, o Frente Renovador. As pesquisas já indicam sua ascensão, e é muito provável que seu objetivo maior seja a candidatura à presidência em 2015.
Por isso é fundamental para ambos os candidatos obter um bom resultado no domingo, já que a largada para as próximas eleições presidenciais em 2015 será nesta eleição, diz Fara. "Nela será decidida a posição de largada para a disputa pela Casa Rosada, e se define qual o rumo que as pessoas desejam para a Argentina."
Algumas tendências já se consolidam. Cerca de 40% dos argentinos já sabem que, daqui a dois anos, não vão querer nem um governo kirchnerista nem um peronista. O partido de Kirchner segue a tradição do líder Juan Domingo Perón, o emblemático presidente da Argentina da metade do século 20.
Fara vê uma forte tendência antiperonista entre setores da classe média. Para estes, o legado de Perón não faz mais sentido. Mas trabalhadores como Gastón Peña seguem fiéis ao peronismo, e o fato de os Kirchner terem se apresentado como herdeiros de Perón explica o sucesso deles. "O governo dos Kirchner foi, sem dúvida, uma década de ganhos. Só tivemos algo parecido nos tempos de Perón", argumenta Peña, justificando seu voto.
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Argentina vai às urnas em eleição decisiva para Kirchner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU