Por: Caroline | 18 Outubro 2013
As cenas de destruição através das mãos de mascarados, agora fazem parte de qualquer protesto público. E no último, a Polícia Militar fez uso de armas de fogo. Um rapaz de 18 anos teve os braços perfurados por tiros.
A reportagem é de Eric Nepomuceno, publicada no jornal Página/12, 17-10-2013. A tradução é de Cepat.
Fonte: http://goo.gl/Ct1njs |
A verdade é que nada de novo ocorreu, quer dizer: nada que não se tivesse previsto antes. Ao entardecer de terça-feira, Dia do Professor, os professores da rede pública do Rio – tanto da municipal quanto da estadual – se reuniram em uma marcha no centro da cidade. Havia cerca de cem mil, de acordo com o sindicato da classe. Ou sete mil, segundo os cálculos da Polícia Militar. Ou, como quis a imprensa, cerca de vinte mil. Seja como for: havia muita gente. Não tanto como cem mil, mas nem tão pouco como sete.
Na primeira fila, abrindo a marcha, cerca de 200 mascarados, os “black blocs”. Outros 200, divididos em grupos de dez ou quinze, ocupavam a dianteira da manifestação. Um dirigente do sindicato dos professores pediu que eles abandonassem a marcha. Houve certa tensão, e quando ficou claro que os “black blocs” não pensavam em retroceder daquele lugar de destaque, outro membro do sindicato pediu-lhes que não recorressem a violência para não manchar “a imagem do nosso sindicato, que quer reivindicar pacificamente”.
Palavras ao vento, como se veria algumas horas depois. A marcha seguiu sem outros transtornos, antes de causar um colapso no trânsito caótico do centro da cidade. Ao chegar à imensa Praça da Cinelândia, onde estão a Câmara Legislativa Municipal, a Biblioteca Nacional, o imponente e majestoso Teatro Municipal (uma versão modesta, mas muito mais bonita do Colón portenho), os professores começaram a dispersar-se, enquanto os “black blocs” começavam a se concentrar. E então a batalha de rua eclodiu como era esperado.
A uns 480 km de distância, em São Paulo, a mais rica cidade latino-americana, a marcha foi muito menor: a quantidade de manifestantes não superou a de 300 professores, estudantes e funcionários da universidade estadual. Entre eles, uns 40 mascarados, vestidos, como seus companheiros do Rio, de preto. Tudo ocorreu sem maiores incidentes até que a marcha encontrou um cordão da Polícia Militar bloqueando seu caminho. Os manifestantes tentaram negociar. E nisso estavam quando os mascarados começaram a atuar.
Em São Paulo, foram detidas pelo menos 56 pessoas, e há registro de quatro policiais militares feridos por pedras. No Rio foram detidas 45, entre elas muitos menores de idade e pelo menos um professor. É curioso o caso deste professor: ele estava junto aos “black blocs”, não para enfrentar a polícia, mas para observá-los. Preparando um estudo acadêmico sobre a violência urbana desorganizada e extremamente agressiva. Coube-lhe ser agraciado por vários golpes de cassetetes, além de uns socos, mas ao chegar à delegacia foi imediatamente liberado e voltou para casa com o orgulho ferido e vários hematomas bem distribuídos pelo corpo.
À violência dos “black blocs” do Rio, somou-se, na terça-feira passada, uma característica que até agora era apenas insinuada: a ousadia na hora de enfrentar a tropa de elite da Policia Militar. Cenas transmitidas ao vivo pela televisão e que ontem circularam amplamente pelas redes sociais mostram um grupo de mascarados ofendendo e encurralando a polícia militar, que não teve escolha a não ser recuar. As placas de aço erguidas por bancos e comércios para proteger suas instalações foram facilmente arrancadas e transformadas em escudos para os “black blocs” em suas investidas contra a tropa de elite. E, claro, comércio e agências bancárias foram outra vez destruídos. O mesmo McDonald’s, saqueado há uns dias, voltou a ser alvo dos vândalos. As mesmas lojas das operadoras de telefonia móvel e outra vez o Consulado de Angola. Estes ataques reiterados não são mais do que o anúncio do que pode ocorrer na próxima marcha.
A novidade preocupante, vale repetir, tem sido a ousadia com que os manifestantes avançaram contra a Polícia Militar. Um carro da polícia foi incendiado, um ônibus utilizado no transporte da tropa foi destruído. A certa altura, ao se verem encurralados pelos manifestantes que disparavam morteiros e lançavam pedras, alguns policiais fizeram disparos com pistola ao ar. Foi a primeira vez que se registraram imagem de armas de fogo sendo disparadas. Manifestantes disseram que também houve disparos em outras partes do centro, longe dos “black blocs”. Um rapaz de 18 anos foi ferido em ambos os braços e foi necessário operá-lo. Disse que não tinha ideia de quem fez os disparos. A suspeita inicial é que foram de seguranças privados de alguns comércios. O que ninguém explica é por que oficiais da Policia Militar apareceram, um pouco antes da meia-noite, no hospital particular para interrogá-lo. Não é missão da PM interrogar ninguém: essa tarefa é da alçada da Polícia Civil, que é a polícia judicial no Brasil.
Fica claro que os “black blocs” vieram para ficar. As cenas de destruição e violência agora são parte do roteiro de qualquer manifestação pública. Em junho e julho, nas grandes marchas que encheram as ruas brasileiras, houve atos de extrema violência, mas ninguém vinha mascarado ou em uniformes como agora. É como se os “black blocs” tivessem assumido o controle dos protestos.
A grande pergunta é a seguinte: Como serão as manifestações em alguns meses, quando se realizará a Copa do Mundo no Brasil?
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Violência anarquista antes da Copa do Mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU