11 Outubro 2013
Giovanni Franzoni narra as origens da comunidade de base de San Paolo. "No domingo, eu celebrava a missa do meio-dia na basílica e, nas homilias, eu tentava seguir o ensinamento do teólogo protestante Karl Barth: manter unidas a Bíblia e o jornal. Ou seja, atualizar o Evangelho, encarná-lo nas contradições da sociedade. Depois de um tempo, com um grupo de 30-40 pessoas, decidimos nos encontrar aos sábados à noite para preparar juntos a homilia. Líamos os textos, discutíamos juntos. Os leigos traziam a sua contribuição que, para mim, monge, era muito importante. E, no domingo, a minha pregação era o resultado desse debate: portanto, uma homilia participada, não uma doutrinação de cima. Esse foi o primeiro núcleo da comunidade".
A reportagem é de Luca Kocci, publicada no jornal Il Manifesto, 05-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Tudo começou ali?
Envolvíamo-nos cada vez mais também no social: a oposição ao desfile do dia 2 de junho e aos capelães militares, as lutas com os desempregados e os sem-teto, as denúncias da especulação imobiliária eclesiástica, as manifestações contra a guerra do Vietnã. Chegaram as contestações dos fascistas e dos católicos tradicionalistas. E, depois, as inspeções da hierarquia eclesiástica, das quais, porém, eu sempre passei incólume. Até 1973.
Quando nasceu a comunidade de San Paolo...
Nós nos reuníamos em alguns locais na Via Ostiense, onde começamos a celebrar a missa com o cardeal Poletti, vigário do papa para a cidade de Roma, que "não aprovava, mas não proibia".
Vocês são separatistas?
Não, não queremos outra Igreja, até porque me parece que já há muitas, mas sim outra Igreja. Queremos que a Igreja mude para ser mais fiel ao Evangelho e ao Concílio.
O que restou do Concílio?
O espírito e as reivindicações do Concílio Vaticano II foram sufocadas por Ratzinger e por Wojtyla: a colegialidade, a participação, a sinodalidade são palavras vazias. Certamente, os Sínodos dos Bispos se desenvolvem, mas têm um valor somente consultivo e por isso são totalmente ineficazes. Continua-se ignorando o papel das mulheres na Igreja, valorizadas somente em palavras. Houve a sistemática repressão dos teólogos que expressavam um ponto de vista diferente, começando pelos teólogos da libertação.
O Papa Bergoglio está reunindo muitos consensos, até mesmo da opinião pública laica e de esquerda. Qual é a sua opinião?
Ainda é muito cedo para uma avaliação abrangente. Ele começou o seu pontificado com uma grande retórica pauperista. A retórica é lícita. Falta outra coisa. A imagem cria simpatia e consenso, mas também devem vir decisões sobre questões polêmicas, caso contrário é apenas aparência.
Por exemplo?
Por exemplo, a colegialidade deve ser verdadeira. Os Sínodos devem ter poder de decisão, senão não servem para nada. Depois, a reabilitação dos teólogos, dos bispos e dos padres reprimidos por Wojtyla e Ratzinger, não só dos vivos, mas também dos mortos como "hereges". Nem por um reconhecimento post-mortem, mas sim para dizer que é possível falar livremente, sem medo de perder a cátedra ou de sofrer marginalizações e excomunhões. E depois as mulheres, exaltadas com palavras, mas excluídas de qualquer papel decisório na Igreja.
Falamos de sacerdócio feminino?
Não, estou falando de papéis decisórios e de responsabilidade. Durante o Concílio, um bispo indiano, não ouvido, apontou que muitas responsabilidades na Igreja não estão ligadas ao estado clerical. Ou seja, não é preciso necessariamente ser padres para desempenhá-los. Esses papéis podem ser confiados aos leigos e, portanto, também às mulheres: os núncios apostólicos, os chefes de dicastérios, até os cardeais. Os oito "sábios" nomeados por Bergoglio para reformar a Cúria são todos cardeais homens. Poderia ser tranquilamente qualquer leigo e qualquer mulher, sem necessidade de ser padre. A questão do sacerdócio feminino é mais ampla: o risco é de clericalizar também as mulheres. E depois temos certeza de que Jesus queria padres como eles são hoje?
E sobre os princípios inegociáveis?
O discurso é semelhante. O Papa Francisco usa tons conciliadores, fala de uma forma espontânea. Mas é preciso enfrentar os pontos críticos. Tudo bem que o papa diga "quem sou eu para julgar um gay?", mas se depois essa pessoa pede que a sua união homossexual seja abençoada pela Igreja o que se responde a ela? Que não é possível. Então, as palavras não são suficientes. Ao contrário, é preciso abrir as portas, discutir juntos e decidir.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''Bergoglio é simpático e popular, mas não toca os pontos críticos da Igreja'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU