28 Setembro 2013
O respeito do interlocutor é medido pela capacidade de escuta. Quanto mais minuciosa é a atenção que é dedicada às palavras que nos são dirigidas, mais o debate se torna diálogo. Atitude, esta, que só se torna construtiva na medida em que é genuinamente recíproca.
A reportagem é de Giulia Galeotti, publicada no jornal L'Osservatore Romano, 25-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tempo atrás, Piergiorgio Odifreddi enviou a Bento XVI o seu livro Caro Papa, ti scrivo (Milão: Mondadori, 2011). E o papa emérito lhe respondeu com uma longa carta, que o jornal romano La Repubblica do dia 24 de setembro antecipa em parte (pouco menos da metade), enquanto o texto integral será publicado na nova edição do livro de Odifreddi.
Joseph Ratzinger se desculpa pelo intervalo de tempo decorrido entre a recepção do livro e a sua réplica, datada de 30 de agosto de 2013 e endereçada à residência turinense do cientista. Um intervalo de tempo certamente não imputável aos 698 quilômetros de distância entre o mosteiro no Vaticano e a casa do matemático, no verde da cidade de Savoy, mas devido à atenção que, entre os seus muitos compromissos, Bento XVI quis dedicar ao volume.
Joseph Ratzinger é preciso e acurado. Na longa carta – que revela uma gentileza natural, uma mão estendida não formalmente ao seu interlocutor –, Bento XVI vai direto ao ponto das páginas lidas, dos traços de proximidade colhidos pelo cientista ateu e compartilhados pelo papa teólogo, dos pequenos (e nem tão pequenos) erros presentes no texto, detendo-se portanto – com a experiência que lhe é reconhecida até mesmo pelos adversários – tanto nos pontos de encontro, quanto nas discrepâncias, resumíveis, estas últimas, em uma tripartição.
Algumas delas são aceitáveis em uma ótica de confronto entre posições que são, e continuam sendo, diferentes; outras, não aceitáveis, por serem injuriosas (mesmo quando formuladas, com habilidade, apenas como perguntas); outras, enfim, nada convincentes.
Tudo, porém, sempre em um tom de autêntica busca de diálogo, no respeito e na estima pelo interlocutor. Em um percurso que parte das Escrituras sagradas ao judaísmo e ao cristianismo, atravessa a história, chegando até os dias, também sofridos, da Igreja de hoje, não esquecendo nem os aspectos mais bonitos e fecundos, nem os mais mais terríveis e escandalosos.
Piergiorgio Odifreddi contesta – rotulando-o como distinção já ultrapassada desde o distante 1968 em virtude da entrada em cena das inteligências artificiais – o fato de que uma razão objetiva sempre precisa de um sujeito, uma razão, portanto, consciente de si mesma. Pois bem, com precisão, Bento XVI rebate explicando como, na realidade, é justamente (e também) a própria inteligência artificial que demonstra o assunto, tratando-se de uma inteligência confiada a aparelhos e transmitida a eles por sujeitos conscientes, isto é, atribuível à inteligência humana daqueles que criaram os mesmos aparelhos.
Esse é apenas um dos muitos pontos analisados na longa, rica, apaixonada e nítida carta de resposta por parte de um homem que quer – e que, por toda a sua vida, sempre quis – um verdadeiro diálogo entre a fé dos cristãos e a fé científica. Uma busca de diálogo evidentemente captada pelo matemático italiano.
Além disso, lendo todo o texto do papa emérito, fica claro como o seu interesse é autêntico, voltado a dialogar até com aquela parte de mundo e de fé científica que, a bem ver, interrompe a busca do confronto de maneira que acaba sendo dogmática, quase como se não quisesse mais perguntar, mas somente amestrar o interlocutor.
Os muitos exemplos que poderiam ser trazidos à tona entre aqueles apresentados por Bento XVI, porém, giram inevitavelmente em torno daquilo que, para Joseph Ratzinger, é o ponto central, que não pode ser ignorado, do diálogo entre a fé chamada científica e a fé dos cristãos. É o aspecto da passagem dos lógoi ao Logos, uma passagem que a fé cristã fez juntamente com a filosofia grega. Uma passagem que pode até não ser feita, mas que deve, necessariamente, ser considerada e avaliada – de modo científico, se deveria dizer – para que as partes em diálogo permanecem ambas realmente em busca.
Na carta, também são evocadas a questão muito debatida dos antropomorfismos – para a qual Bento XVI recorda a validade permanente da afirmação do Concílio de Latrão IV de 1215 sobre a possibilidade somente analógica de pensar Deus – e a questão incandescente da evolução.
Bento XVI cita o Pseudo-Dionísio, o Areopagita, e depois cita não só Francisco, Clara, Teresa de Ávila e Madre Teresa, mas também Agostinho, Martin Buber, Jacques Monod e a inspiração da música de Bach, Mozart, Haydn, Beethoven. E, claramente, cita Piergiorgio Odifreddi.
Porque Ratzinger optou por responder a um professor universitário italiano que, movido pela franqueza, buscou um diálogo aberto com a fé da Igreja. Entre contrastes e convergências.
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Carta de Bento XVI ao matemático Piergiorgio Odifreddi. Um diálogo aberto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU