Comunicar a outra economia

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Por: André | 27 Setembro 2013

“Durante os últimos anos, a economia social e solidária começou a ganhar cada vez mais lugar na agenda pública. As práticas de diversos atores sociais [...] encontraram eco no âmbito das universidades e em diversas políticas destinadas à sua promoção, colocando de manifesto uma forma diferente de abordar a temática do trabalho, da produção, do comércio e do consumo, entre outros aspectos. Em suma, uma proposta que tira o foco do afã do lucro como única motivação, para colocar o centro no ser humano e na reprodução da vida como objetivo essencial da economia”, escreve Marcos Pearson.

E acrescenta: “Nesse andar coletivo aprendemos que cada feira é uma mensagem em si mesma, um fato cultural e comunicacional que sintetiza de modo insuperável o que queremos dizer quando falamos de uma economia diferente”.

Marcos Pearson, licenciado em Comunicação Social, coordenador do Programa de Economia Social e Solidária da Secretaria de Extensão da Universidade Nacional do Centro da província de Buenos Aires (Unicen). O artigo está publicado no jornal argentino Página/12, 25-09-2013. A tradução é de André Langer.

Eis o artigo.

Durante os últimos anos, a economia social e solidária começou a ganhar cada vez mais lugar na agenda pública. As práticas de diversos atores sociais – organizações sociais, cooperativas, associações de pequenos produtores, fábricas recuperadas, movimentos de trabalhadores desempregados, etc. – encontraram eco no âmbito das universidades e em diversas políticas destinadas à sua promoção, colocando de manifesto uma forma diferente de abordar a temática do trabalho, da produção, do comércio e do consumo, entre outros aspectos. Em suma, uma proposta que tira o foco do afã do lucro como única motivação, para colocar o centro no ser humano e na reprodução da vida como objetivo essencial da economia.

Como dado contextual é bom saber que em alguns dos nossos países irmãos há leis federais e houve reformas constitucionais que incluem estas perspectivas. Em nosso país (Argentina) contamos também com uma bateria importante de políticas públicas, programas e áreas em diferentes organismos, assim como diversas leis provinciais e ordenações municipais que dão conta da existência e buscam promover a grande quantidade de práticas que o movimento e as organizações da economia social e solidária geraram durante as longas décadas de neoliberalismo.

A feira é a mensagem

A economia social e solidária é uma proposta integral que entende o econômico na sua vinculação inseparável com o social, o cultural e o político. Isto nos coloca a necessidade de abordar “o comunicacional” e assumir o desafio que implica promover outra economia, como disputa de sentidos pela ampliação dos próprios horizontes.

As feiras e mercados da economia social e solidária são uma expressão que – primeiro desde as organizações e agora com o impulso do Estado – têm muito para ensinar neste sentido.

Assim como Marshall McLuhan defende que “o meio é a mensagem” ao analisar os condicionamentos, mas também as potencialidades que vêm incorporadas em cada suporte da comunicação, podemos dizer também que, para a economia social e solidária, “a feira é a mensagem”, o que ao menos constitui um importante instrumento comunicacional para chegar a outros setores da sociedade.

Convencidos disto, na Universidade Nacional do Centro, junto com outras instituições e organizações que integram a Mesa da Economia Social e Solidária de Tandil, há mais de dois anos começamos a impulsionar iniciativas deste tipo. Assim se concretizou o Circuito de Feiras da Economia Social e Solidária de Tandil. Nesse andar coletivo aprendemos que cada feira é uma mensagem em si mesma, um fato cultural e comunicacional que sintetiza de modo insuperável o que queremos dizer quando falamos de uma economia diferente.

Em cada feira coloca-se em valor a nossa produção e cultura local. O encontro entre produtor e consumidor permite-nos conhecer de onde vêm e como foram elaborados os produtos que vamos consumir. Mas, sobretudo, permite-nos conhecer (e reconhecer) e valorizar as mãos e as pessoas que os criaram.

Cada feira – além disso – nos obriga a ressignificar a relação mercado-consumo predominante no capitalismo, nos interpela a refletir sobre o nosso próprio consumo e nos desafia a pensar em como multiplicar estes outros tipos de intercâmbios. Nos é indiferente se os produtos que consumimos sejam feitos sob relações equitativas, associativas e cooperativas? Dá no mesmo se esses produtos são elaborados cuidando do ambiente ou não tragam carga residual de químicos? Por acaso não importa se um produto do nosso consumo diário é extremamente barato porque traz consigo relações de exploração sobre centenas de pessoas?

Em suma, cada feira, no marco da economia social e solidária, é uma pequena maquete e uma potente ferramenta através da qual podemos comunicar a outros e outras como é essa sociedade que queremos e estamos construindo.