08 Agosto 2013
“Hoje sou um rabino machucado. Por motivos políticos. Vou dar um exemplo: minha congregação não me convocou para encontrar o papa Francisco na visita dele ao Brasil. Isso me magoou, afinal de contas, ele é um homem maravilhoso, líder de mais de 1 bilhão de seres humanos. No fundo, a minha representatividade tem sido machucada, algo que construí em 43 anos. Outro rabino foi escolhido para o encontro e eu me curvei perante o destino”, confidencia Henry Sobel, rabino, em entrevista concedida a Laura Greenhalgh e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 08-08-2013.
E continua:
"Acho que posso contar esta passagem: sentindo a minha frustração de não poder ir ao papa, ele (D. Cláudio Hummes) tentou, através do Vaticano, corrigir um problema político criado aqui. Não havia mais tempo, mas ele tentou. Sou grato a ele”.
Perguntado sobre a decisão de que Vladimir Herzog fosse enterrado na área central do cemitério israelita e não na área reservada aos suicidas, ele afirma que foi D. Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo de São Paulo, que o levou a tomar esta decisão.
Mais:
"E foi dele que recebi o sábio conselho de organizar o culto na catedral. Quanto ao meu gesto: num conflito de forças opostas, é preciso avaliar bem o certo e o errado. Decidi apoiar os jornalistas, liderados por Audálio Dantas, seguir o conselho de dom Paulo e me manter ao lado da família Herzog. Porque eles falavam a verdade.
O rabino narra as pressões da comunidade judaica, para que o jornalista assassinado pela Ditadura Militar fosse enterrado como suicida, aceitando a versão dos seus verdugos.
"De um lado, tinha a Chevra Kadisha, comitê de voluntários da comunidade encarregado de organizar o funeral conforme o rito judaico. De outro, tinha a família do Vlado, os jornalistas, dom Paulo. Vi que a Chevra Kadisha não estava representando a verdade naquele momento. Que tentou minimizar o ocorrido por cautela, medo ou falta de alternativa. Então não decidi entre duas verdades, porque isso não existe. O que existe é uma verdade acima de outra. Procurei o que era certo e Deus resolveria o resto. Isso significa ser judeu consciente. Assumir, agir, lutar se necessário. E confiar. Confiar".
Na entrevista ele confessa que o furto das gravatas nos EUA foi "um erro", "uma falha moral".
"Por favor, coloque no papel o que trago no meu coração, porque vou falar de algo pela primeira vez. Antes não havia tido coragem nem vontade. Aquele foi um episódio desgastante, cheguei a pedir desculpas diante de câmeras das principais emissoras de TV do Brasil. Também tratei do assunto em livro autobiográfico. Falei em problema de saúde e no uso de um medicamento para dormir, o Rohypnol. O remédio teria me levado a cometer atos impensados. Ontem à noite, às vésperas desta entrevista e com o distanciamento que o tempo proporciona, decidi que não posso mais atribuir o que houve a fatores externos. Para ser e me sentir honesto, admito que cometi um erro".
Está dizendo que o furto não pode ser atribuído ao efeito de remédios, mas a uma falha sua?
"Uma falha moral minha. E peço perdão. Veja o que escrevi ontem à noite: "É bom ser perdoado. Quando eu era menino, sempre que cometia um erro, podia contar com a compreensão, a ternura e o perdão dos meus pais. Lembro da sensação de ter um peso tirado do coração, uma gostosa certeza de ser aceito. (...) Quando cresci, foi a minha vez de conceder perdão aos meus pais pelos seus erros e fraquezas, fossem reais ou fruto da minha imaginação. Compreender nossos pais, e perdoá-los por serem menos perfeitos do que gostaríamos, é natural no processo de amadurecimento. Lembro das críticas se abrandando, os ressentimentos se dissolvendo, a consciência do afeto libertando a alma. É bom perdoar". E é muito bom perdoar a si próprio".
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Um rabino machucado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU