08 Agosto 2013
Esta é a tradução de um pequeno texto em francês que foi enviado à revista Popoli, dos jesuítas italianos, por Paolo Dall'Oglio entre junho e julho, talvez inédito também na França. Decidimos publicá-lo nestes dias de tristeza e pesar pela notícia do seu sequestro, na Síria.
A carta foi publicada no sítio da revista Popoli, 07-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Perguntam-me: "Por que os cristãos deveriam permanecer na Síria?". A meu ver, a questão não está bem colocada. Ao invés, seria preciso dizer: "Ainda haverá cristãos na Síria?".
Os cristãos são autóctones no país, participaram da criação de uma civilização fértil e surpreendente, tendo sabido viver, como os judeus em outras partes, dentro de um Estado muçulmano, do qual são colaboradores ativos e entusiastas.
No pano de fundo abraâmico dessa região, a boa vizinhança adquire um porte teológico: é impossível imaginar que o próprio vizinho, com quem se compartilham a piedade religiosa, o trabalho, a língua, as festas e o apoio recíproco, irá para o inferno com os próprios filhos... De repente, o outro compartilha conosco uma dimensão espiritual!
Lentamente, a cristandade síria se restringiu e empobreceu. Mas a crise atual corre o risco de deixar somente poucos traços disso com um valor de relíquia. Em geral, os cristãos não puderam se lançar em massa na revolução como os seus concidadãos muçulmanos sunitas. Eles também não quiseram – graças a Deus – se alinhar de modo compacto aos desventurados alauítas ao lado do regime e da sua horrível repressão.
Já tendo parentes no exterior, a maior parte deles tomou o caminho do exílio. Os pobres, em sua maioria, permanecem e enfrentam os mesmos riscos que os outros sírios, forçados a se deslocar para dentro do país por causa das destruições. Além disso, a infiltração e a penetração dos grupos radicais sunitas clandestinos (os mesmos que o regime dos Assad havia enviado ao Iraque depois de 2003) nas fileiras ou, melhor, no espaço da revolução provocou atentados explicitamente anticristãos, assim como no Iraque, semeando um terror que as boas declarações e os grandes princípios da revolução não pode combater eficazmente.
De repente, a pergunta parece ter se tornado: "Onde os cristãos poderão ficar na Síria?". Isso depende diretamente da capacidade que a revolução terá para garantir segurança em curto prazo para todos os cidadãos. Talvez os bombardeios podem ser suportados, mas os homicídios dão medo. E assim as pessoas partem.
Junto aos curdos do Nordeste, os poucos cristãos que permaneceram estão fora de perigo e vão constituir um primeiro "relicário", como no Iraque. A Oeste, os cristãos da costa irão compartilhar o mesmo destino que os alauítas, independentemente de como as coisas se ajeitarem, e pode-se pensar que vão permanecer ali.
Mas se os massacres de sunitas continuarem dessa forma, os nossos cristãos correm o risco de serem colocados no mesmo plano que os apoiadores do regime e, por isso, de serem vítimas de vingança.
Quanto a todo o resto do país, trata-se de territórios em meio à tormenta. Damasco e Aleppo esperam cair. A angústia se mistura com a esperança. Se os Amigos da Síria não demorarem para intervir, e se os democráticos – em sua maioria muçulmanos sunitas – receberem a ajuda necessária, então é possível que algum cristão decida permanecer para reconstruir a pátria na liberdade compartilhada.
Ao contrário, qualquer atraso e qualquer falta de discernimento só pode levar à extinção de uma comunidade cristã fundada há 2.000 anos pelos Apóstolos de Jesus em pessoa.
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Paolo Dall'Oglio e os cristãos sírios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU