21 Junho 2013
O presidente do PT, Rui Falcão, cobrou a secretaria de juventude petista por não ter identificado, na origem, o movimento que começou como um protesto contra o aumento da passagem do ônibus, em São Paulo, e se estendeu depois por todo o país, numa onda de manifestações.
Jovens petistas contaram que Falcão foi incisivo com o secretário Jefferson Lima: "Que juventude é essa incapaz de identificar o processo que vai surgir, que não é espontâneo mas político e, depois de identificado, não se organizou para dar um rumo às manifestações". Falcão confirmou que conversou com os jovens, mas não deu detalhes sobre os assuntos tratados.
A reportagem é de Raymundo Costa e publicada pelo jornal Valor, 21-06-2013.
Na cobrança feita à Secretaria de Juventude do PT o presidente do partido disse que os jovens petistas não disputaram o Movimento do Passe Livre porque não se prepararam para o debate sobre transporte público e mobilidade urbana. E questionou seu preparo para discutir política ambiental, por exemplo, quando Marina Silva (Rede Sustentabilidade) propuser o debate na campanha presidencial de 2014.
A juventude petista decidiu engrossar as manifestações depois de Falcão "pagar o sapo". A ideia, segundo um dos jovens, "não é conter o movimento, mas disputá-lo". O PT perdeu terreno na disputa pelo Movimento do Passe Livre - que não é novo em São Paulo - para siglas como o PSOL e PSTU. O partido também não comanda a Associação Nacional de Estudantes Livres (Anel), o grupo Juntos e a central sindical Conlutas, recebidos pelo prefeito Fernando Haddad para discutir a revogação do aumento no preço das passagens.
Os jovens do PT são divididos em relação às políticas de juventude. Em São Paulo não entraram nos protestos contra o aumento da passagem porque o prefeito é do PT. Além disso, há uma acomodação nos cargos, na perspectiva de ascensão dentro do próprio partido. A juventude se afastou dos movimentos e até por isso não teria identificado o potencial explosivo do protesto em São Paulo. Integrar o Diretório Nacional é um prêmio na escalada do jovem petista.
Integrantes da Secretaria Nacional da Juventude disseram ao Valor, com a condição de não serem identificados, que a desmobilização não é um problema dos jovens. A exemplo do partido, eles também reclamam do tratamento dispensado pelo governo da presidente Dilma Rousseff.
São dois os tipos de queixosos: o que não conseguiu fazer as indicações que desejava para cargos no governo; e o outro, aquele que se ressente da falta de diálogo da presidente com os movimentos sociais. Ao cobrar a juventude petista, Falcão teria ameaçado, inclusive, com cortes de financiamentos.
Preocupada em escalar cargos na burocracia, boa parte da juventude petista sequer considera política para jovens o Prouni, o Reune, os empregos gerados pelo PAC majoritariamente para jovens e cargos preenchidos pela Caixa por pessoas com até 30 anos de idade. A Secretaria Nacional da Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República, que está na esfera do PT, seria também mais dedicada a políticas de varejo regional.
A última palavra desta secretaria sobre as manifestações foi no dia 17, segunda-feira. Dizia repudiar "veementemente a violência empregada pela Polícia Militar nas manifestações pela redução da tarifa do transporte público que recentemente ocuparam ruas de diversas capitais brasileiras". Desde o fim de semana passado a oposição já adotava o discurso contra a violência e tentava enquadrar as manifestações como um movimento contra a alta dos preços. Os jovens petistas reconhecem que a inflação preocupa, mas não que haja uma espiral.
Os jovens petistas entram nas manifestações replicando o discurso da cúpula: a oposição manipula um "pesado esquema de mídia" cuja pauta deixou de ser o vandalismo, aspecto mais destacado nos primeiros dias, para salientar desde as preocupações com a volta da inflação ao custo elevado para realizar a Copa do Mundo. O projeto de regulamentação da mídia deve voltar, assentada a poeira.
A conversa de Rui Falcão com a Secretaria de Juventude do PT está no contexto de outras realizadas nos últimos dias, como a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as centrais sindicais. O objetivo é botar o PT e suas bandeiras dentro de um movimento que até agora rejeitou as siglas partidárias.
Em alguns Estados o partido e a juventude petistas estiveram por trás da organização das manifestações, inclusive fornecendo meios como carros de som. Isso já ocorreu em Belém (PA). Tanto o Estado do Pará como sua capital são governados pelo PSDB. Secundariamente, também estiveram em São Paulo, em manifestações anteriores às de ontem. Presença diluída que pode ganhar força nos Estados e capitais menores. Cidades onde não tem o Movimento Passe Livre. Essa, pelo menos, é a expectativa.
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Falcão faz cobrança dura à juventude do PT - Instituto Humanitas Unisinos - IHU