18 Junho 2013
Legisladores nicaraguenses deram um passo para realizar um sonho nacional, na quinta-feira, ao conceder a uma empresa de Hong Kong o direito de construir um canal de navegação para atravessar o país. A oposição de ambientalistas, as mudanças em padrões de navegação e o custo de US$ 40 bilhões podem fazer o projeto de uma ligação entre o Atlântico e o Pacífico para competir com o Canal do Panamá naufragar.
A reportagem é de Damien Cave, publicada no jornal The New York Times e reproduzida no jornal O Estado de S.Paulo, 16-06-2013.
"Isso não vai acontecer, foi minha primeira reação", afirma Noel Maurer, professor da Harvard Business School que colaborou num livro sobre o Canal do Panamá. "Um sonho impossível pode ser muito forte, mas eu simplesmente consideraria o investimento realmente muito ruim."
Os desafios aos planejadores do canal nicaraguense sempre foram enormes, e o projeto atual é nada menos que ambicioso. Ele envolveria escavar através de 288 quilômetros de terreno tropical fechado - aproximadamente o triplo do comprimento do Canal do Panamá - e depois bombear um virtual mar por uma série de reclusas com profundidade suficiente para receber navios cargueiros enormes.
A lei aprovada na quinta-feira, em um processo-relâmpago comandado pelo presidente Daniel Ortega, dá uma concessão de 50 anos à HK Nicaragua Canal Development Investment Company, pertencente a um empresário com base em Pequim. Não foi fornecido o trajeto exato das escavações. A lei só passou para o Congresso na semana passada e seus defensores ofereceram mais entusiasmo que detalhes.
Em propostas passadas de canais transoceânicos, mais recentemente em 2006, a Nicarágua estabeleceu dois locais possíveis: ao longo do Rio San Juan, próximo da fronteira com a Costa Rica, e por várias bacias fluviais que atualmente abrigam a maior parte da agricultura do país. Ambos são problemáticos, acrescenta Maurer. Vários tratados internacionais sustentam que um canal perto da Costa Rica requereria a aprovação desse país, o que é improvável dadas as recentes disputas de terras com a Nicarágua.
Um canal passando pelas bacias fluviais seria mais caro e colocaria preocupações ambientais e disputas sobre a água. Algumas dessas preocupações já estão surgindo. O Movimento pela Nicarágua, uma coalizão de grupos da sociedade civil, se opôs ao plano numa carta que dizia: "A Nicarágua não está à venda. A Nicarágua pertence a todos os nicaraguenses e não é a propriedade privada de Ortega e sua família".
Como tem sido há séculos - desde a época da primeira proposta de um canal nicaraguense, em 1825 - o Panamá sempre parece estar vários passos à frente. O recente esforço dos panamenhos de ampliação para acomodar os navios cargueiros maiores "supermax" torna a ligação existente uma opção mais atraente agora e no futuro. Muitos especialistas dizem que a Nicarágua vai ter dificuldade para convencer investidores de que haverá navios suficientes para sustentar um segundo canal na América Central.
"Mesmo que eles consigam os US$ 40 bilhões, os aumentos de tráfego são cada vez mais especulativos", argumenta Maurer. Outros especialistas concordam, notando que embora Ortega e seus aliados adorariam ter um canal - vendo-o como um caminho para acabar com a pobreza crônica da Nicarágua - suas esperanças serão muito provavelmente frustradas mais uma vez.
"O fato de o Congresso ter aprovado o projeto não significa que a companhia tenha encontrado os investidores para concretizá-lo", diz Geoff Thale, diretor de programa do Washington Office on Latin America, um grupo de defesa dos direitos humanos, acrescentando que como ocorre com "muitos grandes empreendimentos comerciais que são anunciados com grande alvoroço", a probabilidade de sucesso é pequena.
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Ainda no papel, canal já divide a Nicarágua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU