16 Mai 2013
Patricia Pranke, que coordena o Instituto de Pesquisa com Células-Tronco da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), comentou ontem o anúncio dos pesquisadores americanos que possibilita a criação de embrião humano via clonagem.
A entrevista é de Itamar Melo e publicada pelo jornal Zero Hora, 16-05-2013.
Eis a entrevista.
O que a técnica tem em comum com a clonagem?
Foi usado um procedimento chamado de clonagem terapêutica, diferente da clonagem reprodutiva, que significa criar o clone e fazer o indivíduo nascer, como no caso da ovelha Dolly. A clonagem reprodutiva em seres humanos tem de ser banida. Clonagem terapêutica é outra coisa. O inicio da técnica é o mesmo, mas você não insere o embrião no útero para gerar um individuo novo. A ideia é desenvolver células tronco com o código genético do doador, para não existir rejeição.
Essa seria a vantagem?
Sim. É por isso que se faz clonagem terapêutica. A compatibilidade é sempre importante, porque sempre pode haver rejeição. Se eu tiver um embrião formado a partir do núcleo das minhas células, as células-tronco não vão ser rejeitadas.
Essa técnica soluciona a discussão ética em torno do uso de embriões?
Não soluciona dilema ético nenhum, porque se está produzindo um embrião. A única diferença é que ele não é um embrião doado. Tem de ser destruído da mesma forma, para se trabalhar com essas células. Não muda a questão ética. Para alguns, até agrava, porque além de produzir o embrião, existe o risco de alguém querer usá-lo para clonagem. Teoricamente, se o embrião for colocado no útero, produzirá um clone de quem doou a célula. É óbvio que a gente não quer isso.
Já existe alguma terapia em que as células embrionárias poderiam ser utilizadas?
Hoje ninguém está usando célula embrionária humana em paciente. A gente espera que daqui a alguns anos vai acontecer. O principio é usar as células para regenerar um tecido, seja coração, músculo, rim, qualquer coisa. As células embrionárias podem se transformar em qualquer tipo de célula. A célula tronco adulta é mais limitada.
Quais são os próximos passos?
Primeiro é preciso padronizar a técnica de clonagem terapêutica, transformá-la em algo que possa ser realizado com frequência, o que é muito difícil. E, antes de usar em terapias, é preciso discutir a questão ética. No Brasil, por exemplo, a clonagem terapêutica não é permitida.
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Clonagem.“É preciso discutir a questão ética” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU