15 Abril 2013
"'Jesus morreu pelos pecados de qualquer um, mas não pelos meus', cantava Patti Smith em 1975, em sua versão do Glória, num álbum que a fez entrar merecidamente entre os grandes do rock, intitulado 'Horses'. Mas isso não a impediu, quarta-feira (10-04), de ir à audiência papal, junto aos fiéis, e de encontrar o Papa Francisco. 'Tive o privilégio de apertar sua mão', nos diz. 'Foi uma bela experiência".
Patti Smith, com 66 anos, uma vida passada entre poesia e rock and roll, arte e empenho, espiritualidade e pesquisa, tem uma relação especial, “uma experiência pessoal”, disseram do Vaticano, que a levou a aproximar-se deste Papa.
A entrevista é de Ernesto Assante e publicada em La Repubblica, 11-04-2013. A tradução é de Benno Dischinger.
Então, Patti Smith fascinada pelo Papa Francisco?
Quando Bento XVI anunciou que queria renunciar, esperei imediatamente que seu sucessor fizesse uma escolha corajosa e escolhesse o nome de Francisco. Fiquei mais de uma hora diante da TV, esperando que anunciassem o nome e pensava “Francisco, Francisco”; esperava que, quem quer aparecesse naquele balcão, tivesse escolhido aquele nome. Quando houve o anúncio, quando disseram que tinha escolhido Francisco, tive uma grande emoção, fique muito feliz, me vieram as lágrimas aos olhos. Nesta noite, no meu concerto no Auditorium, dedicar-lhe-ei uma canção”.
O que uma sacerdotisa do rock espera do Pontífice?
Estudei muito a figura de São Francisco nos últimos anos e penso que os valores que ele transmitiu, tais como a humildade, a disponibilidade para os outros, a atenção para a natureza, sejam importantes hoje, sobretudo num período como este de crise econômica, mas também de devastação ambiental. Um papa que escolhe chamar-se Francisco aceita um fardo pesado, faz uma declaração de intenções, como a de servir os pobres, de aproximar-se da natureza, de preocupar-se com o ambiente. E na noite de sua eleição me prometi encontrá-lo.
E assim foi. Patti Smith, em Roma para uma série de concertos, foi quarta-feira (10-04) ao Vaticano e conseguiu chegar até o Papa, ao qual foi apresentada.
Com foi o encontro?
Muito lindo. O Papa Francisco tem uma conduta extremamente cordial com todos. A verdadeira experiência para mim foi aquela de estar no meio de tanta gente, milhares de pessoas numa atmosfera belíssima, onde todos eram verdadeiramente felizes. Jamais tinha participado de semelhante reunião e me pareceu belíssimo que pessoas de culturas e países diferentes fossem unidas por uma força emotiva única.
Tantas línguas diversas, alemão, árabe, francês, inglês, para permitir que todos compreendessem. E depois, tantos e tantos jovens, muitos casais que estão para se casar, iniciar uma nova vida e que queriam ser abençoados.
Uma reunião diversa daquelas a que está habituada?
Uma reunião plena de amor e de vida, também onde havia pessoas sofredoras ou deficientes. Havia um sentimento universal, um espírito de esperança. Ver o Papa tão de perto é iluminador; vê-se que sua relação com o povo é verdadeira, que ama as crianças e as mães, que tem uma palavra de atenção para todos. Lembrou-me Jesus, quando disse “deixai que as crianças venham a mim”.
A escolha do nome Francisco quer indicar uma via para seu pontificado.
Penso que a mensagem que vem com aquele nome seja importantíssima. Eu não sou católica, não me submeto a regras e dogmas, posso olhar para sua pessoa livremente e creio que ele queria realmente se comunicar com todos de maneira diversa. São Francisco era humilde e forte, amava o povo e a natureza, e o Papa Francisco parece querer fazer o mesmo. Sinto-me muito otimista; ele poderá ser um forte líder espiritual. Vi sua seriedade, e ela exprime humildade e força.
Você gostou muito o Papa Albino Luciano. Crê que haja semelhanças com o Papa Francisco?
Eu gostava muitíssimo o Papa Luciani, e lastimo o fato de que não tenha tido o tempo de expressar-se todo a si mesmo como papa. Não tenho uma religião porque penso que a religião ponha demasiados limites, mas tenho a minha religiosidade perante Deus, e rezo. Amei o Papa Luciani como ser humano e estou interessada na potencialidade do Papa Francisco pelo mesmo motivo. Luciani e Bergoglio são líderes espirituais muito semelhantes, dão amor para transmitir amor. Mas o Papa Luciani era frágil, enquanto o Papa Francisco tem notável força. Penso que seja um homem que possa fazer coisas importantes, e quanto a isso estaremos aqui para ver.
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Patti Smith no Vaticano: “Francisco, o meu Papa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU