12 Abril 2013
"Para entender o avanço das religiões evangélicas no Brasil, sobretudo das correntes pentecostais, é preciso compreender o papel da religião no mundo contemporâneo", escreve Marcos Alvito, antropólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 13-04-2013.
Segundo ele, a religião "é um poderoso sistema simbólico capaz de dar uma explicação ou pelo menos propiciar uma esperança de que algum dia haverá um esclarecimento sobre o caos, o sofrimento e a injustiça".
Eis o artigo.
No Brasil, hoje, há mais pastores da Assembleia de Deus do que padres da Igreja Católica. Apenas os aptos a votar, esta semana, eram 25 mil pastores, ante cerca de 22 mil sacerdotes católicos.
A Assembleia de Deus, fundada no Brasil há mais de um século, é uma igreja pentecostal. O grande diferencial em relação às igrejas evangélicas históricas, como a batista, a presbiteriana e a luterana, reside na centralidade atribuída ao Espírito Santo.
Nesse ponto a Assembleia aproxima-se, até certo ponto, da ideia de magia presente nas religiões afro-brasileiras. Abundam curas milagrosas e uso de objetos santificados.
Outro ponto importantíssimo é uma cosmologia maniqueísta, de oposição entre o bem e o mal, Deus e o Diabo. É uma compreensão do Universo como palco de uma batalha espiritual.
A ideia de guerra espiritual é uma chave simplista, mas extremamente eficiente e popular, como comprova o crescimento da corrente nas últimas décadas.
Para entender o avanço das religiões evangélicas no Brasil, sobretudo das correntes pentecostais, é preciso compreender o papel da religião no mundo contemporâneo.
A realidade torna-se mais complexa a cada dia. Os processos sociais e as grandes mudanças ocorrem de forma rápida e sem aviso.
PAPEL DA RELIGIÃO
Ainda que tenha ocorrido aumento recente da renda, a situação de precariedade econômica e social persiste. O abismo entre os avanços científicos e a compreensão do homem comum aprofunda-se. Aí entra a religião.
Ela é um poderoso sistema simbólico capaz de dar uma explicação ou pelo menos propiciar uma esperança de que algum dia haverá um esclarecimento sobre o caos, o sofrimento e a injustiça.
Na Assembleia de Deus isso tudo é muito presente. É uma guerra entre a igreja, representando o conjunto dos fiéis, e o mundo, governado por Satanás.
Certa vez visitei um templo da Assembleia de Deus em um subúrbio do Rio de Janeiro. O coro de crianças era chamado de "Soldadinhos de Cristo". Parece que eles estão ganhando a guerra.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Sistema simbólico adotado pela Assembleia de Deus juda fiéis a lidar com angústia contemporânea - Instituto Humanitas Unisinos - IHU