13 Março 2013
"Em sua primeira fala, há um tratamento no pronome “nós” que tem grande significado para este tempo de participação, um modo de falar de democracia na Igreja. A sua despedida ao povo está próxima de algumas falas de João XXIII, o Papa Bom: “Nós nos veremos em breve, rezem por mim e tenham uma boa noite!”, observa Luiz Carlos Susin, frei capuchinho, professor da pós-graduação da PUCRS, secretário executivo do Fórum Mundial de Teologia e Libertação, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 14-03-2013.
Segundo o teólogo, "pode-se esperar que ele tenha competência e energia para a tarefa firme da reforma sugerida por Bento XVI junto com a simplicidade franciscana do padroeiro da Itália que encanta o mundo e no Brasil é conhecido como companheiro dos pobres, São Francisco das Chagas: quem sabe até não troque os sapatos vermelhos por um par de sandálias?"
Eis o artigo.
Um nome quase inesperado, uma figura modesta e simpática, a surpresa do pedido para que o povo o abençoasse: o novo papa, Francisco, começa um novo capítulo da história do governo da Igreja Católica.
Quais são os primeiros sinais? Seu nome: junta nele o Francisco de Assis, aquele que andava de sandálias conversando com o lobo e os passarinhos, e o de Francisco Xavier, companheiro de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus – os jesuítas –, que dedicou sua vida à evangelização da Ásia, da Índia ao Japão, passando pela China, onde morreu. Este é um primeiro sinal, uma indicação nominal de seu modo de ser e de sua missão: despojado, simples, e encarregado de levar boa notícia aos povos. Os jesuítas, que estão fora das atuais tensões em torno dos vazamentos do Vaticano, são um exército de especialistas com história consolidada e excelentes estruturas para dar todo tipo de apoio necessário à missão que deverá cumprir.
Um segundo sinal é a autoimagem que irradiou do balcão da basílica de São Pedro: ele calcou sua fala espontânea no fato de assumir a diocese de Roma como seu bispo. Assim tratou o povo romano como interlocutor preferencial na praça à sua frente. Do ponto de vista da compreensão teológica, da legitimidade do encargo pontifício, este é o caminho certo: ele não é papa que também é bispo de Roma. É o contrário: é bispo de Roma e por isso é o primeiro entre os demais bispos, que chamamos, a partir de um dado momento da história, de papa. Isso revela um forte acento no governo colegial de todos os bispos, o que é um clamor de muitas vozes na Igreja depois do concílio Vaticano II. Esta visão facilita também o diálogo ecumênico com as demais igrejas cristãs.
Um terceiro e comovente sinal, além da saudação espontânea, foi o pedido de bênção – que o povo rezasse por ele e o abençoasse – antes de ele mesmo abençoar. Em sua primeira fala, há um tratamento no pronome “nós” que tem grande significado para este tempo de participação, um modo de falar de democracia na Igreja. A sua despedida ao povo está próxima de algumas falas de João XXIII, o Papa Bom: “Nós nos veremos em breve, rezem por mim e tenham uma boa noite!”.
Evidentemente, são apenas alguns sinais muito iniciais, como quem quer fazer a multiplicação dos pães ou até tirar leite de pedra. Mas, sabendo de sua vida em Buenos Aires, livre das discussões que assombram as relações do episcopado argentino com a ditadura dos anos de chumbo, vivendo ao estilo dos demais jesuítas, de forma a não recusar se servir de meios públicos de transporte e de serviços da cozinha, pode-se esperar que ele tenha competência e energia para a tarefa firme da reforma sugerida por Bento XVI junto com a simplicidade franciscana do padroeiro da Itália que encanta o mundo e no Brasil é conhecido como companheiro dos pobres, São Francisco das Chagas: quem sabe até não troque os sapatos vermelhos por um par de sandálias?
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