13 Março 2013
O novo Papa, Francisco, tem 76 anos e apresentou sua renúncia como arcebispo de Buenos Aires ao Papa Bento XVI em dezembro de 2011, pouco depois do seu 75º aniversário. Jorge Bergoglio nasceu em Buenos Aires, um dos cinco filhos de um ferroviário italiano e de sua esposa. Depois de estudar no Seminário de Villa Devoto, entrou na Companhia de Jesus em 11 de março de 1958.
Bergoglio obteve uma licenciatura em filosofia no Colegio Máximo San José, em San Miguel, e depois ensinou literatura e psicologia no Colegio de la Inmaculada, em Santa Fe, e no Colegio del Salvador, em Buenos Aires. Foi ordenado ao sacerdócio no dia 13 de dezembro de 1969, pelo arcebispo Ramón José Castellano. Frequentou a Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, um seminário em San Miguel. No fim, Bergoglio obteve a posição de mestre de noviços na instituição e se tornou professor de teologia.
Bergoglio foi provincial dos jesuítas argentinos de 1973 a 1979, durante a ditadura militar. Esse período – não mencionado na sua biografia no site da arquidiocese, que nem sequer menciona que ele é jesuíta – deve ter sido o menos feliz da sua carreira. As acusações também foram reavivadas em 2010 por uma investigação de um jornal que afirmou que Bergoglio foi cúmplice ao entregar às autoridades militares dois jesuítas que trabalhavam em comunidades pobres e que mais tarde foram torturados. O cardeal nega as acusações e diz que ajudou os padres.
Os jesuítas latino-americanos também o acusam de dividir a província argentina e a deixar em ruínas. Eles também o descrevem como um oponente de Pedro Arrupe, o Padre Geral que realizou uma reforma radical da Companhia no espírito do Vaticano II, com uma opção pela justiça em seu centro. Nem o fato de que Bergoglio é jesuíta, nem de que ele foi provincial são mencionados no site da arquidiocese. O Papa Francisco claramente terá algumas reaproximações a fazer com os seus antigos irmãos e com muitos dos seus companheiros argentinos.
A ascensão de Jorge Bergoglio a primaz da Igreja argentina foi rápida e causou alguma surpresa. Embora sem muita experiência pastoral, ele foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires pelo Papa João Paulo II em maio de 1992 e ordenado bispo um mês depois. Ele atuou como vigário episcopal para a região de Flores da capital argentina por pouco mais de um ano antes de ser nomeado vigário geral. Ele foi nomeado coadjutor em junho de 1997 e sucedeu o cardeal Quarracino como arcebispo em fevereiro de 1998, sendo nomeado cardeal em fevereiro de 2001, com a Igreja titular do grande teólogo jesuíta e cardeal São Roberto Belarmino.
Como arcebispo, ele preencheu o papel ao máximo. Amante e estudioso da literatura argentina, ele é eloquente como palestrante e escritor. Em seus sermões, ele tem mostrado grande preocupação pelos pobres, durante as sucessivas crises da economia argentina, e tem sido um crítico notório dos presidentes Nestor Kirchner e de sua esposa e sucessora, Cristina Fernández, acusando-os de "selvagens fantasias de grandeza", de "falta de ideias" e pedindo "humildade e sabedoria".
Bergoglio e os Kirchners nunca se encontraram oficialmente, já que nem o presidente nem o arcebispo faria a viagem até a residência oficial do outro. Ele gerou manchetes em setembro passado, quando criticou padres que se recusavam a batizar os filhos de mães solteiras. "Estes são os hipócritas de hoje", ele teria dito, "as pessoas que estão clericalizando a Igreja, aqueles que bloqueiam o povo de Deus da salvação". Bergoglio seria próximo do movimento Comunhão e Libertação.
Os apelos por justiça social têm sido um tema constante do seu ministério como arcebispo, combinados com uma crítica à política do governo como paternalista. Em um discurso em 2009, ele disse: "Nós não podemos responder realmente ao desafio de erradicar a exclusão e a pobreza, se os pobres são um objeto, o alvo da ação paternalista e de caridade por parte do Estado e de outras organizações, e não sujeitos, para os quais o Estado e a sociedade criam condições que promovam e protejam seus direitos e lhes permitam construir o seu próprio futuro".
Sobre o aborto, o cardeal Bergoglio afirmou que ele "nunca é uma solução (...) Da nossa posição, devemos ouvir, caminhar com as pessoas e entender (...), respeitar o menor e mais indefeso ser humano, adotar medidas para preservar essa vida, permitir o seu nascimento e depois ser criativos na busca de formas para assegurar o seu pleno desenvolvimento". Ele tem se pronunciado particularmente sobre o casamento homossexual, introduzido na Argentina pela legislação federal em 2010. Ele disse:" Não sejamos ingênuos. Não é uma simples campanha política. É uma tentativa para destruir o plano de Deus (...) Esse não é apenas um artigo da legislação, mas sim o trabalho do pai das mentiras para confundir e enganar os filhos de Deus". O diabo, continuou ele, "busca engenhosamente destruir a imagem de Deus, homem e mulher, que receberam o mandato de aumentar, multiplicar e dominar a terra".
Pessoalmente austero, ele deixou o palácio episcopal mudando-se para um pequeno apartamento. Ele come de forma simples, evitando restaurantes, e é feliz usando o transporte público.
Como cardeal, Bergoglio possui vários cargos da Cúria. Ele foi membro da Congregação para o Clero, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, e do Pontifício Conselho para a Família. Ele é membro do Conselho Pós-Sinodal. Em um de seus últimos atos, em fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI nomeou-o para a Pontifícia Comissão para a América Latina.
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Perfil do cardeal Jorge Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires - Instituto Humanitas Unisinos - IHU