20 Fevereiro 2013
Até o conclave, John Allen irá oferecer um perfil a cada dia de um dos papáveis, ou seja, dos homens que poderiam ser papa. Um velho ditado em Roma diz que quem entra em um conclave como papa sai como um cardeal, no sentido de que não há nenhuma garantia de que um desses homens será, de fato, o escolhido. Eles são, no entanto, os principais nomes que causam frisson em Roma nestes dias, garantindo que eles estarão no centro das atenções enquanto o conclave se aproxima. Os perfis desses homens também sugerem as questões e as qualidades que os outros cardeais veem como desejáveis rumo à eleição.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 18-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Angelo Scola
Por consenso, não há nenhum favorito óbvio e evidente rumo à próxima eleição papal, mas o mais próximo de alguém na pole position provavelmente seja o cardeal Angelo Scola, de Milão, de 71 anos.
Scola respira o mesmo ar intelectual de Bento XVI, vindo da escola teológica da Communio, cofundada pelo jovem Joseph Ratzinger no período após o Concílio Vaticano II (1962-1965). Como jovem teólogo, ele publicou livros-entrevista com Henri de Lubac e Hans Urs von Balthasar.
Durante seus anos de faculdade, Scola conheceu o famoso padre italiano Luigi Giussani e tornou-se parte do seu movimento Comunhão e Libertação. Mais tarde, Scola tentou colocar alguma distância entre ele e os ciellini, como são conhecidos os membros do movimento de centro-direita, especialmente porque vários líderes políticos italianos identificados com ele foram envolvidos em escândalos de corrupção.
Mesmo assim, na política eclesial italiana, Scola está inextrincavelmente vinculado ao movimento, que é uma faca de dois gumes – alguns admiram profundamente o Comunhão e Libertação; outros, nem tanto. A ligação com Scola foi solidificada em meio ao escândalo do Vatileaks, que incluía uma carta do sucessor de Giussani ao Papa Bento XVI, em março de 2011, sugerindo que os dois últimos arcebispos de Milão haviam promovido uma postura crítica com relação a alguns aspectos do ensino da Igreja, e que Scola era o melhor candidato para assumir.
Intelectualmente, a área de Scola é a antropologia moral, um assunto que ele lecionou no Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família, da Universidade Lateranense de Roma, antes de tomar posse como reitor.
Os "prós" de Scola são os seguintes.
Primeiro, ele é igual a Ratzinger, mas com um tato popular melhor. Ele se sente confortável com a mídia, muitas vezes mais à vontade do que quando ele se senta e escreve um discurso. Seus textos às vezes podem ser densos, mas seus comentários espontâneos são acessíveis e informais, com uma boa dose de humor.
Segundo, como italiano, ele conhece a configuração do terreno em termos de política vaticana. Como encontrar alguém que possa assumir o controle da Cúria Romana é uma prioridade perceptível entre muitos cardeais, esse é um claro bônus.
Terceiro, Scola tem ampla experiência pastoral, tendo liderado as arquidioceses de Veneza e Milão. Ele não é um burocrata de carreira, e vários cardeais já disseram publicamente que querem um papa com experiência real nas trincheiras pastorais.
Quarto, Scola lançou o projeto "Oasis", em 2004, projetado inicialmente para apoiar os cristãos no Oriente Médio, mas ele cresceu ao longo do tempo e se tornou uma plataforma para o diálogo com o mundo muçulmano. Como as relações com o Islã são consideradas um dos principais desafios para o próximo papa, o histórico de Scola é outra vantagem.
Agora, os "contras" de Scola.
Primeiro, como italiano, ele é arrastado para dentro das rivalidades tribais da cena eclesiástica italiana. Ainda há alguns prelados italianos desconfiados do Comunhão e Libertação, vendo-o já como muito poderoso, e alguns deles podem estar relutantes em votar em um "papa ciellino".
É importante entender que, em grande parte, essas divisões italianas têm pouco a ver com ideologia ou com visões concorrentes da Igreja, embora existam algumas diferenças desse tipo – por exemplo, os círculos em torno do ex-presidente da Conferência Episcopal Italiana, o cardeal Camillo Ruini, convencionalmente são vistos como um pouco mais conservadores do que aqueles em torno do titular, o cardeal Angelo Bagnasco. Em grande parte, no entanto, os contrastes são mais determinados pelas relações pessoais e pelas redes de apadrinhamento.
Segundo, como Scola é um ratzingeriano dedicado em termos de perspectivas intelectuais, aqueles que acreditam que o próximo papa deve ter uma abordagem um pouco diferente, ou ao menos ter um senso de prioridades diferente, podem vê-lo como pura continuidade.
Terceiro, alguns cardeais acreditam que a solução para os perceptíveis problemas de gestão do Vaticano não é eleger outro italiano, mas sim romper o predomínio italiano na cultura interna local. Nesse campo, chegou a hora de realizar a tão prometida "internacionalização" do Vaticano, que começou com Paulo VI e seguiu em frente aos trancos e barrancos tanto com João Paulo II, quanto com Bento XVI.
Quarto, Scola pode estar sofrendo simplesmente por ter estado no centro das atenções por muito tempo, o que permitiu que as opiniões sobre ele se cristalizassem e dificultando que se forme um súbito consenso em torno dele.
Qual a probabilidade de Scola ser um possível sucessor papal?
Considere-se que outro dos documentos que circulou em meio ao caso Vatileaks foi um memorando anônimo, escrito em alemão e passado a Bento XVI por um cardeal aposentado vaticano, que foi apresentado pela mídia italiana como prova de sensacional "complô para matar o papa". Ele parecia retransmitir considerações do cardeal Paolo Romeo, de Palermo, Sicília, durante uma viagem à China, em que Romeo teria dito que Bento XVI seria morto dentro de um ano e seria substituído por um alto cardeal italiano.
O nome desse cardeal? Angelo Scola.
Em uma corrida em que muita publicidade às vezes pode ser o beijo da morte, esse provavelmente não é o tipo de relações públicas destinadas a ajudar nas chances de Scola.
Os fãs, no entanto, insistem que Scola esteve no centro das atenções por muito tempo precisamente porque ele é uma das figuras mais impressionantes do nível superior da Igreja e que o fato de ele não ter se acovardado diante dessas atenções é uma prova de que ele é feito do material certo para ser papa.
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Angelo Scola, um Ratzinger com tato popular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU