Por: Jonas | 06 Fevereiro 2013
O desemprego na União Europeia alcançou 10,7% da população, em dezembro de 2012, sendo que entre os jovens os números mais do que duplicaram, chegando aos 23,4%. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), um organismo tripartite dependente da ONU, do qual participam empregadores, trabalhadores e governos, estima que essa situação não melhore e que, em fins de 2013, desaparecerão mais de cinco milhões de empregos, em nível global, contabilizando 202 milhões de desempregados no mundo.
“Estamos numa situação dramática em matéria de emprego, em nível global. Na Europa, continuam com as políticas de austeridade”, lamenta Guy Ryder (foto) , diretor geral da OIT. Diferente de outros organismos internacionais como o FMI, a OIT não reivindica ajustes, mas enfatiza a necessidade de maiores e melhores políticas ativas de emprego. “É preciso mudar de direção para políticas de incentivo da demanda e criação de emprego. Na América Latina, e na Argentina em especial, a situação é muito melhor”, sustenta Ryder, durante uma entrevista com o jornal Página/12.
Nesta entrevista, Ryder não ocultou a surpresa que lhe gerou “protagonizar” o último pronunciamento em cadeia nacional, em que Cristina Fernández de Kirchner se dirigia a ele em primeira pessoa, ao anunciar a melhora nas aposentadorias e o aumento do mínimo, não tributado no Imposto de Renda. O representante da OIT destaca o papel ativo do Estado em matéria de políticas de emprego e renda, mas também advertiu sobre os elevados níveis de trabalho não registrado que, segundo conta, foi um assunto presente nas reuniões que teve com as quatro centrais sindicais, os empresários do autodenominado Grupo dos Seis e o Ministério do Trabalho.
A entrevista é de Tomás Lukin, publicada no jornal Página/12, 03-02-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Por que a OIT estima que o desemprego atinja 202 milhões de pessoas, em 2013, em nível global?
Nos diferentes fóruns internacionais, cada vez mais se fala da saída da crise, entretanto, no mercado de trabalho a situação piora. Em 2012, desapareceram quatro milhões de postos de trabalho e estimamos que neste ano se atinja cinco milhões de trabalhadores a mais, até chegar a 202 milhões de pessoas sem trabalho, num cenário de crescentes desigualdades. A falta de crescimento econômico, a turbulência financeira e a incerteza limitam a criação de empregos, em nível global. As grandes empresas que possuem muitos fundos, muito dinheiro, não os investem. Para além da situação de incerteza, para sair da crise, é necessário investir em políticas que tenham o eixo no emprego. Na Europa, continuam com as políticas de austeridade. Na Espanha a situação é dramática, o desemprego é de 26% e entre os jovens chega aos 56%. É uma catástrofe social.
Duas semanas atrás, no Fórum Econômico de Davos, a chanceler alemã Angela Merkel afirmou que era necessário continuar com as políticas de ajuste fiscal.
Todos falam dos esforços que os países endividados e com déficits devem fazer. Contudo, a outra cara da moeda é o que podem fazer, e devem fazer, países como a Alemanha. Essas economias têm espaço para incentivar a demanda e gerar crescimento econômico e postos de trabalho. O próprio FMI reconheceu que os efeitos das políticas de austeridade, que eles promoviam, são muito piores do que os previstos, os multiplicadores são muito potentes. O fato de que reconheçam isto, é interessante. Nós pensávamos, desde o início, que a brutalidade das políticas de ajuste e reforma estrutural eram equivocadas. Todos nós reconhecemos que é preciso consolidar as finanças públicas, porém, isto deve ser feito de uma forma mais inteligente, por exemplo, num tempo mais longo. As políticas aplicadas na Espanha e Grécia foram tais, que as economias entraram em recessão, com sérias consequências sociais, sem melhorar sua situação financeira.
A problemática do mercado de trabalho não está presente nos principais fóruns internacionais?
O emprego e as desigualdades voltam a estarem presentes dentro de diferentes fóruns internacionais, mas necessitamos de continuidade. Depois da reunião do G-20 em Pittsburgh, em 2009, o trabalho decente foi deslocado do eixo do debate pelas políticas de austeridade. É importante recuperar o emprego como prioridade do G-20 e a Argentina tem um papel relevante para conseguir isto, colocando o assunto no centro das reuniões deste ano, na Rússia, e também em 2014, na Austrália.
Como você explica que os países da América Latina e Argentina tenham atravessado a turbulência sem entrar em graves crises?
Na América Latina, e na Argentina em especial, a situação é muito melhor, apesar de experimentar um esfriamento no crescimento, pois a região atravessa um bom momento do ciclo econômico. Porém, além disso, pelo fato de que muitos países estão avançando notavelmente em suas políticas de incentivo ao crescimento e ao emprego. Vejo na política do Governo argentino um compromisso com o emprego e com a inclusão social. O Estado assume funções nessa matéria, não deixa as coisas liberadas ao mercado. Abordar a situação do emprego é questão de vontade política.
Na última década, o mercado de trabalho e a distribuição de renda, na Argentina, mostraram melhoras significativas, no entanto, o emprego precário alcança 35% dos trabalhadores. Como se pode abordar essa problemática?
O tema do trabalho não registrado esteve presente em todas as reuniões que mantive com sindicatos e empresários, na Argentina. Todos concordam que se trata de um desafio compartilhado, mas não é um assunto simples. A informalidade no campo não é a mesma que se vê nas ruas de uma grande cidade, são necessárias políticas ativas específicas para cada situação. Não é um problema exclusivo da Argentina, em outros países do continente sobe para 50% dos trabalhadores, ou até mais. Os empregadores possuem uma responsabilidade relevante, mas os governos também possuem, por não controlar.
Qual a sua opinião sobre a atual situação sindical na Argentina?
A existência de várias centrais sindicais não deve ser um problema, e é algo comum em países europeus, como é o caso da França. A legislação argentina diz que há apenas uma central sindical, entretanto, eu me reuni com quatro. Inclusive, faltou uma. Durante meus encontros com as duas CTA, ambas me apresentaram a questão de sua personalidade jurídica e minha resposta é a mesma de sempre. Como diretor geral da OIT, promovo o pleno respeito ao convênio 87, sobre a liberdade sindical. Isto vale para a Argentina e para os outros 185 países que compõem a OIT. É um assunto sobre o qual falamos com as CTA e o Ministério do Trabalho. Eu acredito que há espaços que podem ser explorados e espero que antes da próxima conferência da OIT, em junho, possamos registrar avanços. Considero que há vontade de avançar.
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“A Europa vive uma catástrofe social”, afirma o diretor geral da OIT - Instituto Humanitas Unisinos - IHU