Por: André | 05 Dezembro 2014
De visita a Buenos Aires, a mulher do emblemático preso afirma que Israel “não quer uma liderança palestina forte”, em alusão à alta popularidade de seu esposo. Ele foi condenado a cinco penas de prisão perpétua.
A reportagem e a entrevista são de Adrián Pérez e publicadas no jornal Página/12, 04-12-2014. A tradução é de André Langer.
Fonte: http://bit.ly/1yRWI2y |
Por algum tempo se viram às escondidas, longe dos olhares das famílias. Os encontros clandestinos do casal aconteciam na casa de amigos e em manifestações. Dessa maneira, o casal driblava o assédio militar. Até que em 15 de abril de 2002 o esposo foi preso pelas tropas do exército israelense em Ramala. Marwan Barghouti foi acusado de 26 crimes e de fundar as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa.
Dois anos depois, um tribunal de Tel Aviv o condenou a cinco penas de prisão perpétua pela morte de quatro israelenses e um monge grego, mais de 40 anos de prisão por conspiração, tentativa de assassinato e por pertencer a uma organização terrorista. De visita a Buenos Aires, Fadwa Barghouti (foto) – companheira de vida do líder palestino que protagonizou a primeira Intifada em 1987 – conversou com o Página/12 sobre a prisão do seu marido, a situação dos presos nos cárceres da ocupação e a relação entre o Fatah e o Hamas.
Fadwa é advogada e trabalha com temas vinculados aos direitos humanos. Com Marwan tiveram três meninos e uma menina. Dedicou os últimos 12 anos à campanha pela libertação do deputado do Fatah e dos presos políticos palestinos detidos em cárceres israelenses, iniciativa que ganhou força no ano passado, quando um comitê internacional foi lançado da mesma cela onde Nelson Mandela permaneceu confinado durante 18 anos pelo apartheid sul-africano, outro sistema de segregação.
A ativista do Fatah recorda os dias anteriores à prisão do seu companheiro; diz que a situação palestina era muito intensa naqueles dias, que a invasão israelense a Ramala era um segredo de polichinelo. O último encontro foi uma despedida. Marwan pediu-lhe que cuidasse dos filhos. Pensava que seria sequestrado ou assassinado (em um dos dois atentados que sofreu, um míssil transformou o carro que dirigia em uma brasa ardente).
Fadwa não pôde visitá-lo nos primeiros quatro anos de reclusão: Marwan foi enviado ao setor de isolamento. Desde 2005, visita-o uma vez a cada duas semanas na prisão de Hadarim, perto de Tel Aviv, onde 120 palestinos permanecem privados de sua liberdade. Há presos do Hamas e da Frente Popular pela Libertação da Palestina, mas a maioria é do Fatah, disse a mulher.
Eis a entrevista.
Que recursos podem interpor para libertar o seu esposo?
O povo pressiona os líderes palestinos para que forcem a ocupação israelense para que o libertem; solicita ao governo para que não participe das negociações se antes não libertarem a ele e os outros presos. Também poderia haver uma troca de presos, como ocorreu com o soldado (Guilad) Shalit; naquela vez o governo de Israel não aceitou a troca incluindo o líder.
Por que não é possível a troca de presos no caso de Marwan?
Israel não o deixa em liberdade porque não se importa com o processo de paz. Caso fosse assim, pensaria nos líderes palestinos que querem a paz e são estimados pelo seu povo. Sabem que Marwan Barghouti, em todos os anos que está sequestrado, liderou pesquisas de popularidade. A ocupação israelense não quer uma liderança palestina forte. Marwan Barghouti é símbolo da unidade e tem o respeito de todas as facções palestinas que redigiram conjuntamente um documento de presos para a união palestina.
Qual é a situação dos palestinos nas prisões israelenses?
Mais de dois mil palestinos foram sequestrados nos últimos três meses. Há sete mil presos. Com o argumento da segurança, Israel impede que qualquer palestino visite o seu familiar preso. Há 25 deputados do Conselho Legislativo Palestino, 250 menores e 20 mulheres nas prisões israelenses. A situação dos presos é uma causa política de primeiro grau.
Onde se inscreve a mulher palestina nesse contexto?
Muitas foram presas, exiladas ou perseguidas. A mulher palestina luta em duas frentes: para ter sua posição, tomar decisões na sociedade e contra a ocupação israelense.
Marwan assinalou que a divisão entre facções representava um ponto obscuro na história da luta palestina.
No nível político, de liderança, essa divisão não terminou. São grupos pequenos, limitados, com interesses nessa separação. É uma briga por um assento que não existe. E é uma liderança que não existe porque estamos sob ocupação.
Trata-se de grupos que respondem ao Fatah ou ao Hamas?
A ambos os setores, além de intervenções internacionais e regionais para que os palestinos não se unam. Isto beneficia a ocupação israelense, porque não haverá Estado sem Gaza. E esta divisão significa que a Faixa de Gaza e a Cisjordânia estão sozinhas.
Que chances há para que se produza uma nova Intifada?
Ninguém pode dizer ou determinar se haverá ou não outra Intifada. A Intifada é o resultado das circunstâncias vividas pelo povo palestino: os assentamentos, as violações e ataques cometidos pelos colonos; o muro do apartheid que continua em construção.
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Palestina. “Barghouti é símbolo de unidade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU