27 Novembro 2014
Um novo livro recoloca o decrescimento como alternativa aos defeitos do desenvolvimento sustentável, percorrendo sua história e comparando definições. Qualquer um que tenha assistido a Quarta Conferência Internacional sobre Decrescimento, na cidade alemã de Leipzig, notou rapidamente que ninguém estava fazendo uma ode ao desenvolvimento sustentável.
A reportagem é de Justin Hyatt, publicada por portal Envolverde/IPS, 25-11-2014.
No entanto, o desenvolvimento por si só e tudo o que traz consigo ocuparam o centro das atenções, enquanto cerca de três mil participantes e oradores debatiam sobre as tendências atuais nas áreas de ambiente, política, economia e justiça social.
Como pode não ficar claro de imediato o motivo de uma multidão que promove os princípios ecológicos pedir o fim do desenvolvimento sustentável durante a conferência realizada em Leipzig em setembro, se tornam necessários alguns esclarecimentos.
Os movimentos sociais evoluíram e atravessam períodos de transformação. Quando o termo “desenvolvimento sustentável” começou a ser usado, nas décadas de 1970 e 1980, apoiou a presunção de que os princípios ambientais gerais e os limites geológicos mínimos deveriam ser respeitados na hora de se abordar o desenvolvimento.
O conceito de “desenvolvimento sustentável” rapidamente ganhou aceitação em grande escala. A Comissão das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável é apenas uma das muitas agências (inter)governamentais ou verticais criadas nas três últimas décadas para incluir objetivos ambientais em seus planos e suas políticas.
Porém, segundo Federico Demaria, membro da organização Research & Degrowth em Barcelona, a ideia do desenvolvimento sustentável se baseia em um falso consenso. Ao se desconstruí-la, descobre-se que continua se tratando do desenvolvimento, “e é aí que se instala o problema”, explicou à IPS.
“Desenvolvimento” é uma má palavra nos círculos favoráveis ao decrescimento. De uma posição estratégica do realismo econômico, o desenvolvimento está inexplicavelmente conectado ao crescimento econômico. Porém, os promotores do decrescimento creem firmemente que o crescimento econômico não cumpre o que promete: maior bem-estar humano. “Daí nos encontrarmos em um lugar no qual precisamo abordar os defeitos do desenvolvimento sustentável de uma nova perspectiva”, destacou Demaria.
Foi com a esperança de fazer precisamente isso que Demaria, Giorgos Kallis e Giacomo D’Alisa escreveram o livro Degrowth: A Vocabulary for a New Era (Decrescimento: Vocabulário Para Uma Nova Era), que acaba de ser publicado pela editora Routledge. Além de aportar várias definições, o livro percorre os antecedentes históricos do movimento pelo decrescimento.
Conta que nos anos 1970, quando foram publicados livros como The Limits to Growth (Os Limites Para o Crescimento), de Dennis e Donella Meadows, não se falava de outra coisa que não fossem os limites dos recursos. Agora, no que se pode considerar uma segunda etapa, saltam ao primeiro plano as críticas à ideia hegemônica do desenvolvimento sustentável.
Foi Serge Latouche, antropólogo econômico, que definiu o desenvolvimento sustentável como um oximoro. O fez em A Bas Le Développement Durable! Vive a Décroissance Conviviale! (Abaixo o Desenvolvimento Sustentável. Longa Vida ao Decrescimento Amigável), em uma conferência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), realizada em 2002 em Paris.
Latouche e outros começaram a dar forma ao movimento francês, que se autodenominou “décroissance” e depois se expandiu para outros países, chamando-se “decrescita” na Itália e “decrescimento” na Espanha. Por volta de 2010 foi cunhado o termo em inglês “degrowht”.
Embora em Leipzig se tenha questionado o nome do movimento, Latouche e Demaria afirmam que a palavra “decrescimento” é a que melhor define o principal objetivo: a abolição do crescimento econômico como objetivo social.
Talvez seja François Schneider, outro pioneiro desse postulado, quem tenha proporcionado a definição mais exata do decrescimento, apontando-o como “a redução equitativa da produção e do consumo que reduzirá o processamento de energia e matérias-primas das sociedades”.
Segundo os autores do novo livro, o objetivo de tudo isso não é simplesmente ter uma sociedade que possa se ajeitar com menos, mas se reorganizar de maneira diferente e com uma qualidade distinta.
Embora ninguém possa prever quando e como ocorrerá a transição para o decrescimento, Demaria ressaltou que já há exemplos em marcha, como o Movimento Social Bem Viver na América do Sul. Ele e outros esperam que, após a conferência de Leipzig, o ambientalismo seja repolitizado.
“Quando decidirmos que não temos medo de falar sobre as plenas implicações do desenvolvimento, sejam econômicas, sociais ou políticas, começaremos a ver que é uma realidade utópica pensar que nossas sociedades podem se basear no crescimento econômico para sempre”, ressaltou Demaria. “O decrescimento, por contraste, realmente oferece o sentido mais comum de todos”, acrescentou.
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O decrescimento busca se redefinir - Instituto Humanitas Unisinos - IHU