14 Novembro 2014
Os latino-americanos que nasceram em famílias católicas vêm, cada vez mais, deixando este credo e convertendo-se a igrejas protestantes, enquanto que muitos outros abandonaram de vez todo tipo de religião organizada na maior mudança da identidade religiosa da região, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira.
O estudo também mostrou que o Papa Francisco possui alta popularidade na América Latina, com dois terços ou mais da população expressando opinião positiva. No entanto, ele também sugere que o apelo do papa não vem sendo suficiente para deter as perdas de fiéis católicos em toda a região para as igrejas protestantes, especialmente para as comunidades pentecostais.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 13-11-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Embora 84% dos adultos latino-americanos digam que foram criados católicos, apenas 69% atualmente se identificam como tal, informou o Centro de Pesquisas Pew, em Washington. Ao mesmo tempo, os protestantes ganharam membros. Cerca de 1 em cada 10 latino-americanos foram criados protestantes, mas quase 1 em 5 se consideram, hoje, protestantes. Cerca de 4% dos latino-americanos informam que foram criados sem religião, mas 8% dizem não ter nenhum vínculo com as religiões.
A pesquisa do Centro de Pesquisas Pew [Pew Research Center, em inglês], intitulada “Religião na América Latina” [1], foi realizada entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014. Ele revela que o catolicismo é a única denominação cristã que perdeu terreno na região em anos recentes. Os católicos ainda representam mais de dois terços da população adulta em 9 dos 18 países latino-americanos e um território estadunidense (Porto Rico) pesquisados.
O relatório destaca o desafio para os líderes católicos numa região que foi, certa vez, o seu reduto principal. A América Latina ainda tem cerca de 425 milhões de católicos, ou 40% dos fiéis de todo o mundo, segundo a pesquisa. Mas o êxodo continua.
Os resultados sugerem que os latino-americanos acolheram amplamente o papa, ex-arcebispo de Buenos Aires, primeiro pontífice nascido na região. Em seu país de origem, Francisco tem uma aprovação geral que chega aos 98%. Em todos os 14 países analisados, pelo menos a metade dos católicos dizem ter uma opinião “muito favorável” sobre o pontífice.
No entanto, os autores do relatório disseram que os ex-católicos são mais céticos com relação ao papa do que aqueles que ainda se encontram na Igreja; ele é altamente considerado pela maioria de ex-católicos somente na Argentina e no Uruguai. Porcentagens substanciais de ex-católicos também dizem ser muito cedo falar se Francisco representa uma mudança real, ou para se identificar um “efeito Francisco” tangível.
A pesquisa perguntou a ex-católicos que se converteram ao protestantismo sobre os motivos da mudança. Das oito explicações oferecidas, as mais frequentemente citadas foram a necessidade de uma relação mais pessoal com Deus e um estilo diferente de culto.
Quanto a questões morais, tais como o aborto, sexo fora do casamento, divórcio e casamento homoafetivo, os católicos na América Latina tendem a ser menos conservadores do que os protestantes. Isso poderia ser considerado um outro motivo para a conversão, já que 60% dos adultos que deixaram a Igreja Católica assim o fizeram buscando uma denominação que colocasse forte ênfase na moralidade.
Em geral, segundo os dados da pesquisa, tanto católicos quanto protestantes são mais conservadores do que os hispânicos nos Estados Unidos.
25% dos hispânicos protestantes e 49% dos hispânicos católicos nos EUA apoiam o casamento homoafetivo, segundo os dados levantados, enquanto que nos países latino-americanos, exceto em quatro deles, o apoio ao casamento gay fica abaixo dos 20% para os protestantes e abaixo dos 40% entre os católicos. (Uruguai, Argentina, México e Chile são as exceções.)
Quanto ao controle de natalidade, 66% dos católicos latino-americanos apoiam o uso de métodos artificiais para contracepção, e 60% acreditam que o Vaticano deveria acabar com a proibição aos divorciados e recasados.
Quando perguntados sobre a forma mais importante como os cristãos podem ajudar os pobres, os católicos em quase todos os países latino-americanos apontaram o trabalho de caridade. Em contraste, uma maioria dos protestantes acredita que “trazer os pobres e necessitados a Cristo” é a melhor forma de ajudá-los.
Paradoxalmente, o número de protestantes latino-americanos que se envolvem em trabalho caritativo é, em princípio, maior do que o de católicos.
O movimento religioso que mais cresce na América latina é o pentecostalismo cristão, um estilo de oração e culto altamente animado com base nos “dons do Espírito Santo”, incluindo curas, visões e falar em línguas.
Especialistas consultados pelo Centro de Pesquisas Pew ofereceram duas razões principais para este crescimento: a compatibilidade do pentecostalismo com as religiões indígenas, e o fato de que muitos latino-americanos enxergam o pentecostalismo como um meio para a prosperidade econômica.
Os países mais católicos foram o México, com 81% de católicos e 9% de protestantes, e o Paraguai, com 89% de católicos e 7% de protestantes.
O Uruguai surgiu como o país mais secular da América Latina, com 37% das pessoas dizendo ser ateias ou agnósticas, ou não tendo afiliação religiosa. Apenas 42% das pessoas do Uruguai dizem ser católicas.
As mais de 30 mil entrevistas face a face foram realizadas em todos os países de língua espanhola da América Latina, exceto Cuba. A margem de erro varia entre os países, tendo em média 3 pontos, para mais ou para menos.
Nota da IHU On-Line: Os links da pesquisa do Pew Research Center podem ser conferidas aqui.
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A popularidade do Papa não consegue deter o declínio do catolicismo na América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU