26 Outubro 2014
Nos dias 27, 28 e 29 de outubro de 2014, em Roma, realiza-se o Encontro Mundial de Movimentos Populares, promovido pelo Vaticano.
No dia 28, os participantes do evento serão recebidos em audiência pelo Papa Francisco.
A programação oficial do Encontro é precedida por uma descrição da inspiração do evento e de seus objetivos.
A programação oficial do evento, em inglês e espahol, pode ser lida a seguir. A tradução é de Isaque Gomes Correa. Do Brasil, participa do Encontro, João Pedro Stédile, da coordenação nacional do MST. Igualmente estará presente Evo Morales, presidente reeleito da Bolívia.
Eis a programação.
Não podemos mais confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado. O crescimento equitativo exige algo mais do que o crescimento económico, embora o pressuponha; requer decisões, programas, mecanismos e processos especificamente orientados para uma melhor distribuição das entradas, para a criação de oportunidades de trabalho, para uma promoção integral dos pobres que supere o mero assistencialismo. Longe de mim propor um populismo irresponsável, mas a economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos – (Evangelii Gaudium, parágrafo 204).
Perante o conflito, alguns limitam-se a olhá-lo e passam adiante como se nada fosse, lavam-se as mãos para poder continuar com a sua vida. Outros entram de tal maneira no conflito que ficam prisioneiros, perdem o horizonte, projetam nas instituições as suas próprias confusões e insatisfações e, assim, a unidade torna-se impossível. Mas há uma terceira forma, a mais adequada, de enfrentar o conflito: é aceitar suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo no elo de ligação de um novo processo. “Felizes os pacificadores” (Mt 5, 9)! – (Evangelii Gaudium, parágrafo 227).
Introdução
A cultura do encontro a serviço dos pobres e das populações pobres
“Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais” (Evangelii Gaudium, parágrafo 202).
O pensamento o Papa Francisco e a forma como ele vem constantemente acompanhado os excluídos em suas lutas e esforços de organização nos inspirou e motivou a realizarmos este Encontro Mundial de Movimentos Populares. Desejamos trazer a Deus, à Igreja e ao mundo a voz dos que não têm voz, não porque eles não gritam mais, mas sim porque suas vozes são silenciadas por aqueles que detêm o poder econômico.
Queremos praticar a cultura do encontro no serviço das pessoas pobres, das populações pobres e desta Igreja pobre para os pobres que, juntamente com o Santo Padre, todos ansiamos.
Queremos ouvir uns aos outros, julgar e agir a partir das vivências daqueles setores mais gravemente golpeados em sua dignidade pela injustiça social, por uma economia de exclusão, por um sistema que idolatra o dinheiro.
Queremos debater juntos quais são as causas estruturais de tanta desigualdade que nos rouba o trabalho, a moradia e a terra, que gera violência e destrói a natureza.
Nós também queremos enfrentar o desafio que o próprio Francisco nos colocou com coragem e inteligência: buscar propostas radicais para resolver os problemas dos pobres.
O Encontro Mundial de Movimentos Populares reúne líderes sociais vindos dos cinco continentes, representantes de organizações de base estabelecidas por aqueles que se viram vulneráveis, que foram ameaçados ou que tiveram diretamente cerceado o seu direito inalienável ao trabalho decente, à moradia digna e à terra fértil. Estes movimentos representam três setores sociais cada vez mais excluídos:
a) o de trabalhadores precarizados, migrantes, temporários e os que participam no setor popular, informal e/ou autogerido, sem proteção legal, reconhecimento sindical nem direitos trabalhistas;
b) os camponeses, os sem-terra, os povos originários e as pessoas em risco de serem expulsas do campo por causa da especulação agrícola e da violência; e
c) as pessoas, muitas delas migrantes e deslocadas, que vivem nos subúrbios e assentamentos informais, marginalizados, esquecidos, sem infraestrutura urbana adequada.
Também participam do encontro organizações sindicais, sociais e de direitos humanos que se aproximam destes movimentos e que foram nomeadas a se fazerem presentes. Por fim, contaremos com a participação de bispos e agentes pastorais, autoridades do Pontifício Conselho de Justiça e Paz e pesquisadores da Pontifícia Academia de Ciências.
Durante os três dias de intenso trabalho, debateremos a partir de três eixos fundamentais: terra, moradia e trabalho. Estes são direitos que deveriam estar ao alcance de todas as pessoas e povos. No entanto, eles se encontram cada vez mais distantes da grande maioria, especialmente das gerações mais novas. O Papa Francisco denunciou esta situação em incontáveis ocasiões e vem constantemente defendendo:
a) a centralidade do trabalho decente para a prosperidade das famílias e das populações: “É através do trabalho livre, criativo, participativo e solidário que o ser humano exprime e engrandece a dignidade da sua vida” (Evangelii Gaudium, parágrafo 192);
b) o direito inegável à moradia digna: Existem “numerosas famílias sem casa, quer porque nunca a possuíram quer porque a perderam por vários motivos. Família e casa caminham juntas. É muito difícil levar em frente uma família sem morar numa casa. Convido a todos –pessoas, entidades sociais, autoridades – a fazer todo o possível para que cada família possa ter uma casa” (IV Domingo de Advento, 22 de dezembro de 2013);
c) e a importância do campesinato: “É necessário reconhecer cada vez mais o papel da família rural e desenvolver todas as suas potencialidades... A família, na verdade, estimula o diálogo entre diferentes gerações e lança as bases para uma verdadeira integração social, bem como a representação desejada sinergia entre o trabalho agrícola e sustentabilidade: quem está mais preocupado do que as famílias rurais a preservar a natureza para o futuro gerações? E para quem está interessado em mais do que sua coesão entre os indivíduos e os grupos sociais?” (Mensagem a José Graziano da Silva, diretor da FAO, Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro de 2014).
Dentro da programação do Encontro, serão abordados também dois problemas que afetam principalmente os excluídos: a violência fraticida e a destruição do meio ambiente. O Papa Francisco destaca a relação próxima:
a) entre a guerra e o sistema econômico idolátrico: “Um sistema que, para sobreviver, deve fazer guerra (...), em que vendem-se armas, e com isso os balanços financeiros das economias idolátricas – as grandes economias mundiais que sacrificam o homem – se recuperam” (entrevista do Papa Francisco ao jornal espanhol Vanguardia); e
b) entre a violência e a desigualdade social: “Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar a explosão” (Evangelii Gaudium, parágrafo 59).
Da mesma forma, o Santo Padre adverte que:
a) a natureza está à mercê do poder econômico: “Neste sistema que tende a fagocitar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta” (Evangelii Gaudium, parágrafo 56).
b) a natureza está constantemente sob ataque pela cultura do descarte: “E Deus, nosso Pai, confiou a tarefa de conservar a terra não ao dinheiro, mas a nós, aos homens e às mulheres; somos nós que temos esta tarefa! No entanto, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo: é a ‘cultura do descarte’” (Audiência Geral, quarta-feira, 5 de junho de 2013).
Os movimentos populares, a partir dos setores mais empobrecidos da sociedade, se levantam em todo o mundo para enfrentar a falta de terra, de moradia e trabalho, para erradicar a violência e proteger a natureza. Eles buscam potencializar a indispensável contribuição deles para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna, dado que a terra “é a nossa casa comum, e todos somos irmãos” (Evangelii Gaudium, parágrafo 183).
Nós, os pobres, queremos ser os nossos próprios protagonistas, e a Igreja quer acompanhar este processo. Entendemos que a diversidade de experiências, pensamentos e contextos não são um obstáculo, mas sim enriquece os nossos debates dentro da cultura do encontro. Damos graças a Deus por nos permitir celebrar este encontro, que esperamos ser uma contribuição para a nossa compreensão dos graves problemas sociais que nos atingem e para a coordenação das ações necessárias a fim de superá-los.
Participantes
Além dos nomes acima mencionados, participam, entre outros, Luz Francisca Rodriguez, do Chile, representante da Via Campesina, Sergio Sánchez, da Federación Argentina de Cartoneros y Reciladores e da Alianza Global de Recicladores, Jockim Arputham, da National Slum Dwellers Federatiion of India e da Slum Swellers International, Lázaro Edgardo García Aguilar, da Associação dos Trabalhadores do Campo da Nicarágua, Juan Grabois, da Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular da Argentina. Também participará como conferencista Michael Czerny, jesuíta, que trabalha no Pontifício Conselho Justiça e Paz. Ele proferirá a conferência "Papa Francisco: Acompanhar os movimentos populares".
No dia 28, o presidente do Estado Plurinacional da Bolívia e presidente da CONALCAM - Coalition of National Social Movements, Evo Morales, proferirá a conferência "Plurinacionalidade, o Estado e os Movimentos Populares".
Para ver a programação completa, em inglês e espanhol, clique aqui.
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Encontro Mundial de Movimentos Populares é promovido pelo Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU