23 Outubro 2014
Os 43 estudantes da Normal de Ayotzinapa, desaparecidos desde o dia 26 de setembro, em Iguala, Guerrero, foram assassinados, sustenta o sacerdote e ativista de direitos humanos Alejandro Solalinde (à esquerda na foto), que inclusive desmentiu, ontem, o Procurador geral da República, que negou que algum dos 28 cadáveres incinerados, encontrados em cinco fossas, corresponda a algum dos desaparecidos.
Fonte: http://goo.gl/dKB9Oc |
A reportagem é de Gerardo Albarán de Alba, publicada por Página/12, 21-10-2014. A tradução é do Cepat.
“O Estado – seja no nível que for – levaram-lhes. Balearam, assassinaram, levaram e desapareceram com eles. Não importa se os entregaram ao crime organizado, porque fazem parte do mesmo. Isto é um crime de Estado”, disse Solalinde.
Enquanto prossegue a incerteza e a impunidade em torno dos estudantes desaparecidos, o Governo Federal assumiu o controle absoluto da segurança pública em 14 municípios do estado de Guerrero e em mais um no estado do México, onde com o apoio do Exército e da Marinha armada desarmaram os policiais locais.
No fim de semana, a Procuradoria Geral da República (PGR) insistiu em que os estudantes normalistas foram vítimas dos “Guerreros Unidos”, um bando do crime organizado, cujo líder foi capturado na quinta-feira e a quem o próprio procurador Jesús Murillo Karam atribui ter declarado que o ocorrido com os estudantes da Normal de Ayotzinapa foi uma “situação casual”, que ele não teria ordenado, mas que “também não se opôs”.
Até o momento, 68 pessoas foram presas. Dessas, 49 são policiais municipais e os demais membros do bando “Guerreros Unidos”, incluindo seu líder, Sidronio Casarrubias Salgado, “El Chico”, irmão do fundador do grupo, Mario Casarrubias Salgado, “El Sapo Guapo”, detido em abril deste ano, em Toluca, a capital do estado do México. O Congresso do estado retirou o foro constitucional que protegia o prefeito de Iguala, vinculado ao cartel dos irmãos Beltrán Leyva, e já é formalmente um refugiado da Justiça.
Porém, nada disso convence Solalinde. Muito menos acredita na versão do Procurador, que nega que os 28 cadáveres encontrados em cinco fossas correspondam a algum dos estudantes desaparecidos.
“São eles, são os estudantes, e o Estado sabe disso”, disse Solalinde, que desde o fim de semana contou a versão que recebeu dos estudantes, familiares de desaparecidos e “de alguns policiais que são obrigados a trabalhar para o crime organizado”. Ainda mais, os primeiros depoimentos que obteve, na semana passada, provêm de um sobrevivente dos dois ataques armados contra os estudantes normalistas. No domingo, pessoas “que estiveram lá” confirmaram “com riqueza de detalhes” a mesma história: “Desde o primeiro momento, soube que alguns dos garotos que foram atacados duas vezes com armas de fogo foram feridos e que outros caíram mortos. Daí, eles levaram 43, com alguns feridos. Foram levados para um lugar onde os fizeram caminhar um trecho... Havia várias fossas. Nelas foram colocados, alguns vivos, entre lenhas e madeira, tábuas, jogaram diesel e os queimaram”.
A postura do sacerdote, diretor do albergue para migrantes Irmãos no Caminho, em Ixtepec, Oaxaca, reforça-se com declarações à imprensa da Equipe Argentina de Antropologia Forense, que participa na identificação dos cadáveres calcinados, encontrados em fossas clandestinas em Iguala, e que ainda não tem os resultados finais de sua própria investigação, que não ficará pronta até a primeira semana de novembro.
Solalinde compareceu ontem mesmo ao escritório do procurador geral da República, Jesús Murillo Karam, que lhe fez chegar um convite para escutar pessoalmente sua versão dos fatos ocorridos no dia 26 de setembro. Um funcionário da PGR, “muito amável”, aproximou-se dele, na sexta-feira passada, enquanto celebrava em plena rua, em frente à Secretaria de Governo, as exéquias de Margarita Santizo Martínez, que morreu de câncer após procurar, infrutuosamente, por seu filho, desaparecido desde 2009. Solalinde aceitou de imediato se reunir com Murillo Karam. No domingo, voltou a se encontrar com pessoas ligadas de uma forma ou outra com o desaparecimento dos estudantes normalistas, durante uma missa celebrada na Basílica de Guadalupe, uma celebração religiosa na qual não o deixaram celebrar como sacerdote e que, durante a homilia, ignoraram os familiares dos desaparecidos aí presentes.
A primeira informação recebida pelo ativista de direitos humanos foi que apenas “alguns” dos estudantes desaparecidos teriam sido assassinados, “mas não, confirmaram-me que não foram alguns dos mortos, foram todos”, declarou Solalinde.
Após 25 dias do ataque contra os estudantes, em que morreram três deles e outras três pessoas inocentes, os familiares dos 43 desaparecidos apenas querem que se acabe com tudo. “Nós os queremos vivos ou mortos, mas os queremos conosco”, conta Solalinde, que disse: “O mais terrível – lamenta – é que acredito que nem isso terão, nem os corpos vão recuperar. Esses garotos permanecerão sempre desaparecidos, porque não deixaram nem sequer rastro deles”.
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Caso dos estudantes mexicanos. “Balearam e desapareceram com eles” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU