20 Outubro 2014
Desde o ano de 2013, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU vem promovendo seminários, conferências, entrevistas, artigos e reportagens sobre a temática a ser debatida no XIV Simpósio Internacional IHU. Revoluções Tecnocientíficas, Culturas, Indivíduos e Sociedades. A modelagem da vida, do conhecimento e dos processos produtivos na tecnociência contemporânea.
O Simpósio ocorrerá nesta semana, nos dias 21 a 23 de outubro de 2014, na Unisinos.
Nos marcos da civilização tecnocientífica a humanidade se defronta com desafios, paradoxos e contradições verdadeiramente admiráveis. Por um lado, abundância dos megamercados globais, riqueza e vida ativa de multidões; por outro, desperdícios incalculáveis e zonas planetárias inteiras afetadas pela miséria e pela violência as quais crescem também no interior mesmo das grandes metrópoles do mundo.
A civilização tecnocientífica é uma conquista monumental da humanidade cuja existência é inseparável de seus aparatos técnicos e científicos, mas suas contradições internas são incomensuráveis. Deste fato, nos encontramos em uma encruzilhada de muitos labirintos. O que liberta, aprisiona e o que salva, condena. O que fazer? Que atitudes adotar diante das revoluções tecnocientíficas que arrastam a tudo e a todos praticamente sem chances de retorno?
Assim, considerando as vastas implicações e a enorme importância da tecnociência na vida social, profissional e subjetiva, política e econômica, bem como os efeitos e os impactos da tecnologia na sociedade atual, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU promovendo este XIV Simpósio Internacional IHU busca desenvolver uma reflexão crítica e transdisciplinar que auxilie a pensar o sentido, as implicações e os desafios teóricos e práticos da contemporaneidade tecnocientífica para a vida.
Este Guia de Leitura apresenta as edições dos Cadernos IHU ideias e da revista IHU On-Line que discutem e debatem o tema deste Simpósio.
(Para acessar aos artigos e edições da revista, basta clicar nas imagens).
Sociedade tecnológica e a defesa do sujeito, de Karla Saraiva, professora da ULBRA, problematiza os processos de subjetivação que acontecem na atualidade, traçando uma orientação geral acerca do que seria a defesa do sujeito na sociedade tecnológica. Para tanto, ela apresenta uma discussão para estabelecer o entendimento de sujeito e de sociedade tecnológica que serão assumidos no âmbito deste trabalho.
Assume-se como hipótese que a defesa do sujeito passa pela constituição de espaços de liberdade para a criação de si.
A seguir, são apresentadas quatro produções cinematográficas que retratam distopias tecnológicas, traçando possíveis relações com alguns medos e riscos identificados na sociedade contemporânea. Finaliza-se o artigo fazendo um balanço muito sucinto das possíveis perdas e ganhos que as tecnologias têm trazido e dos perigos a serem enfrentados na constituição dos sujeitos da sociedade tecnológica.
Os riscos e as loucuras dos discursos da razão no campo da prevenção, de Luis David Castiel, pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública – FIOCRUZ.
A abordagem se concentra na “ideologia da prevenção generalizada”. A partir de uma visão crítica, Castiel aponta os problemas da chamada hiperprevenção e os altos níveis de ansiedade que nossa sociedade alcançou, buscando o controle supremo sobre qualquer evento que fuja “à normalidade ou à previsibilidade”.
Produções tecnológicas e biomédicas e seus efeitos produtivos e prescritivos nas práticas de saúde e de gênero, sob autoria de Marlene Tamanini, professora da Universidade Federal do Paraná – UFPR e membro do Núcleo de Estudos de Gênero da mesma instituição.
A autora analisa como os efeitos de interferências tecnológicas no corpo humano podem afetar as relações de gênero e outras formas de relações sociais, debatendo, entre outros temas, a reprodução assistida, a doação de óvulos e espermatozoides, os tratamentos de fertilidade e processos de reconhecimento de maternidade e paternidade nas novas configurações familiares produzidas por este contexto.
Já uma edição dos Cadernos IHU ideias publica a contribuição de Miguel Ângelo Flach, filósofo gaúcho, sob o título As origens históricas do racionalismo, segundo Feyerabend. O artigo examina as origens históricas do “racionalismo” desde a Antiguidade no contexto da cultura grega arcaica.
Para Feyerabend, um nascente pensamento racional abstrato perpassa o surgimento da filosofia coincidindo com a ascensão de um racionalismo por erigir a “Razão” (o “R” maiúsculo ilustra criticamente o poder a ela atribuído) como fonte de tradição que, ao relegar a abundância da história, simplificou a última pretensiosamente se afirmando como história única acima de todas as formas de vida.
Outra contribuição relevante é do filósofo catalão Jordi Maiso, que proferiu a conferência no Instittuto Humanitas Unisinos – IHU, em 2013, sobre a biologia sintética e os desafios para a ética e a bioética contemporâneas.
O texto é uma reflexão crítica sobre esta disciplina emergente, sondando os desafios éticos, filosóficos e políticos que a biologia sintética suscita. Para isso, analisam-se os pressupostos políticos do projeto da “bioengenharia”, tanto no que se refere à sua compreensão tácita da vida, como ao modo em que concebe a relação entre tecnociência, sociedade e vida, que constitui todo um programa.
O texto oferece uma panorâmica das problemáticas que emergem com a nova disciplina e descreve os seus possíveis impactos a médio e longo prazo.
A 194ª edição dos Cadernos IHU ideias publica a colaboração da doutora em Direito e professora da UERJ Heloisa Helena Barboza. O artigo intitulado A Pessoa na Era da Biopolítica: autonomia, corpo e subjetividade aborda os efeitos de algumas interferências no corpo humano, que suscitam questões jurídicas à luz do direito brasileiro.
Mais precisamente, o debate se centra no corpo como locus de construção da identidade do ser humano, a qual se dá à luz da autonomia e da subjetividade, em sua possível harmonização com o Direito.
Considera-se o corpo do início do século XXI, que traduz de modo bastante claro a era da biopolítica, cenário que fornece os elementos e onde se desenvolve o mencionado processo de construção.
A autora descreve, brevemente, os conceitos trabalhados no texto, especialmente o de biopolítica, como formulado por Michel Foucault.
Laboratórios e Extrações: quando um problema técnico se torna uma questão sociotécnica, de autoria de Rodrigo Ciconet Dornelles, antropólogo, debate o quão técnica é de fato a prática científica laboratorial ao analisar as práticas sociais (ou sociotécnicas) que se desenvolvem neste espaço, colocando em cena a questão relativamente recente no debate teórico-conceitual nas ciências sociais, que é a da agência dos humanos, assim como a dos não humanos.
Ele analisa, a partir do seu estudo etnográfico, a ciência como uma rede que articula uma infinidade de atores, e as práticas sociais que envolvem o dia a dia de um laboratório.
Ciência e Justiça: considerações em torno da apropriação da tecnologia de DNA pelo direito sob autoria de Claudia Fonseca, professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
A autora discute a apropriação do conceito de “verdade” a partir da ciência que é encontrada no campo jurídico, focando especialmente os casos de tecnologia de DNA utilizados em processos criminais e de reconhecimento de paternidade.
O artigo de Jelson Roberto de Oliveira, Da magnitude e ambivalência à necessária humanização da tecnociência segundo Hans Jonas, analisa o diagnóstico realizado por Hans Jonas a respeito do cenário tecnológico moderno no que tange ao aumento do poder tecnocientífico e sua consequente alteração no sistema de valores, trazendo novas exigências éticas.
Serão analisados os conceitos de magnitude e ambivalência da técnica, ou seja, a ampliação do poder humano geográfica e temporalmente e, ao mesmo tempo, a sua diluição no âmbito moral, já que o seu bem e mal já não são passíveis de clara definição.
Tratar-se-ia, assim, de uma aposta não facultada ao homem. O problema seria, então, como estabelecer freios voluntários para a técnica, ou seja, um “poder sobre o poder”.
Para Jonas, os valores tradicionais se “envelheceram” e se tornaram insuficientes no novo cenário, frente ao qual ele afirma ser urgente o desenvolvimento de uma qualificada capacidade preventiva e a admissão da austeridade como valor primeiro. A isso o autor chama de “humanização da técnica”.
Sobre o Dispositivo: Foucault, Agamben e Deleuze é o título do artigo de Sandro Chignola, professor e pesquisador da Universidade de Pádua, Itália, publicado por Cadernos IHU ideias, no. 214.
"Como qualquer um que tenha lido na íntegra os textos de Foucault, afirma Chignola, Agamben reconhece que, na metade dos anos 1970, o uso do termo “dispositivo” por Foucault é frequente e generalizado. Muitos críticos, e até mesmo Agamben, notaram que este uso do termo por Foucault nunca teve uma definição completa."
E ele continua:
"Reconduzir a retomada dos sistemas de pensamento ao possível – isto é, à 'experiência nua' (expérience nue) da ordem e de 'seus modos de ser', como Foucault define – significa atingir o plano sobre o qual está a 'atitude positiva' do conhecimento implantado nos saberes que definem a ordem do discurso de uma determinada fase histórica.
Perguntamo-nos então, sobre a sua origem, onde Foucault buscou o termo 'dispositivo'. Para me aproximar do problema, vou me concentrar, nesta ocasião sobre uma densa conferência agambeniana de 2006."
Letícia de Luna Freire no texto A Ciência em Ação de Bruno Latour discute as concepções de ciência em ação conforme concebidas na obra do sociólogo e filósofo francês Bruno Latour. Para tal, estabelece os termos e críticas afirmados por Latour sobre os estudos tradicionais desenvolvidos sobre a ciência que mantém intacta a separação entre estudos de conteúdo científico e de contexto social.
Para dar conta deste problema epistemológico, Latour propõe o que se convencionou chamar mais tarde de Teoria Ator-Rede. Neste contexto, surge então uma ferramenta metodológica importante não apenas para os estudos de sociologia da ciência, como também para os campos da economia, política, antropologia, história e demais ciências sociais.
Os arranjos colaborativos e complementares de ensino, pesquisa e extensão na educação superior brasileira e sua contribuição para um projeto de sociedade sustentável no Brasil, de Marcelo F. de Aquino, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e reitor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos.
O texto busca entender o homo technicus, a organização da sociedade humana e os novos paradigmas postulados para a sociedade da informação a partir da tecnociência. Para tanto, utiliza elementos retirados tanto da mecânica quântica como das humanidades para, assim, estabelecer parâmetros do papel da universidade neste processo.
Igualmente, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU publicou, sobre o tema central do XIV Simpósio Internacional IHU, várias edições da revista IHU On-line, da qual destacamos quatro edições.
432ª edição – Transgênicos no Brasil. 10 anos depois o debate continua. No dia 13 de junho de 2003, a Lei 10.688 institucionalizou o cultivo de organismos geneticamente modificados (OGMs) no País. A decisão ainda hoje é polêmica. Ativistas alertam para a permissividade e os riscos da transgenia; já os defensores acreditam que as leis restritivas impedem o Brasil de ser protagonista no uso da tecnologia.
Dez anos depois, a revista IHU On-Line convida pesquisadores e pesquisadoras, professores e professoras para debater a questão, que continua extremamente atual. Contribuem para o debate Leonardo Melgarejo, Marcos Silveira Buckeridge, Arnaud Apoteker, Juliana Dantas de Almeida, Sérgio Sauer, Moacir Darolt e Elizabeth Bravo.
429ª edição – Biologia sintética. O redesenho da vida e a criação de novas formas de existência. O Projeto Biologia Sintética foi apresentado e debatido, na Unisinos, por iniciativa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, pelos pesquisadores do Centro de Ciencias Humanas y Sociales – CSIC, em Madri, Jordi Maiso Blasco e José Antonio Zamora Zaragoza, que também contribuíram com entrevistas para esta edição.
Enriquecem o debate ampliado pela IHU On-Line os professores e pesquisadores José Manuel de Cózar-Escalante, Antonio Diéguez-Lucena, Paul Rabinow e Gaymon Bennett e Carlos Maria Romeo-Casabona, que desenvolvem estudos sobre bioética, nanotecnologias e os dilemas do pós-humanismo.
423ª edição – As revoluções tecnocientíficas e a modelagem das feminilidades, hoje. A modelagem das feminilidades favorecidas pelas revoluções tecnocientíficas contemporâneas é o tema de capa da IHU On-Line.
Participam do debate Marlene Tamanini, Diana Maffía, Maristela Mitsuko Ono, Marília Gomes de Carvalho, Carolina Ribeiro Pátaro e Leonor Graciela Natansohn.
420ª edição – A medicalização da vida. A autonomia em risco.
O tema é debatido por profissionais e pesquisadores tanto da área da saúde como também de outros campos do conhecimento.
Contribuem para o debate Charles Tesser, Luis David Castiel, Fábio Alexandre Moraes, José Roque Junges, Maria Stephanou, Ricardo Teixeira, Sandra Caponi e Rosangela Barbiani.
417ª edição - A autonomia do sujeito, hoje. Imperativos e desafios. Examinar o conceito de autonomia em suas diferentes acepções e, sobretudo, analisar a herança e atualidade kantiana para compreendermos os desafios que se colocam em nosso tempo a partir do protagonismo e responsabilidade do sujeito é o tema em discussão desta edição da revista IHU On-Line.
Contribuem para o debate Jerome B. Schneewind, Oswaldo Giacoia, Paul Valadier, Mario Fleig, Daniel Tourinho Peres, Vinícius Berlendis Figueiredo, Carlos Josaphat e Rejane Schaefer Kalsing.
Observação importante: Além destas indicações de leitura, há inúmeras entrevistas e artigos igualmente publicados no portal do IHU como "Notícias do Dia" e "Entrevista do dia".
Boa leitura e um ótimo Simpósio a todas e todos!
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Revoluções Tecnocientíficas, Culturas, Indivíduos e Sociedades. Guia de leitura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU