03 Outubro 2014
Os estudantes que encabeçam as manifestações por mais democracia e os governos de Pequim e Hong Kong endureceram suas posturas nesta quinta-feira e, com isso, aumenta o clima de tensão. Frente à ameaça dos líderes dos protestos de aumentar os atos de desobediência civil e ocupar edifícios oficiais se até a meia-noite o chefe do executivo local, Leung Chun-Ying, não renunciar, a polícia advertiu que não descarta o uso da força se os manifestantes intensificarem sua campanha de mobilização.
A reportagem é de Macarena Vidal Liy, publicada pelo jornal El País, 02-10-2014.
Um porta-voz da polícia de Hong Kong, o superintendente Hui Chun-Tak, assegurou que farão o “uso apropriado da força” se a situação piorar. “Reafirmamos que a polícia não vai tolerar nenhum bloqueio ilegal dos edifícios oficiais”, advertiu. Os organizadores dos protestos pediram que famílias com crianças abandonem a área de concentrações, enquanto que os agentes transferiram para a sede da Administração autônoma caixas com o que parece ser, segundo imagens que circulam nas redes sociais, material para enfrentar os distúrbios.
Enquanto isso, um porta-voz do Executivo pediu que as dezenas de milhares de manifestantes dissolvessem a concentração. Depois de dois dias festivos, na sexta será retomado o trabalho e mais de 3.000 funcionários tentarão chegar a seus postos de trabalho no complexo governamental, bloqueado pelos protestos. Se os funcionários da administração não puderem entrar, “isso afetará a ordem pública e o fornecimento de serviços aos cidadãos”, assegurou o porta-voz governamental.
Pequim também subiu o tom contra os protestos. Os meios oficiais advertiram que se as manifestações continuarem, poderiam causar o “caos” na cidade. O jornal oficial do Partido Comunista da China, O Diário do Povo, adverte em um editorial publicado esta quinta que “o Governo central continuará apoiando de maneira firme e inflexível as medidas legais e as políticas que adotem de acordo com a lei, (o chefe do governo local) Leung e a polícia autônoma contra estes protestos ilegais”.
O editorial acusa os manifestantes de se comportarem de maneira “egoísta”, um dos piores insultos de acordo com a maneira de pensar na República Popular chinesa.
O comentário do jornal chega depois de que o próprio ministro de Assuntos Exteriores chinês, Wang Yi, que visita os EUA para participar da Assembleia Geral da ONU, advertiu contra qualquer possível ingerência estrangeira na situação. “Os assuntos de Hong Kong são assuntos internos chineses. Esperamos que os países respeitem a soberania chinesa”, declarou Wang na quarta-feira antes de se reunir em Washington com o secretário de estado norte-americano, John Kerry. O ministro também qualificou as mobilizações em Hong Kong de “atos ilegais”. “Nenhum país, nenhuma sociedade permitiria estes atos ilegais que violam a ordem pública”, sustentou.
Os manifestantes exigem a renúncia de Leung como um primeiro passo necessário antes da realização de uma reforma eleitoral que permita a celebração de comícios sob sufrágio universal e com livre designação de candidatos, o objetivo principal. Até o momento, o sistema eleitoral é de sufrágio indireto muito limitado.
Pequim tinha prometido introduzir o sufrágio universal na ex-colônia britânica nas eleições de 2017. Mas em 31 de agosto apresentou uma reforma que, apesar de reconhecer o voto para todos, impõe uma série de normas para a indicação de candidatos implicando que, segundo os manifestantes, qualquer aspirante que se apresente terá que contar com a aprovação prévia do Governo central.
Embora até o momento tenha se limitado a esperar e ver, sem intervir diretamente em Hong Kong, o Governo central declarou expressamente seu apoio a Leung. E também deteve simpatizantes no território da China continental que tinham expressado de alguma maneira seu apoio aos manifestantes em Hong Kong, segundo denunciou a organização China Human Rights Defenders.
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Aumenta a tensão entre o Governo e os manifestantes em Hong Kong - Instituto Humanitas Unisinos - IHU