26 Setembro 2014
"Os escritos de, pelo menos, 4 das cinco teólogas aproximam-se muito das ideias de João Paulo II e Bento XVI nos assuntos que dizem respeito às mulheres. Pode-se apostar que elas concordam com Müller em que as mulheres não podem ser ordenadas – como sacerdote sou diaconisas – porque as mulheres não podem espelhar o Cristo", escreve Phyllis Zagano, pesquisador da Universidade de Hofstra e vencedor do Prêmio Isaac Hecker para Justiça Social, edição 2014, em artigo publicado pela National Catholic Reporter, 24-09-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
O Papa Francisco deixou bem claro: quer mais mulheres se envolvendo nos assuntos da Igreja. Ouvir o que elas têm a dizer poderia estar incluído aqui, você não acha?
Dois prelados parecem ter compreendido a mensagem.
Na Irlanda, o bispo diocesano de Killaloe, Kieran O’Reilly, cancelou os planos de apresentar apenas a metade (a metade masculina) do antigo ministério do diaconato após objeções feitas pelos seus ministros leigos e muitos outros de fora da diocese. Enquanto isso, em Roma, o cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teve sua chapa com cinco mulheres aprovada para a reconfigurada Comissão Teológica Internacional – CTI.
Será que as coisas estão melhorando? Será que as vozes das mulheres vão ecoar dentro dos palácios episcopais e corredores curiais? Quem sabe.
A situação irlandesa pode ser um exemplo de que um bispo pelo menos compreendeu a mensagem. Com cerca de 100 sacerdotes para a sua diocese relativamente grande – que corta a Irlanda desde o litoral atlântico no condado de Clare passando por Limerick, Tipperary e Offaly até Laois, próximo do outro fim da ilha –, O’Reilly pensou que os diáconos fossem uma grande ideia. A sua carta pastoral listou todas as coisas que os diáconos poderiam fazer. Qual o problema? A maioria das tarefas já são realizadas por ministros leigos. Melhor dizendo, são feitas por mulheres: ministras leigas. Então, as mulheres poderiam continuar fazendo o trabalho, mas seriam os homens quem estaria pregando, batizando e realizando os casamentos.
Levou aproximadamente um dia para que elas se organizassem. A queixa era simples: por que acrescentar uma classe clerical entre os padres e os ministros leigos, especialmente quando o próprio plano pastoral do bispo prometia “empoderar as mulheres e homens”? Assim, dentro de poucas semanas depois de anunciar o seu desejo em ter um diaconato só composto por homens na Diocese de Killaloe, o bispo voltou atrás.
Boa notícia? Quem sabe.
Enquanto isso, na Congregação para a Doutrina da Fé, seus membros estão se preparando para receber as cinco mulheres nomeadas para participar na Comissão Teológica Internacional – CTI, criada pelo Papa Paulo VI há 45 anos quando ele formalmente buscou conselhos de muitos líderes destacados do Concílio Vaticano II. Entre estes estavam o passionista Barnabas Ahern; o oratoriano Louis Bouyer; o dominicano Yves Congar; o beneditino Cipriano Vagaggini; os jesuítas Walter Burghardt, Bernard Lonergan, Henri de Lubac e Karl Rahner; um ex-jesuíta, Hans Urs von Balthasar; 20 outros; e Joseph Ratzinger.
O Papa Francisco disse que queria mais mulheres em cargos de responsabilidade; as suas palavras foram precisamente estas: “uma presença feminina mais incisiva na Igreja”, que foram pronunciadas numa entrevista dada ao editor jesuíta Antonio Spadaro. Francisco usou a palavra “incisivo” novamente apenas em janeiro.
A cada cinco anos, a CTI substitui seus membros. Há dez anos, as duas primeiras mulheres se juntaram ao grupo. Hoje, cinco mulheres e 25 homens fazem parte do organismo. Assim, parece que o cardeal Müller entendeu a ideia.
Será que sim?
As mulheres nomeadas a pedido dele aparentemente pertencem ao ramo mais conservador da filosofia e da antropologia. Além da Irmã Alenka Arko da Comunidade Loyola na Federação Russa/Eslovênia, sobre a qual pouco pode ser encontrado, as demais irão certamente apoiar o pensamento do cardeal a respeito das mulheres:
• Tracey Rowland, reitora do Instituto João Paulo II para a Família e o Matrimônio, de Melbourne, Austrália, e autora de seis livros sobre Ratzinger;
• Marianne Schlosser, professora de espiritualidade na Universidade de Viena, que escreveu sobre virgindade consagrada e contribuiu em obras escritas sobre Ratzinger;
• Moira McQueen, diretora do Instituto Católico Canadense de Bioética;
• e a Irmã Prudence Allen, ex-professora de filosofia no seminário de Denver que, atualmente, faz parte da capelania da Universidade de Lancaster, na Inglaterra, e que está terminando o seu importante estudo sobre o conceito filosófico de mulher desde 750 a.C. até os tempos modernos.
Os escritos de, pelo menos, 4 das cinco aproximam-se muito das ideias de João Paulo II e Bento XVI nos assuntos que dizem respeito às mulheres. Pode-se apostar que elas concordam com Müller em que as mulheres não podem ser ordenadas – como sacerdote ou diaconisas – porque as mulheres não podem espelhar o Cristo. Pode-se apostar também que elas têm, ou irão ter, argumentos para apoiar as doutrinas da Igreja sobre quaisquer questões sociais nevrálgicas da atualidade, da natureza das relações homossexuais ao controle de natalidade e assim por diante. No caso de que elas não estejam atualizadas sobre o que outras teólogas – em particular, as teólogas americanas – estão dizendo, o ex-czar doutrinal da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, o capuchinho Thomas Weinandy, foi acrescentado à CTI.
Portanto, nenhuma diaconisa na Diocese de Killaloe, e cinco mulheres na CTI.
Boa notícia? Má notícia? Quem poderá dizer?
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Cinco teólogas na Comissão Teológica Internaconal. Compreenderam a mensagem? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU