Por: Jonas | 23 Setembro 2014
“A religião é autêntica fonte de paz e não de violência! Matar em nome de Deus é um grande sacrilégio! Discriminar em nome de Deus é desumano”. Foi o que disse o Papa Francisco ao se reunir com os líderes religiosos na Universidade Católica Nossa Senhora do Bom Conselho, em Tirana. Durante o encontro com os líderes das cinco maiores comunidades religiosas do país (muçulmanos, bektashies, católicos, ortodoxos e evangélicos), o Papa recordou que a Albânia foi “tristemente” testemunha das violências e os dramas que pode “causar a exclusão forçosa de Deus da vida pessoal e comunitária”.
Fonte: http://goo.gl/WNecUj |
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 21-09-2014. A tradução é do Cepat.
Em sua saudação inicial ao Papa, o arcebispo de Scutari, Angelo Massafra, disse que é hora de “passar da intolerância à fraternidade”. “Quando, em nome de uma ideologia, quer-se arrancar Deus da sociedade - disse -, acaba-se por adorar ídolos, e rapidamente o homem perde a si mesmo, sua dignidade é pisoteada, seus direitos são violados. Vocês sabem a quais brutalidades a privação da liberdade de consciência e da liberdade religiosa podem conduzir, e como desta ferida se gera uma humanidade radicalmente empobrecida, porque carece de esperança e de referências ideais”.
“As mudanças que foram verificadas a partir dos anos 90 do século passado – disse Francisco – tiveram como efeito positivo a criação das condições para uma efetiva liberdade de religião. Isto permitiu que todos possam oferecer, inclusive a partir da própria convicção religiosa, uma contribuição para a reconstrução moral, antes que econômica, do país”.
João Paulo II, em 1993, recordou Francisco, disse também na Albânia que “a liberdade religiosa é um baluarte contra todos os totalitarismos e uma contribuição decisiva para a fraternidade humana”. A verdadeira “liberdade religiosa foge das tentações da intolerância e do sectarismo, além de promover atitudes de diálogo respeitoso e construtivo”.
Não podemos deixar de reconhecer - disse Francisco - que a intolerância para com aqueles que possuem convicções religiosas diferentes das próprias é uma inimiga muito ardilosa, que, infelizmente, vai se manifestando hoje em diferentes partes do mundo. Como crentes, devemos estar particularmente atentos para que a religiosidade e a ética que vivemos com convicção e que testemunhamos com paixão sejam sempre expressadas com atitudes dignas do mistério que pretendem honrar, rejeitando com decisão como não verdadeiras, porque não são dignas de Deus, nem do homem, todas as formas que representem um uso desfigurado da religião”.
Porém, a liberdade religiosa, explicou o Papa, não pode ser garantida “unicamente pelo sistema legislativo vigente, ainda que necessário: ela é um espaço comum, um ambiente de respeito e colaboração que deve ser construído com a participação de todos, inclusive daqueles que não tenham nenhuma convicção religiosa”. “Não se pode dialogar, caso não se parta da própria identidade”, enfatizou o Papa.
O Papa indicou duas das atitudes corretas para promovê-la: “Ver em cada homem e em cada mulher, inclusive em todos os que não pertençam à própria tradição religiosa, não rivais e muito menos inimigos, mas, sim, irmãos e irmãs”, porque “quem está seguro das próprias convicções não necessita se impor, exercer pressões sobre o outro, sabe que a verdade tem uma força própria de irradiação”. Todos “dependemos uns dos outros, somos encomendados uns aos outros. Cada tradição religiosa, a partir de seu próprio interior, deve conseguir expressar a existência do outro”.
A segunda atitude é o compromisso pelo bem comum. “Toda vez que a adesão à própria tradição religiosa faz com que germine um serviço mais acreditado, mais generoso, mais desinteressado para toda a sociedade, há um autêntico exercício e desenvolvimento da liberdade religiosa. Esta, então, mostra-se não apenas como um espaço de autonomia legitimamente reivindicado, mas, sim, como uma potencialidade que enriquece a família humana com o seu progressivo exercício. Quanto mais se está a serviço dos demais, mais se é livre!”.
E, como compromissos específicos, o Papa apontou as “necessidades dos pobres” e os caminhos que a sociedade deve encontrar para chegar a uma “justiça mais difundida, para um desenvolvimento econômico que inclua”. Nestes campos de ação, “homens e mulheres inspirados nos valores das próprias tradições religiosas podem oferecer uma contribuição importante, mais ainda, insubstituível. Este é um terreno fecundo também para o diálogo inter-religioso”.
Ao final do discurso escrito, que havia preparado, o Papa acrescentou: “Há um princípio claro: não se pode dialogar, caso não se parta da própria identidade; seria um diálogo fantasma! Cada um de nós tem a sua própria identidade; caminhemos juntos sem fazer finta de ter outra, isto seria relativismo e hipocrisia. Temos em comum a vida, a boa vontade de fazer o bem aos irmãos e cada um oferece ao outro o testemunho da própria identidade”.
Ao ver o grupo de religiosos que estava reunido ao seu redor, brincou: “Parece uma partida de futebol: os católicos de um lado e todos os demais do outro”.
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“Matar em nome de Deus é um grande sacrilégio”, denuncia Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU