15 Setembro 2014
Os corpos de quatro líderes indígenas ashaninka da Comunidade Nativa Alto Tamaya–Saweto, no Peru, assassinados a balas há mais de uma semana, em território peruano, quando se deslocavam para participar de uma reunião na aldeia Apiwtxa do Rio Amônia, no lado brasileiro, para definir estratégias contra a ação madeireiros e narcotraficantes que atuam na fronteira dos dois países, ainda não foram resgatados pelo governo peruano.
A reportagem é de Altino Machado, publicada pelo Blog da Amazônia, 11-09-2014.
Helicópteros usados pelos peruanos na tentativa de resgatar os corpos de Edwin Chota Valera, Jorge Ríos Pérez, Leoncio Quinticima Melendez e Francisco Pinedo não conseguiram pousar nesta quarta-feira (10) no local dos crimes por causa das condições do tempo. Existe a possibilidade de que os ashaninka decidam resgatar os corpos de seus parentes.
Consultado pela reportagem, o cônsul peruano em Rio Branco (AC), Sandro Baldarrago, disse que os pilotos dos helicópteros esperam que o tempo melhore para que possam fazer nova tentativa de pouso na região.
- Essa zona é complexa, pois existe exploração ilegal de madeira e a presença de narcotraficantes. Mas nossas autoridades não abandonaram os corpos dos indígenas. Elas estão fazendo, a pedido do presidente de nosso país, tudo o que é possível para que os delinquentes sejam identificados e punidos pela Justiça. Nosso presidente também determinou que seja prestada assistência aos familiares das vítimas – acrescentou Baldarrago.
Nesta quarta, um grupo de 16 ashaninka da aldeia Apiwtxa do Rio Amônia se deslocou até a aldeia Saweto. De acordo com o relato do grupo, que saiu às 9h e retornou às 20h, os ashaninka foram assassinados em território peruano a uma hora e meia de caminhada da linha de fronteira, em um local de descanso, próximo da aldeia Apiwtxa.
Os indígenas encontraram ossos de várias partes do corpo (como arcada dentária, crânio, fêmur, entre outros) de um dos líderes assassinados, como também óculos e outros pertences das vítimas, havendo vestígios de que os corpos das outras vítimas possam ter sido arrastadas ao longo do barranco do Rio Putaya.
De acordo com os membros da missão, os corpos das outras três vítimas podem ter sido levados por uma enchente do Rio Putaya, na quarta, quando choveu forte chuva na região.
Segundo os ashaninka, o corpo encontrado pode ser do líder do Jorge Pere, que parece ter sido morto com um tiro na nuca. Os irmãos da vítima, que participaram da missão e habitam a comunidade Ashaninka Apiwtxa, o reconheceram por causa da sua roupa e da bolsa com seus pertences que estava junto os ossos.
- Também foram encontrada uma mochila do líder Chota, que também foi reconhecida pelos participantes da missão. A câmera fotográfica de Chota também foi encontrada próxima ao ocorrido e se encontra em mãos dos membros da comunidade Apiwtxa. Também foram encontradas capas de cartuchos calibre 16 que podem ter sido disparadas contra as vítimas. Os restos mortais encontrados foram somente fotografados e filmados e foram deixados no local do ocorrido – relataram os ashaninka.
Os familiares de umas das vítimas, que moram na aldeia Apiwtxa, e as lideranças da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia pedem urgentemente a providência no processo de investigação dos culpados e que os corpos sejam, após as perícias necessárias, sepultados no local do ocorrido, respeitando os rituais tradicionais do povo asheninka.
Cinco agentes da Polícia Federal e um servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) já estão na aldeia Apiwtxa, no município de Marechal Thaumaturgo (AC).
Os quatro indígenas ashaninka foram assassinados entre os dias 1º e 2 de setembro. Eles participariam de uma reunião com as lideranças brasileiras da mesma etnia sobre estratégias de continuidade de ações de vigilância e fiscalização da fronteiriça, para impedir a ação de narcotraficantes e de madeireiras, que exploram ilegalmente a região.
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Corpos de indígenas assassinados continuam na fronteira com Peru - Instituto Humanitas Unisinos - IHU