06 Agosto 2014
De 24 de julho a 1º de agosto, uma delegação dos Estados Unidos visitou El Salvador, interessada em aprender mais sobre as lutas por justiça dos mártires de El Salvador, quase 25 anos depois de seus assassinatos. A delegação foi patrocinada pela Rede de Solidariedade Inaciana, uma rede nacional de justiça social fundada em 2004 e inspirada na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola.
A reportagem é de Edgardo Ayala, publicada por Catholic News Service, 02-08-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Em pé, à beira do jardim onde seis padres jesuítas foram mortos em 1989, Echol Nix está certo sobre qual mensagem ele está levando consigo para os Estados Unidos.
"Não se deve desistir... fazer o que for possível para ajudar os mais vulneráveis. Essa é a mensagem que estou levando comigo", disse Nix, que ensina religião na Universidade Furman, em Greenville, na Carolina do Sul.
A poucos metros do jardim, no campus da Universidade Centro-Americana, cartazes exibem os nomes e fotografias dos jesuítas assassinados: os padres Ignacio Ellacuría, Ignacio Martin-Baro, Segundo Montes, Joaquin Lopez y Lopez, Juan Ramon Moreno e Amando Lopez.
Julia Elba Ramos, a cozinheira na residência jesuíta, e sua filha, Meredith Celina Ramos, de 15 anos, também foram mortas pela mesma unidade militar.
Nix visitou El Salvador de 24 de julho a 1º de agosto como parte de uma delegação dos Estados Unidos interessada em aprender mais sobre as lutas dos mártires de El Salvador por justiça, quase 25 anos depois de seus assassinatos. A delegação foi patrocinada pela Rede de Solidariedade Inaciana, uma rede nacional de justiça social fundada em 2004 e inspirada na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola. Ela trabalha em parceria com universidades jesuítas, escolas e paróquias, junto com muitas outras instituições católicas e outros parceiros de justiça social.
"Esta viagem é uma oportunidade de compreender profundamente a história de El Salvador, as histórias dos mártires e de seu legado", disse Christopher Kerr, diretor-executivo da rede, ao Catholic News Service.
Os visitantes participaram de fóruns sobre o legado dos seis jesuítas e conheceram mais sobre sua vida espiritual e seu extenso trabalho acadêmico como professores e pesquisadores na universidade.
"É quase como fazer uma peregrinação (...) Estou aqui para honrar o que os mártires fizeram por El Salvador, e, por extensão, para todo o mundo, ensinando-nos a importância da educação", disse Bryan Kokensparger, professor de jornalismo da Creighton University, em Omaha, Nebraska.
Eles também visitaram comunidades pobres em San Salvador e passaram fins de semana em casas de famílias em cidades rurais como Arcatao e Guarjila, no norte do departamento de Chalatenango. Durante a guerra civil, essas cidades foram ocupadas por militares por estar sob controle da guerrilha.
El Salvador teve uma sangrenta guerra civil entre 1980 e 1992, o ano em que guerrilheiros da Frente Nacional de Libertação Farabundo Martí assinaram um acordo de paz com o governo de Alfredo Cristiani, encerrando um conflito que deixou cerca de 75.000 mortos.
Em novembro de 1989, no contexto de uma guerrilha ofensiva em larga escala, uma unidade de comando do exército salvadorenho treinada pelos Estados Unidos entrou no campus da universidade, onde os sacerdotes viviam, os levaram para o jardim e os assassinaram. As duas mulheres foram assassinadas no interior da residência.
Devido ao seu trabalho por justiça em El Salvador, os jesuítas tinham sido marcados como "terroristas" por parte do exército e da ala ultradireita de setores do governo.
Em maio de 2011, um juiz espanhol, Eloy Velasco, emitiu mandados de captura internacionais contra nove oficiais salvadorenhos acusados de conspirar para matar os sacerdotes, cinco dos quais eram cidadãos espanhóis de nascimento.
No entanto, El Salvador se recusou a extraditar os acusados, protegidos pela lei de anistia de 1993. Mas as organizações de direitos humanos, nacionais e internacionais, têm afirmado que crimes contra a humanidade não deveriam ser beneficiados pela anistia.
"É decepcionante que a justiça ainda não chegou, mas nós sabemos quem fez isso, nós sabemos o que aconteceu, e o que é bom é que estamos avançando na direção da justiça", disse Kerr. "Chegará o dia em que veremos uma clara decisão em busca da justiça".
Em agosto de 2013, em Boston, um juiz condenou o coronel Inocente Orlando Montano, ex-ministro da Segurança de El Salvador e um dos policiais acusados dos assassinatos jesuítas, a 21 meses de prisão depois de julgá-lo culpado de fraude de imigração e perjúrio.
O legado dos mártires da Universidade Centro-Americana hoje se reflete nos alunos, como em Marina Garcia, que estuda economia.
"Meu objetivo não é apenas obter meu diploma, mas ajudar a criar uma sociedade com justiça social, como os jesuítas ensinaram", disse ela.
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Em El Salvador, norte-americanos veem de perto o legado dos jesuítas assassinados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU