21 Julho 2014
"Este é um novo genocídio. A nossa denúncia deve ser forte." O dramático apelo é de Dom Amel Nona, arcebispo de Mosul, a cidade do Iraque donde milhares de cristãos estão fugindo depois da nova perseguição por parte dos jihadistas do Estado Islâmico.
A reportagem é de Francesco Semprini, publicada no jornal La Stampa, 20-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A poucas horas do início da nova onda repressiva, Nona se encontrou em Ankawa, algumas dezenas de quilômetros além da fronteira do Curdistão iraquiano, com os outros líderes religiosos cristãos do centro e do norte do Iraque, Bashar Matiwardah, arcebispo de Erbil, e Nichodemus Daoud Matti Sharaf, da Igreja Ortodoxa Siríaca de Mosul, Kirkuk e Curdistão.
O objetivo é unir as forças para mostrar ao mundo inteiro o que está acontecendo nessas regiões, "mais um episódio daquela perseguição aos cristãos que continua desde 1913".
"As coisas – explica – se precipitaram na sexta-feira. Começamos a receber uma enorme quantidade de telefonemas de Mosul e arredores de pessoas que pediam ajuda e conselhos. A polícia islâmica e o Isis tinham desencadeado uma caça aos cristãos. Uma vez interceptados, concediam-lhes duas opções: fugir ou morrer."
O prelado conta também que os jihadistas invadiram as casas, levando tudo, passaportes, documentos, dinheiro, joias e celulares. "Centenas de famílias foram despojadas de todos os seus bens antes de serem expulsas da cidade. Outros foram espancados nos postos de controle dos islamitas enquanto fugiam."
E depois aquela palavra escrita nas portas das casas dos cristãos: "Nazraniy", um modo para identificá-los de forma pejorativa: "É por isso que se trata de um novo genocídio." O primeiro passo é denunciar ao mundo o que está acontecendo e, depois, proceder de imediato à ajuda dos deslocados, a primeira onda das quais deve ser de 2.500 pessoas.
"Nós já acolhemos cerca de 50 famílias em uma das nossas igrejas de Al-Qosh", pouco acima de Tall Kayf, a chamada terra de fronteira, a da linha de fogo onde a distância entre o último ponto de verificação peshmerga e o primeiro do Estado Islâmico é de apenas um quilômetro. É daí que fogem os cristãos, graças aos corredores de segurança criados pelos "Guerreiros que enfrentam a morte" e pela Unicef.
E é justamente o responsável da Unicef no Iraque, Marzio Babille, que logo quis se encontrar com Nona "para coordenar as operações de primeiro socorro e proteger os perseguidos". Babille explica que, até agora, 900 deslocados já poderiam chegar em Ankawa, enclave cristão no norte de Erbil.
"Tragédia na tragédia", continua o arcebispo de Mosul. "No dia 4 de junho, eu fui celebrar missa em uma paróquia fora de Mosul. No dia seguinte, tentei entrar novamente na cidade, mas ocorreu o que vimos." E que ainda não acabou.
Desde então, Nona não voltou mais para Mosul e ajuda os seus concidadãos de fora, acolhendo-os na fuga: "Então, eu disse que o pior ainda estava por vir, e assim foi".
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''Entram nas casas e levam tudo. É um genocídio'', denuncia arcebispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU