Por: Cesar Sanson | 14 Julho 2014
Nesta segunda (14), completa um ano que o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, foi detido por policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha próximo à sua casa e nunca mais apareceu.
A reportagem é de Osni Alves e publicada pelo portal do jornal Folha de S.Paulo, 13-07-2014.
Os 29 policiais acusados de envolvimento no caso aguardam julgamento na Justiça comum. A investigação mostrou que Amarildo foi torturado até a morte, mas o corpo nunca foi encontrado. O mais velho dos seis filhos biológicos do pedreiro, Anderson Dias, 22, diz que a família ainda sonha em encontrar os restos mortais do pai para "dar um enterro digno".
Segundo o rapaz, "a Rocinha melhorou muito depois que os PMs do caso saíram da comunidade." Ele afirma que aqueles policiais aterrorizavam os moradores. Atualmente, a família mora em uma parte mais alta do morro da Rocinha, numa casa com sala, cozinha, dois quartos e lavanderia. "Antes, nossa casa era do tamanho dessa sala", conta, mostrando um espaço de 9 metros quadrados. "Dormíamos um por cima do outro".
A nova residência, de dois andares com uma laje, foi comprada e mobiliada com dinheiro angariado em um leilão promovido pela produtora cultural Paula Lavigne.
Três meses após o desaparecimento de Amarildo, a família passou a receber do Estado, como indenização, um salário mínimo por mês. O dinheiro, porém, é insuficiente para as despesas da casa, segundo Dias, que tem três irmãos mais novos que ainda frequentam a escola.
A viúva do pedreiro, Elisabeth Gomes da Silva, 48, largou o emprego de diarista após o desaparecimento e hoje lava roupas para fora. "Ela ficou muito abalada com o que aconteceu. Nosso pai era o pilar da casa, trabalhava de carteira assinada, salário acima de R$ 1.000 e fazia serviços extras na comunidade como pedreiro".
Segundo o rapaz, Elisabeth tem problemas com o álcool. Ela chegou a ficar dez dias desaparecida, mas deu notícias à família na última quinta-feira (10) de Cabo Frio (RJ), onde estava com o namorado. Para familiares, ela ficou deprimida com a proximidade da data e voltou a beber e se drogar em junho deste ano.
O filho Anderson, por sua vez, tenta engrenar uma carreira como modelo e treina artes marciais.
Truculência
Para o rapaz, qualquer outra pessoa da comunidade poderia ter sido vítima do que aconteceu com Amarildo. Segundo ele, os abusos de autoridade por parte dos policiais militares eram frequentes, assim como as abordagens truculentas. "Aquele grupo de policiais estava aterrorizando a favela", diz.
A família morava perto de uma boca de fumo e, de acordo com o rapaz, por mais de uma vez os policiais pediram para entrar e revistar a casa. Além disso, os PMs também ameaçavam seus irmãos, diz. Depois de algum tempo, Amarildo tirou satisfação com um deles, que não gostou de ser confrontado. "Outros pais também 'peitaram'. Eles davam tiros pro alto e tapas nas pessoas", relata.
Ele afirma que nenhum de seus irmãos teve ou tem envolvimento com o tráfico. O Inquérito Policial Militar concluído na semana passada determina que os policiais militares citados devem responder às acusações na Justiça comum. Todos eles, porém, podem ser expulsos da corporação pela Corregedoria Interna.
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Após um ano, família ainda sonha em dar 'enterro digno' a Amarildo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU