Por: Caroline | 12 Junho 2014
Os arqueólogos a definiram como “a Pompéia israelense”, mesmo que aqui não se mantenham as construções intactas como na cidade cristalizada pela lava aos pés do Vesúvio, algum evento natural teve que ocorrer para que a vida nesta cidade, as margens do largo de Tiberíades, parasse no primeiro século da era cristã. Aqui acaba de ser descoberta uma das sete sinagogas mais antigas do mundo, a mais antiga da Galileia, onde estão conservadas peças de afresco e partes do pavimento em mosaico, um chão que, visto a proximidade com a cidade de Cafarnaum, pode ter sido pisado por Jesus.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 11-06-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/zDKwf0 |
Estamos falando de Migdal (ou Magdala, em aramaico), cidade citada em Talmude como “Magdala dos peixes”, mencionada por Flavio Josefo, por sua posição estratégica na “Via Maris”, ou o “Caminho do Mar”, que unia o Egito a Damasco, e lugar do nascimento de Maria Madalena, a mulher seguidora de Jesus, um dos primeiros testemunhos de sua ressurreição citado nos Evangelhos. Aqui acaba de ser inaugurado um sítio arqueológico (foto) encontrado no início de 2004, quando o padre Juan Solana, diretor do centro Notre-Dame de Jerusalém, albergue de peregrinos da Santa, comprou os terrenos nas margens do lago para fazer outro albergue parecido. Os trabalhadores começaram em 2009, derrubando as cabanas do Hawai Beach, um complexo turístico construído em 1960 para erguer, em seu lugar, um albergue com capacidade para 300 pessoas, um restaurante e um centro de espiritualidade que favorecesse a oração e a contemplação, localizados as margens do lago onde aconteceram os episódios mais importantes da vida e a pregação de Jesus.
Na parte onde se construía o centro de acolhida não foi encontrado nada. Contudo as sondagens feitos em um terreno próximo, que no projeto deveria ser destinado a uma capela ecumênica e um grande jardim, acabaram por revelar algo imprescindível: uma cidade inteira. Diferentemente da região vizinha, de propriedade da Custódia da Terra Santa, onde foram encontrados os restos mortais de Madalena, na área que permaneceu enterrada quase dois mil anos, tudo parece ter parado no século I.
“Têm-se uma hipótese de uma enchente – explicado o padre Solana ao Vatican Insider – dado que temos em nossas costas o monte Arbel que está bastante inclinado em nossa direção. Uma enchente que maltratou parte da nossa cidade, ao contrário da outra que foi descoberta pela Custódia da Terra Santa. Por isso tudo aqui permaneceu como era na época, enquanto que, na outra parte, a vida continuou”.
“No pavimento da sinagoga – acrescenta o sacerdote mexicano – encontramos uma moeda do ano 29 e, há poucos dias, em uma pequena rua que leva ao antigo lugar de oração judeu, encontramos outra belíssima moeda do ano 33”. A joia do sítio arqueológico é a sinagoga, que surge na esquina noroeste da cidade e é formada por uma sala principal, uma sala dedicada à escola e uma menor na qual está conservado o Torá, junto a outras habitações destinadas a residência do rabino daquela época.
“Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino (...)”. Isto é lido em Mateus 4,23. E, por isso, visto a proximidade da escavação com Capernaum, onde viviam Pedro e André e onde também viveu Jesus, a sinagoga de Madalena, que acaba de ser descoberta foi, com toda a probabilidade, o palco dos ensinamentos de Nazaré.
“A sinagoga também foi vítima do dilúvio, ou foi sepultada e abandonada em 66/67 depois de Cristo – afirma o padre Solana – quando os habitantes de Madalena e os rebeldes foram massacrados pelos romanos”. Os trabalhos de escavação são obra dos arqueólogos de Israek Antiquities Authority, coordenado por Dina Avshalom-Giorni e Arfan Najar, e por Marcella Zapata, que representa a Universidade Anáhuac do Sul e a UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México).
A descoberta mais importante é a grande pedra esculpida que servia de altar, onde apoiava-se o Torá para ser lido e comentado. Essa pedra parecia representar o segundo Templo de Jerusalém e algo que ainda nunca havia se visto. Além disso, representa um Menorah diferente do que está talhado no Arco de Tito em Roma, sempre atribuível ao Templo”.
De fato, a arqueologia israelense Rina Talgam, especialista em arte hebraica antiga, acredita que esta representação em miniatura do Templo, inédita para o judaísmo antigo, possa ter sido influenciada pela primeira comunidade cristã. Na pedra, além da Menorah com sete braços e das jarras com vinho e azeite de cada lado, foram esculpidos uma roseta composta por doze folhas e carros de fogo.
“A sinagoga, onde permanecem em pé pedaços do muro com 80 centímetros, foi decorado com afrescos no ano 40 – acrescenta o padre Solana – e sabemos isso devido as moedas encontradas debaixo do molde”. Afrescos e mosaicos parecem indicar uma tendência ocidentalizadora, que pouco se adapta, explica o sacerdote mexicano, “com as características da população de Magdala, assim como vem descrita nas crônicas, composta por fanáticos e rebeldes que buscavam contestar a dominação romana”.
Todo um quarteirão da cidade de Magdala, que acaba de ser descoberto, foi habitado por famílias de pescadores. Os escravos descobriram muitas ferramentas típicas da pesca e do processamento do pescado, que era vendido nos mercados de Roma. O nome grego de Magdala, “Tariquea”, significa “planta de secagem”. “Encontramos a área na qual faziam a salgadura”, disse Solana. Também descobriram um edifício público com chão de pedra e dois banhos rituais com um mosaico”.
Assim, o que deveria ter sido apenas um grande centro de acolhida, de espiritualidade e descanso para os peregrinos na Galileia, com uma igreja dedicada a Maria Madalena, transformou-se também em um lugar de forte atração arqueológica. Mesmo que não se tenha encontrado nenhuma casa onde se possam ver sinais de um culto específico, como a causa do evento que parou o relógio da história nesta parte de Magdala, o fato de que aqui nasceu a mulher mais famosa que seguiu Jesus, de alguma forma, faz deste lugar um lugar também “santo”.
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A cidade de Maria Madalena como era nos tempos de Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU