Por: Caroline | 22 Mai 2014
“Em Betânia [tradicionalmente identificada como de al-Eizariya, na atual Cisjordânia] uma mulher muçulmana irá descrever ao Papa a experiência dos prófugos da Síria. E depois dela, um cristão iraquiano também irá falar. Sim, porque (mesmo que ninguém mais fale disso) aqui na Jordânia ainda há 500 mil prófugos iraquianos. E também falará que seu país é um lugar onde se continua morrendo, como na Síria”.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada por Vatican Insider, 21-05-2014. A tradução é do Cepat.
Na Terra Santa que espera o Papa Francisco, há uma vigília que não tem tempo para palcos nem bandeiras: é daqueles que se viram obrigados, devido a guerra, a abandonar suas casas. Como conta Wael Suleimán diretor da Cáritas Jordânia e leigo dos Focolares de 10 anos que há três anos se ocupa cotidianamente das histórias e tragédias dos que fogem da Síria. Justamente nesses dias, que antecedem a chegada do Papa Francisco, chegou a Amã o presidente da Cáritas Internacional, o cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, acompanhado pela organização que engloba os entes beneficentes das conferências episcopais de todo o mundo. Eles estão analisando a situação de emergência na Síria, mas também as dramáticas feridas que ainda estão abertas. A Cáritas está ativa na Jordânia desde 2012, com os campos para os prófugos de Mafraq e o de Zarqa.
“Quantos são os prófugos sírios na Jordânia? Os dados do governo indicam 1.350.000 pessoas – responde Suleimán. Contudo não pode compreender profundamente o que significa para nós, os jordanianos, esta história se não levarem em conta todo o restante. Porque em meu país primeiro chegaram os prófugos palestinos, em 1967. Depois os libaneses nos anos 80 e os iraquianos nos anos 90. E vocês sabem que nos últimos dois anos os egípcios com vistos de trabalho duplicaram-se? Sim, havia um acordo entre nossos países e muitos dos que escaparam do Cairo, devido à violência, vieram para cá”.
Por este motivo, a delegação de cerca de quatrocentas pessoas que se reunirá com o Papa em Betânia (o sítio arqueológico onde se relembra o Batismo de Jesus) também irá incluir os pobres e deficientes da Jordânia. De fato, é quase impossível distinguir a fronteira entre os diferentes sofrimentos. “Diz-se: vocês, os jordanianos, não tiveram a guerra, e é certo - continua o diretor da Cáritas da Jordânia. Contudo todas as devastações provocadas pelos conflitos nos países vizinhos tiveram repercussões muito fortes entre nós. Penso, por exemplo, nas escolas, nas quais hoje temos 50 alunos por sala, ou nas enormes dificuldades para garantir a água ou eletricidade para todos. A Jordânia também está sofrendo. E nos perguntamos: qual é o futuro de nosso país?”.
Em Betânia as pessoas esperam uma palavra de esperança do Papa. O encontro com os pobres será realizado em uma Igreja que ainda está em obras. O reino da Jordânia quer pensar nos peregrinos cristãos, concedendo a cada confissão a possibilidade de construir uma nova Igreja; as latinas, cuja primeira pedra foi colocada por Bento XVI, em 2009, tem apenas as paredes essenciais, mas em janeiro o Patriarca latino de Jerusalém, mesmo que ainda não esteja finalizada, presidiu a liturgia anual de peregrinação cristã à Jordânia, na festa do Batismo de Jesus. Este lugar provavelmente se tornará um símbolo da reconstrução humana que os prófugos e os pobres buscam hoje em todas as periferias do mundo. “Muitos dos cristãos da Síria que recebemos aqui nos perguntam: ‘Deus ainda existe? ’. É uma pergunta – afirmou Suleimán – que contém todo seu desespero. E também a dificuldade que temos para dar uma resposta hoje”.
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“Deus ainda existe?”, perguntam os prófugos sírios ao Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU