07 Março 2014
"A eleição deste ano no Rio Grande do Sul colocará em campos opostos os irmãos João Pedro Stédile, um dos principais líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e José Luiz Stédile, deputado federal pelo PSB gaúcho", escreve Fábio Brandt, jornalista, em artigo publicado no jornal Valor, 06-03-2014.
Eis o artigo.
A eleição deste ano no Rio Grande do Sul colocará em campos opostos os irmãos João Pedro Stédile, um dos principais líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e José Luiz Stédile, deputado federal pelo PSB gaúcho. O primeiro estará com o PT.
Deve apoiar a reeleição de Dilma Rousseff para presidente da República e já confirmou apoio à reeleição de Tarso Genro para governador do Estado. O segundo caminhará com a oposição. Fará campanha para o presidente de seu partido, Eduardo Campos, chegar ao Palácio do Planalto. E, na eleição gaúcha, é o nome mais cotado para ser candidato a vice-governador da principal adversária de Tarso Genro, a senadora Ana Amélia Lemos, do PP.
A proximidade familiar entre os irmãos nunca se repetiu na política. O mais velho, João Pedro, é formado em economia. Fez pós-graduação no México e preferiu participar de movimentos sociais do campo a entrar num partido político. José Luiz, eletricista, preferiu fazer política pela via partidária. Chegou à Câmara dos Deputados em 2011 para um mandato que terminará em janeiro de 2015.
"É normal o movimento que está atrelado ao Partido dos Trabalhadores apoiar o Partido dos Trabalhadores. Me estranharia se ele [João Pedro] me apoiasse", disse ao Valor o deputado Stédile sobre o irmão. "Esse é um problema dos movimentos sociais e dos sindicatos: estarem atrelados aos partidos", afirmou.
João Pedro não fala tão abertamente sobre a relação com o irmão. Sua assessoria afirmou que ele não daria entrevista a respeito desse assunto. "O irmão dele não tem nenhuma relação com o MST, nunca teve nenhuma ligação. No processo da vida cada um teve um caminho", disse a assessoria. "Ele [João Pedro] vai fazer campanha de forma muito empolgada para o Tarso Genro."
Algumas sutilezas do dia a dia também pontuam as diferenças entre os irmãos. Em fevereiro, por exemplo, o MST convidou todos os partidos situados à esquerda no espectro político para participarem de seu 6º Congresso Nacional, em Brasília. Para o PSB, pediu que não enviasse seu presidente nacional, Eduardo Campos, para não passar uma mensagem errada e dar a entender que vai apoiá-lo contra Dilma. Pediu então que a sigla fosse representada pela deputada Luiza Erundina (SP). José Luiz Stédile, irmão do líder do MST, foi descartado pelo movimento.
O Stédile caçula também recebe críticas dos adversários por conta da aproximação com Ana Amélia e com o PP - uma sigla que, apesar do nome "Partido Progressista", tem feito história como defensora de valores e políticas conservadoras. "Quem tem nos acusado disso fez aliança com o Maluf [Paulo Maluf, do PP] em São Paulo. Com o Collor [Fernando Collor, ex-presidente da República], com o Sarney [José Sarney, ex-presidente da República]. O PT, quando é para apoiá-lo, não fala nada dos partidos. Mas quando é para apoiar os outros, aí tem problema", disse o deputado.
Apesar de diálogos com o PDT e com o PMDB, o deputado Stédile acredita que a tendência do PSB é se aliar com Ana Amélia. As outras siglas, explicou, têm compromisso com Dilma, enquanto o PP não está tão vinculado à atual presidente. "A nossa aliança com a Ana Amélia representa a possibilidade de um acordo da sociedade gaúcha para enfrentar o problema do déficit das contas públicas, da renegociação da dívida com o governo federal", afirmou.