03 Março 2014
Num par de sábados chuvosos, no final do mês de fevereiro, sempre me encontro nalguma sala de cinema. Pode parecer loucura passar 12 horas a fio num lugar desses, em dois sábados seguidos, mas particularmente adoro ver, de uma vez só, tudo o que Hollywood considera ser os melhores filmes do ano.
O artigo é de Rejane Cytacki, publicada por National Catholic Reporter, 28-02-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Rejane Cytacki é membro da ordem das Irmãs da Caridade e trabalha com educação ambiental na Universidade de St. Mary, em Leavenworth, no estado americano do Kansas. É formada em Antropologia, pela Universidade de Notre Dame; em Educação Fundamental, pela Universidade de Kansas; e em Alfabetização, pela Universidade St. Mary de Woods.
Eis o artigo.
Além disso, assistir a estas produções numa tela grande maximiza os impactos emocionais e visuais, e vê-los junto de outras pessoas faz da experiência algo comunitário. Também gosto de ver todos os filmes de uma só vez, porque aí emergem temas comuns. Neste ano, percebi que a Academia escolheu filmes que se focalizaram no tema da justiça e na forma como as pessoas mantêm as esperanças perante as adversidades. Três filmes indicados para a categoria de Melhor Filme (e para muitos outros prêmios) lançam uma luz transformadora sobre questões históricas modernas, que vão de mães solteiras a HIV/Aids e escravidão.
Começando pelo filme “Philomena”, assistimos à jornada de uma mulher curvada pela tristeza e com autoaversão resultante da perda de seu filho advinda de uma adoção forçada. Ao mesmo tempo, ela mantém esperanças de que irá encontrá-lo um dia. Uma cena poderosa dela, passada num confessionário, é ponto crucial no filme. Todas as suas emoções contidas derramam-se em lágrimas de raiva e tristeza: ela se vê sem palavras diante do sacerdote. É o momento para ela se dar conta de que faz parte de um sistema societal e de Igreja maior que tem colocado o fardo injusto de culpa e pecado em mães solteiras adolescentes. Iluminada, ela tem a coragem de se levantar e partilhar sua história pessoal com o mundo. Judi Dench é indicada à categoria de Melhor Atriz por sua interpretação de Philomena Lee, a mulher da vida real destacada na trama.
Matthew McConaughey está concorrendo na categoria de Melhor Ator por seu papel principal em “Clube de Compras Dallas”. Trata-se da história de Ron Woodroof, um eletricista de quinta categoria que vive num mundo reduzido a bebidas, sexo e jogos de azar durante os anos 1980. Quando contrai HIV/Aids, perde seu emprego e amigos, mas percebe que não quer morrer. Sua resiliência o leva para o México onde encontra um médico compassivo e heterodoxo que restaura suas esperanças na vida. Os dois reconhecem a proibição rigorosa que o Departamento de Alimentos e de Drogas americano tem sobre drogas específicas que poderiam salvar a vida de pessoas na mesma situação.
Noutra cena emocionante, Ron está explorando o laboratório do doutor: ele fica em pé parado, põe-se de braços estendidos e se cobre de borboletas. Neste momento, ele expande sua luta pessoal pela vida para ajudar, de modo compassivo, outros em situação semelhante. Ele usa o sistema judicial para driblar a regras do departamento americano e buscar justiça aos que lutam para sobreviver sendo soropositivos.
Desempenando o papel principal em “12 Anos de Escravidão”, Chiwetel Ejiofor está concorrendo com McConaughey (e outros dois) para a estatueta de Melhor Ator. Como em “Philomena”, o script é baseado num livro. Aqui vemos um negro livre sequestrado e forçado a entrar numa filosofia de vida que a ele é completamente degradante. Acaba perdendo tudo o que lhe é valioso, incluindo seu nome, Salomão. A sua força interior e esperança é se unir novamente com sua família, que o mantém ileso perante um sistema escravocrata. A sua capacidade de resistência para sobreviver lhe dá coragem para pedir por justiça.
Às vezes as melhores histórias de esperança e justiça vêm de heróis e heroínas da vida real. Todos estes três filmes se baseiam em histórias reais, e que testemunhos poderosos para a força do espírito humano eles constituem. Saí da sala de cinema verdadeiramente inspirada. Não importa qual deles venha ser premiado, eu recomendo a assistir a cada um eles.
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Indicações ao Oscar dão preferências para temas de esperança e justiça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU