24 Janeiro 2014
A má notícia é que a polícia italiana responsabilizou um monsenhor local por usar o Banco do Vaticano para lavagem de dinheiro. A boa notícia é que a polícia italiana responsabilizou um monsenhor local por usar o Banco do Vaticano para lavagem de dinheiro.
O comentário é de Thomas Reese, jornalista e jesuíta, em artigo publicado no por National Catholic Reporter, 22-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A reputação vaticana vem sendo manchada há décadas por escândalos financeiros; isso remonta pelo menos até o escândalo do Banco Ambrosiano no início da década de 1980. Mais recentemente, os documentos vazados do escritório do Papa Bento XVI há dois anos continham acusações de corrupção financeira no Vaticano.
O monsenhor Nunzio Scarano é o mais recente entre os escândalos. Foi preso pela primeira vez ao tentar contrabandear 20 milhões de euros vindos da Suíça para amigos construtores navais em Salerno. Este caso envolveu um jato particular, um financista e um ex-funcionário do serviço secreto. Embora isso nada tenha a ver com o Vaticano, a polícia e a Santa Sé começaram a investigar os precedentes de Scarano já que ele trabalhava na Administração do Patrimônio da Sé Apostólica – APSA, o escritório financeiro do Vaticano, e tinha uma série de contas no Banco do Vaticano, formalmente conhecido como o Instituto para as Obras de Religião.
Após um ano de investigação, o que encontraram? Parece que Scarano tem cerca de 5 milhões de euros em contas bancárias do Vaticano e da Itália, mais dois apartamentos e uma empresa imobiliária. Um apartamento tem 17 quartos e uma coleção de arte no valor de 6 milhões de euros. Num único esquema, ele supostamente tirou 590 mil euros em dinheiro de uma conta no Banco do Vaticano e dividiu entre 50 amigos que, então, deram a ele cheques de bancos italianos, que ele usou para pagar a penhora.
Nos maus velhos tempos, o Vaticano iria ignorar, recusar a responder e a lidar com a questão internamente. Poder-se-ia formar um comitê de cardeais para investigar o problema e reformas prometidas, mas nada iria acontecer.
Hoje, as coisas mudaram. Essa é a boa notícia. Elena Guarino, a juíza magistrada que conduziu a investigação, contou à agência de notícias Reuters que o Vaticano cooperou plenamente e lhe passou muitas informações sobre as movimentações bancárias de Scarano. No ano passado, o Vaticano congelou duas de suas contas contendo 2 milhões de euros.
Embora seja o Papa Francisco quem vem recebendo os créditos pela limpeza nas finanças vaticanas, é Bento XVI quem merece grande parte deles. Foi este papa que decidiu que o Vaticano tinha que observar padrões internacionais postos pela Moneyval, a agência europeia responsável por combater a lavagem de dinheiro e o terrorismo financeiro. Em outras palavras, Bento determinou que o Vaticano estivesse sujeito ao escrutínio externo, algo considerado um anátema há décadas.
O Papa Francisco continuou as reformas propostas por Bento XVI à força, substituindo o diretor do banco e outros, exceto um dos cardeais do conselho que falhou na supervisão correta do banco. Ele também trouxe especialistas, incluindo contadores forenses, para examinar a instituição financeira. A APSA é a próxima da lista.
A reação da velha guarda vaticana já está se mostrando nas histórias da mídia, reclamando do dinheiro que está sendo pago para contadores externos (não italianos) trabalharem na limpeza das finanças. Como Judas, eles estão dizendo: “Esse dinheiro não deveria estar sendo dado aos pobres?”
Não se surpreenda se ouvir mais sobre escândalos financeiros no Vaticano. Deveremos considerá-los ótimas notícias, porque significará que as pessoas estão sendo pegas e que as reformas estão dando certo.
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Responsabilização por lavagem de dinheiro no Vaticano é um passo na direção certa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU