Por: André | 15 Janeiro 2014
Pela primeira vez na história, o Comitê dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU) citou para comparecer, em Genebra, Suíça, autoridades da Igreja católica para que respondam pelas centenas de abusos sexuais cometidos por seus sacerdotes contra menores de todo o mundo.
Fonte: http://bit.ly/1eG6fk1 |
A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 13-01-2014. A tradução é de André Langer.
O jornal espanhol El País destaca, em uma reportagem publicada na segunda-feira, que o comparecimento – que deverá acontecer nesta quinta-feira – é “histórico”, já que nenhum organismo internacional se havia atrevido a questionar a Santa Sé.
O texto do jornal, assinado pela jornalista Inés Santaeulalia, diz que organizações e vítimas estadunidenses, europeias e mexicanas aproveitaram a ocasião para fazer chegar ao Comitê em Genebra relatórios com suas denúncias e numerosos casos documentados de pederastia.
O México, que apresentará mais de 200 incidentes particulares, reuniu 169 organizações e cidadãos, alguns deles vítimas, que solicitam que o caso seja tratado como “um crime de Estado” e que o Vaticano seja julgado pelas Nações Unidas, embora isso só poderá ocorrer em outro processo, já que o Comitê limita-se a fazer uma avaliação.
“‘Padre, sorte com a ONU’, dizia no último sábado uma pessoa ao ex-sacerdote mexicano Alberto Athié no bairro de Coyoacán, ao sul do Distrito Federal. Athié chegou nesta segunda-feira a Genebra para reunir-se com alguns dos relatores do Comitê antes da quinta-feira.”
“O ex-sacerdote que abandonou o hábito depois que o México e Roma descartaram suas denúncias sobre o fundador dos Legionários de Cristo, o mexicano Marcial Maciel, reconhecido como pederasta pela própria Igreja anos depois, acredita que Genebra oferece ‘uma oportunidade histórica’ para que se faça justiça. ‘A Igreja é responsável porque houve indicações da máxima autoridade para proteger os abusadores e encobrir a pederastia, o que multiplicou e prolongou os casos”, disse Athié ao jornal espanhol.
O caminho para Genebra, expõe a reportagem, começou em 1990, quando a Santa Sé assinou como Estado a Convenção sobre os Direitos da Criança.
O Tratado obriga todos os assinantes a apresentar relatórios quinquenais sobre o cumprimento dos artigos em seus países, mas o Vaticano não cumpriu. Entregou apenas um primeiro relatório em 1995 e não voltou a fazer outro até 2011, quando os escândalos de pederastia já haviam atingido de frente a instituição.
“Em todo o documento não há uma única menção aos abusos sexuais”, afirma Athié na entrevista ao El País.
O Comitê aproveitou, em julho passado, a entrega atrasada do relatório para questionar a Igreja pela primeira vez na história. Solicitou, entre outras coisas, “informação detalhada de todos os casos de abusos sexuais cometidos por clérigos, monges e monjas ou postos em conhecimento da Santa Sé”, acrescenta o jornal.
O Vaticano, em sua resposta, tornada pública no começo de dezembro passado, não cita casos concretos e alega que a investigação corresponde aos países nos quais os crimes são cometidos. “Quando a Santa Sé concordou em ratificar o Tratado, não o fez em nome de todos os católicos do mundo. Cada membro da Igreja católica está sujeito às leis do país em que vive”, afirma o documento.
A explicação não convence as organizações nem as vítimas, que lutam há anos para demonstrar a responsabilidade da instituição no encobrimento e proteção dos pederastas e no desamparo das vítimas. O escândalo de uma conduta que se mostrou recorrente em todo o mundo saltou à luz pública no começo do século XXI graças a uma investigação jornalística nos Estados Unidos, mas o tema dos abusos já era mencionado no interior da Igreja fazia décadas.
“Uma instrução de 1962 obrigava todos os seus membros a guardar silêncio sobre os casos, sob pena de excomunhão, e, embora o documento tenha sido modificado ao longo dos anos, a essência se manteve inclusive na revisão de 2001: diante de casos de abusos sexuais, segredo absoluto”, expõe a jornalista Santaeulalia.
“Assim se procedeu em todos os países, isso é uma bomba. O padre abusador era transferido de lugar para não criar um escândalo ou lhe era oferecido acompanhamento psicoterapêutico durante um tempo para reintegrá-lo novamente. Nunca ninguém disse aos bispos para que denunciassem os casos à justiça”, denuncia Athié.
O documento das organizações mexicanas detém-se especialmente na figura do fundador dos Legionários de Cristo. “No caso de Maciel, o encobrimento é mais explícito porque houve uma intervenção do papa João Paulo II”, acrescenta. Em 1994, depois de várias denúncias internas, o então pontífice nomeou Maciel líder da Juventude.
No documento enviado a Genebra também se exige que a Santa Sé interrompa o processo de canonização do polonês Wojtyla.
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A ONU exige o comparecimento do Vaticano para responder sobre os abusos sexuais do clero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU